Publicidade

Lwart busca sócio para crescer na produção de celulose

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

A família Trecenti sempre apostou em terreno seguro. O Grupo Lwart foi fundado em 1975 e se originou a partir de vários negócios que os irmãos Luiz, Wilson, Alberto e Renato tinham desde o fim dos anos 50. Eles começaram a primeira atividade do grupo - o rerrefino de óleo combustível, que aproveita o lubrificante usado em automóveis e maquinários - sem um tostão de dívida. Venderam tudo o que tinham para apostar na empresa feita em conjunto.Desde então, o raciocínio da empresa sempre seguiu o caminho da cautela. Tanto é assim que o grupo, que deve faturar R$ 880 milhões este ano, tem um endividamento baixo para a realidade empresarial brasileira, de quase 1 vez o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Como base de comparação, a gigante da celulose Fibria tenta reduzir a alavancagem a 2,5 vezes para reaver o grau de investimento das agências de risco.Agora, porém, a empresa decidiu dar um grande passo que exigirá um investimento de R$ 2,4 bilhões. A divisão de celulose da companhia, a Lwarcel - fundada nos anos 80 e hoje o principal negócio do Grupo Lwart - se prepara para uma meta para lá de ambiciosa. A ideia é quadruplicar a produção da fábrica em Lençóis Paulista (a 280 quilômetros da capital paulista). O objetivo é que a capacidade produtiva salte de 250 mil para 1 milhão de toneladas de celulose por ano.Sozinha, porém, a empresa sabe que não tem condições de dar conta da tarefa. Por isso, busca atualmente um sócio. Para se mostrar atrativa, conta o diretor-presidente do grupo, Carlos Renato Trecenti, a Lwarcel já começou a fazer o dever de casa. A empresa iniciou o processo de licença ambiental, aprovou os trabalhos de engenharia básica e está ampliando a plantação de florestas.Em 2010, a companhia tinha 30 mil hectares de eucalipto. Hoje, já são 54 mil hectares. A previsão para 2017 ou 2018, quando o projeto deverá estar concluído, é de 80 mil.O passo ousado, além de representar uma ruptura em relação ao comportamento histórico da empresa, é visto pelo mercado como a única maneira de o Grupo Lwart continuar no mercado de celulose. ?Ou a empresa cresce ou será absorvida?, resume o diretor de celulose e papel da consultoria Pöyry, Marcel Moreno, que presta serviços a companhias do segmento. ?O mercado brasileiro de celulose está prestes a passar por um processo de seleção natural.?Apesar de seu porte diminuto em relação à concorrência, a Lwarcel tem atrativos na busca de um parceiro, que poderá ser tanto uma outra companhia do setor quanto um fundo de investimento disposto a aplicar recursos no longo prazo. A empresa tem vantagens logísticas muito valorizadas no mercado, de acordo com o executivo da Pöyry. ?As florestas estão próximas à fábrica e a empresa também não fica muito longe do Porto de Santos, de onde é escoada a produção exportada?, explica Moreno.A proximidade da matéria-prima é importante para a indústria de celulose porque o preço do produto é definido no mercado internacional - logo, quanto menor o custo de produção, maior é o lucro do negócio. É por isso que fontes de mercado têm feito ressalvas à Eldorado - indústria de celulose do grupo J&F, da família Batista -, justamente pela distância entre a fonte de madeira e a fábrica em Três Lagoas (MS).Mesmo que encontre um sócio, o Grupo Lwart sabe que precisará aumentar seu patamar de endividamento para fazer frente ao tamanho do investimento e ainda assim manter o controle da Lwarcel. ?Trabalhamos muito tempo só com recursos próprios, o que se provou acertado na época da hiperinflação e dos planos econômicos, nos anos 80 e 90?, diz Trecenti. O executivo, filho de Renato, um dos fundadores do grupo, diz que a estratégia agora precisa ser ajustada. ?Nosso perfil de endividamento nos dá espaço para tomar mais crédito.?GestãoAs atividades do Grupo Lwart estão concentradas em um grande terreno em sua cidade-sede. Além da Lwarcel, a área abriga a Lwart Lubrificantes, que coleta óleo lubrificante usado para rerrefino, e a Lwart Química, que produz impermeabilizantes para a construção civil. Os negócios, embora diferentes, têm algumas sinergias: um duto de valor de 4 km, que começa na fábrica da Lwarcel, abastece a planta de óleo.Para garantir a longevidade do negócio, a empresa também se preocupou com o processo sucessório: quando Carlos Renato foi cursar um MBA nos Estados Unidos, em 1995, ele assumiu o compromisso com o pai e os tios de voltar para Lençóis Paulista.Hoje, aos 45 anos, o executivo já se preocupa com a próxima geração. Por isso, a família definiu a realização de quatro encontros por ano - o mais recente deles foi no fim de semana passado. A meta, diz o executivo, é aproximar os herdeiros do negócio. ?Eles precisam conhecer a história da empresa para se interessar por ela.? As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.