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Ministros do G20 devem reunir dados de estoques de alimentos, diz ‘WSJ’

Eles se reunirão para discutir crescente demanda global por alimentos, em um momento em que a oferta é cada vez mais ameaçada por choques climáticos e intervenções dos governos

Por Filipe Domingues e da Agência Estado
Atualização:

Ministros da Agricultura do grupo das 20 maiores economias do mundo (G20) devem estabelecer nesta semana um banco de dados sobre estoques de alimentos no mundo e chegar a uma acordo para reduzir as barreiras comerciais, de modo a combater a falta de alimentos e a volatilidade dos preços, de acordo com reportagem do Wall Street Journal. Eles se reunirão na quarta-feira e na quinta-feira, em Paris, para discutir a crescente demanda global por alimentos, enquanto a oferta é cada vez mais ameaçada por choques climáticos e intervenções dos governos. A França, em especial, quer combater a volatilidade nos mercados de commodities, plano que tem como uma prioridade de sua presidência no G20.

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"O ponto de partida foi evitar que o século 21 seja o século da fome", declarou o ministro da agricultura da França, Bruno Le Maire, na semana passada. "Acreditamos que a comunidade internacional não entenderia se não tomássemos decisões."

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) prevê que o mundo precisará produzir 70% mais alimentos até 2050. Mas espera que o crescimento da produção agrícola desacelere para 1,7% ao ano até 2020, ante 2,6% ao ano ao longo da década anterior, de acordo com suas últimas estimativas.

Tal combinação ajudou a puxar os preços para cima e a consumir os estoques. Com governos que rapidamente intervêm nos mercados, como fez a Rússia ao proibir as exportações de grãos no ano passado, os mercados de alimentos estão cada vez mais suscetíveis à alta de preços.

O índice de preços de alimentos da FAO atingiu nível recorde em fevereiro e a organização previu na última sexta-feira que a média de preços desta década será 30% maior do que na anterior. Grupos de caridade avaliam que o número de pessoas gravemente mal nutridas superará 1 bilhão neste ano. E a inflação dos alimentos foi tida como uma das razões para os tumultos políticos no mundo árabe.

Especialistas dizem que é possível melhorar as técnicas agrícolas. "As reservas não são infinitas, mas ainda há espaço para aumentar a oferta", disse a especialista agrícola da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Carmel Cahill. "Há terras na América Latina, na África e nos arredores do Mar Negro. Há grandes vácuos de produtividade que podem ser reduzidos com educação, irrigação e insumos", como fertilizantes.

Mas, para que produtores sintam o benefício de preços mais altos, a França argumenta que a especulação nos mercados de derivativos de commodities precisa ser regulada. "A elevação dos preços das commodities é a principal ameaça ao crescimento", declarou recentemente o presidente Nicolas Sarkozy, em conferência em Bruxelas. O total de investimentos de dinheiro gerenciado em commodities agrícolas atingiu um recorde de US$ 126 bilhões até 31 de março, mais do que os US$ 55 bilhões registrados durante o boom dos preços das commodities em 2008, de acordo com dados do Barclays Capital.

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"As pessoas que são beneficiárias desta situação não são os produtores, são os intermediários", afirmou Charles Ogang, presidente da Federação Nacional de Produtores de Uganda.

Mas o economista da FAO Abdolreza Abbassian comentou que o encontro de ministros desta semana não deve se concentrar num aumento da regulação dos mercados. Em vez disso, ele avalia que os ministros do G20 avaliarão com mais atenção o tema da transparência nos mercados físicos, estabelecendo uma base de dados semelhante à do mercado de petróleo - criada na Iniciativa Conjunta de Dados de Petróleo, em 2001, para fornecer informações sobre oferta e demanda globais.

Abbassian entende que a melhora da transparência nos mercados físicos automaticamente reduziria a influência dos investidores na volatilidade dos preços. "Quanto mais dados estiverem sob domínio público, menos espaço haverá para especulação", deduziu.

A versão de alimentos do banco de dados se chamaria Sistema de Informação de Mercado Agrícola (Amis, na sigla em inglês). Seria sediado na FAO, em Roma, e incluiria dados sobre estoques e produção. Economistas dizem, no entanto, que pode ser difícil convencer países como a China a liberar informações sobre suas estratégias comerciais. Já a Rússia deve ser uma força contrária às propostas de limitar as intervenções dos governos nos mercados de exportação. O francês Le Maire disse que seria impossível acabar com as restrições de exportação, mas acredita que elas poderiam ser limitadas. As informações são da Dow Jones.

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