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Inflação afeta renda do brasileiro e dificulta queda da inadimplência

Com a disparada dos preços, solução encontrada pelas famílias foi assumir novas dívidas, ampliando risco de calote num cenário de alta dos juros 

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

A inadimplência do consumidor patina e recua em ritmo lento nos últimos meses porque a disparada da inflação acabou achatando a renda das famílias, especialmente as mais pobres e que gastam mais com alimentos. Para manter o padrão de consumo, a saída encontrada pelas famílias foi assumir novas dívidas. Isso amplia o risco de inadimplência futura num cenário de alta da taxa de juros. 

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O índice de calote dos empréstimos com recursos livres do sistema financeiro fechou o ano em 8%, segundo o Banco Central (BC). Em março, o último dado disponível, a inadimplência tinha recuado para 7,6%. A expectativa do economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, era que a inadimplência recuasse para a média histórica, que é 7,3%, em outubro deste ano. Agora acredita que essa marca será atingida só em dezembro.

Mais cético do que Bentes, o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, já considera a hipótese de que o calote volte para o nível histórico no primeiro semestre de 2014.

Flávio Calife, economista da Boa Vista Serviços, também viu suas projeções sobre o recuo da inadimplência serem frustradas. Ele projetava que o indicador caísse para 7,3% no fim de 2012, o que não ocorreu. Ele refez as projeções e considera que o calote encerre 2013 em 7,2%.

Para Bentes, da CNC, e Fernanda Della, assessora econômica da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), o principal fator que atrasou a queda da inadimplência foi o aumento da inflação, em especial dos alimentos.

Sincronia. Fernanda ressalta que há uma sincronia entre a escalada inflacionária, o aumento do endividamento e a resistência da inadimplência ocorrida nos últimos meses. Em abril, por exemplo, quando pelo segundo mês seguido a inflação acumulada em 12 meses medida pelo IPCA ficou perto do teto da meta de 6,5%, a fatia de famílias endividadas na cidade de São Paulo deu um salto. No mês passado, 57,1% delas estavam endividadas. Esse índice é o maior desde junho de 2006 (57,4%), aponta Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Fecomércio. Fernanda destaca que em um mês, de março para abril, a fatia de famílias endividadas subiu cinco pontos.

"Além do número de famílias com dívidas ter crescido, o nível de comprometimento da renda com dívidas aumentou", diz a economista. Em janeiro, 14,9% das famílias tinham mais de 50% da renda comprometida com dívidas. Em abril, esse índice tinha subido para 19,5%. "Para manter o padrão de vida, pressionado pela alta da inflação, as famílias acabam entrando em mais dívidas", diz Fernanda.

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A contabilista Marta Oliveira da Cruz, que está inadimplente, sentiu nos últimos meses o impacto do aumento da inflação no orçamento, o que está dificultando quitar as pendências do passado. "O meu salário não está estagnado. Mas, ao mesmo tempo que aumenta o salário, aumenta o preço dos mantimentos no supermercado." Com renda mensal de R$ 3,6 mil, ela gasta R$ 1,2 mil com prestações renegociadas, R$ 1 mil com a escola da filha e sobra pouco para as despesas diárias. Apesar desse aperto, ela não quer fazer mais empréstimos. "Tenho trauma de empréstimo: é dinheiro jogado fora."

Fernanda diz que o que preocupa é a inadimplência futura. "O calote que não cede, o endividamento em ritmo crescente e o achatamento da renda por causa da inflação são três fatores que assustam. O que atenua é o baixo desemprego." 

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