PUBLICIDADE

Investidor que apostou em ações das ‘big techs’ sofre com mercado ruim

Recibos das gigantes tecnológicas dos EUA são opção de pequenos aplicadores desde 2020; brasileiros têm R$ 23 bilhões aplicados

Por
Atualização:

A liberação, em outubro de 2020, para que os pequenos investidores pudessem aplicar recursos em BDRs – recibos que representam ações de empresas listadas nas Bolsas do Estados Unidos – acelerou a busca de brasileiros por ativos ligados às gigantes de tecnologia. Porém, o que inicialmente foi visto como uma opção para diversificar a carteira se transformou em risco, diante do mau momento dos papéis das “big techs” lá fora. 

Isso porque, depois de vários anos com os negócios batendo recordes sucessivos de alta nos mercados americanos, hoje o movimento é de baixa, puxado especialmente por empresas como Netflix, Meta e Spotify.

Na Bolsa de Nova York, o Nasdaq, índice que concentra as empresas do setor de tecnologia, cai quase 12%. Foto: Brendan McDermid/Reuters - 26/2/2022

PUBLICIDADE

O problema das companhias de tecnologia pode ser percebido pela diferença do comportamento dos principais índices da Bolsa de Nova York. Enquanto o S&P 500, que reúne as maiores empresas listadas nos EUA, acumula uma desvalorização de 8% em 2022, a Nasdaq, que é dominada por empresas de tecnologia, tem queda de quase 12%.

Muitos brasileiros foram atingidos pela onda. Segundo a B3 (a Bolsa brasileira), o número de investidores com BDRs cresceu 151% em 2021, totalizando 306,1 mil pessoas. Em janeiro, houve uma nova alta, de 6%, chegando a 325 mil pessoas. Esse público tem investidos cerca de R$ 23 bilhões nesses recibos. Quando o número atual de aplicadores é comparado com o de outubro de 2020, mês em que os ativos foram liberados para todo o mercado, o crescimento ultrapassa a marca de 10.000%. 

De acordo com especialistas, esse cenário de retração não deve mudar no curto e médio prazos. O principal motivo é a perspectiva de alta dos juros nos EUA. Com a inflação local disparando, o Federal Reserve (o Banco Central americano) indicou uma série de aumentos nas taxas nos próximos meses. Com isso, o dinheiro fica mais caro e escasso, fazendo as empresas que precisam captar recursos para financiar seu crescimento passar por dificuldades.

Modelo questionado

Aí entra o principal problema para muitos negócios de tecnologia: grandes investidores estão começando a questionar a ideia de crescimento acelerado sem rentabilidade. “Passou a época em que os investidores aceitavam essas teses, e essas empresas estão sendo mais questionadas. Vemos algumas já se movimentando, como foi o próprio Facebook mudando o nome para Meta para mostrar o caminho que pretende seguir a partir de agora”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos

Publicidade

E a queda deve persistir por algum tempo, segundo analistas. A XP fez uma estimativa de que, caso os juros reais de 10 anos nos EUA saiam do patamar atual (-0,5%) para zero, a Bolsa americana deve cair mais 15%, tendo as empresas de tecnologia como as principais afetadas. “É uma situação um tanto quanto delicada: ou as empresas voltam a entregar crescimento no ritmo que vinham fazendo anteriormente ou, então, precisarão melhorar a sua rentabilidade para conseguirem atingir seus valores anteriores”, afirma Rodrigo Lima, analista da Stake.

A maior parte das grandes empresas de tecnologia vale hoje menos do que no fechamento de 2021, mas algumas sofrem mais do que as outras. Netflix e Spotify, por exemplo, desabaram mais de 30% desde janeiro. A Meta viu suas ações caírem 25% num único dia, após anunciar que o Facebook havia perdido usuários pela primeira vez na história, além de um prejuízo bilionário em sua unidade de realidade virtual. 

André Kim, analista e sócio da Geo Capital, alerta que quem não está preparado para a volatilidade deve evitar esses ativos. Mas, para o investidor que olha o longo prazo, pode ser uma boa hora para entrar. “A Meta, por exemplo, está sendo negociada por múltiplos (métrica que o mercado utiliza para comparar o preço da ação e as variáveis operacionais) muito mais baixos do que os da Alphabet (dona do Google)”, diz. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.