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Leilão contrata mais energia que a demanda prevista

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

O quarto leilão de energia nova realizado nesta quinta-feira contratou 101,8 por cento da demanda prevista pelas distribuidoras, informou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A demanda no leilão era de 1.281 megawatts médios, mas foram contratados 1.304 MW médios --equivalentes a 171,47 milhões de MWh. Toda a quantidade foi ofertada por 12 térmicas a óleo. Não houve interesse de térmicas a gás, biomassa e de hidrelétricas. A contratação de mais energia ocorreu porque a última usina a vender no leilão, a de Borborema, teve a sua oferta integralmente comprada, apesar de a demanda total ter sido atingida com apenas uma parte da oferta desse empreendimento. Como se trata de uma usina nova, as regras do leilão prevêem que, assim, ela tenha toda a sua oferta adquirida, informou o presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Antônio Carlos Fraga Machado. "Por isso que passou um pouco da quantidade demandada, que era de 1.281 (MW médios)", disse o dirigente do órgão que realiza o leilão. O leilão negociou energia proveniente de termelétricas pelo valor médio de 134,67 reais por megawatt/hora (MWh), ante valor de 137,44 reais para esse tipo de geração registrado no leilão do ano passado. O valor transacionado na operação desta quinta-feira foi de 23,09 bilhões de reais. "O leilão foi um sucesso absoluto, atendeu mais do que 100 por cento da demanda, fiquei surpreso com a redução de preço, que foi acentuada. Achei que ficaria perto dos 140 (reais por MWh, teto estabelecido pelo governo)", disse o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. "No leilão prevaleceu a competição...Mostra que podemos ter térmicas a óleo muito competitivas no Brasil, que é um preço que outras fontes de energia não estão dando. Essa baixa dos preços das térmicas a óleo vai forçar que outras térmicas baixem os seus preços, caso contrário elas ficarão fora da oferta", declarou o presidente da EPE. Para ele, o resultado "demascarou" o argumento daqueles que queriam que o governo elevasse o preço de energia térmica. O analista da Àgora Corretora Alexandre Hulm também considerou o leilão positivo para o setor. "Mostra que a tendência de preço futuro da energia é de alta, o que vai viabilizar a construção dos empreendimentos, é bem positivo", afirmou após o leilão. Segundo ele, o preço médio da energia gira em torno dos 80 reais o megawatt/hora. O presidente da EPE destacou ainda que as atuais térmicas a óleo são muito mais eficientes e menos poluentes do que as utilizadas durante o período do apagão energético. "Naquela época, veio a sucata do mundo para cá, agora é o que tem de top", disse ele. Mesmo assim, Tolmasquim salientou que a vocação brasileira é a de ter a matriz baseada em energia hidrelétrica. Mas no caso do leilão desta quinta-feira, no qual a maioria das empresas é do Nordeste, a energia térmica é uma solução, avaliou, considerando que os nordestinos não "têm mais aproveitamento hidrelétrico." Para ele, além da maior competitividade, as regras previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e as condições especiais de financiamento dadas pelo BNDES para as térmicas a óleo estão entre os fatores que estimularam a participação dessas empresas no leilão, sem falar da queda das taxas juros. HIDRELÉTRICAS Tolmasquim afirmou que o modelo do leilão desta quinta-feira (A-3) é tipicamente térmico, e considerou a ausência das hidrelétricas previstas, que poderiam ofertar energia a um menor custo, como algo positivo. Segundo ele, a não participação das hidrelétricas, significará mais energia disponível para depois de 2010, ao mesmo tempo em que o Brasil já se garantiu com térmicas. "Ganhamos duas vezes." Ele lembrou que a principal geradora hidrelétrica que participaria, a de Serra do Facão, só ficará pronta no segundo semestre de 2010, e que, provavelmente, por isso, os empresários decidiram não participar do leilão A-3 --os contratos de suprimento têm início em janeiro de 2010. Este foi o caso também da Suez Energy Brasil, que iria participar com a fatia que possui no projeto de Estreito, no Maranhão, mas preferiu aguarda o próximo leilão, de venda de energia a partir de 2012 (A-5), segundo o assessor da empresa. Segundo Tolmasquim, com a contratação dos 1.304 MW, o Brasil passou a ter um nível de energia contratada bem superior ao que seria necessário para se ter segurança energética a partir de 2010. A realização do leilão atendeu os cerca de 3 por cento de energia que faltava ser contratada para a demanda do país daqui a dois anos e meio. Os contratos são de 15 anos. Produtoras de energia térmica a partir de gás não participaram do leilão, como haviam indicado. Na quarta-feira, elas criticaram o teto do preço para energia térmica. Consideram que o custo de produção vai ficar maior devido à esperada substituição do gás natural boliviano pelo GNL (Gás Natural Liquefeito) e que o teto não remuneraria adequadamente. Segundo Tolmasquim, o governo está trabalhando para adaptar as regras do setor ao GNL. "Tenho esperança que cheguemos a um acordo que viabilize a entrada das térmicas (à GNL)." (Colaborou Denise Luna, no Rio de Janeiro) (Edição de Marcelo Teixeira e Denise Luna; Reuters Messaging: marcelo.teixeira.reuters.com@reuters.net, 5511 5644 7707))

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