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Ipea defende inflação temporária em prol do crescimento

Economista elogia a estratégia do governo de aumentar a taxa de crescimento ao custo de um pouco mais de inflação

Por Sabrina Valle
Atualização:

O coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg, afirmou que não há na economia brasileira fundamentos para descontrole inflacionário e que é necessário passar por um período temporário de inflação maior para viabilizar um crescimento elevado e sustentável do Produto Interno Bruto (PIB). "Pela primeira vez estamos perto de abandonar a lógica do voo de galinha. Abandonar a lógica do baixo crescimento com repressão inflacionária que se tornou a palavra de ordem desde o Plano Real", disse Messenberg, na divulgação do boletim Conjuntura em Foco, do Ipea, no Rio de Janeiro.O economista elogia a estratégia do governo de aumentar a taxa de crescimento ao custo de um pouco mais de inflação. Segundo Messenberg, uma política de juros crescentes para reduzir a inflação através da restrição ao crescimento da economia, até hoje padrão, poderia atrapalhar as medidas macroprudenciais adotadas pelo governo. Isso ocorreria pois, apenas com o aumento dos juros, haveria uma enxurrada de capital externo, o que levaria à apreciação da moeda e ao aumento do crédito, pressionando a inflação. "Quanto mais contenção fiscal for feita, menos as medidas macroprudenciais vão funcionar, não são medidas complementares", disse.Para o economista, há uma histeria com a inflação por parte das instituições financeiras, que estariam descontentes com as medidas macroprudenciais do governo. O descontentamento vem do fato de o aumento do compulsório e as restrições ao crédito gerarem lucros menores para os bancos, diz ele. Por outro lado, a antiga política do Banco Central (BC) de repressão inflacionária com baixo crescimento seria mais rentável, acrescenta.O especialista prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência pelo governo, deve ficar dentro do teto da meta de inflação de 6,5% este ano e se aproximar do centro (4,5%) em 2012. E lembra que itens como serviços e etanol, que vinham pressionando a inflação nos últimos meses, já apresentam sinais de queda nas taxas.Messenberg acredita que não há um processo inflacionário descontrolado, e sim uma mudança relativa de preços, com a melhora do nível econômico da população. Trabalhadores que atingem um determinado patamar de renda e consumo reduziriam sua carga horária, levando a uma oferta menor de serviços e, consequentemente, a um aumento dos preços. Ele cita o caso de médicos ou empregadas domésticas que podem ter decidido trabalhar menos diante de uma remuneração melhor. "A empregada pensa: tenho celular, já comprei bens, agora posso deixar de trabalhar tanto. E o médico pode decidir ir menos ao consultório", exemplifica.

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