A moagem de cana do centro-sul do Brasil em 2010/11 deve atingir 595,9 milhões de toneladas, alta de 10% em relação às 541,5 milhões de toneladas previstas para a temporada 2009/10, que termina nesta quarta-feira, 31, informou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
De acordo com a entidade, a produção de açúcar da região, que responde por cerca de 90% da produção nacional de cana, deve chegar a 34,1 milhões de toneladas em 2010/11, 19% a mais do que as 28,6 milhões de toneladas previstas para a temporada anterior.
Já a produção de etanol do centro-sul na nova safra foi estimada em 27,4 bilhões de litros, aumento de 15,6% ante os 23,7 bilhões previstos para 2009/10.
"O mix de produção (de cana destinada ao açúcar) é um pouco superior nesta safra, o que não significa que a oferta interna de etanol vai ser inferior", comentou o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, em entrevista a jornalistas para a divulgação dos dados.
Na safra 2010/11 aumentará para 43,3% o volume de cana destinada à produção de açúcar, contra 42,5% na temporada anterior. Já produção de etanol absorverá 56,7% da cana em 2010/11.
Pádua destacou ainda que, além do aumento da oferta de matéria-prima, uma maior produção de açúcar ocorrerá principalmente pela melhor qualidade da cana.
A entidade estima que em 2010/11 o centro-sul terá 138,6 quilos de ATR (açúcar total recuperável) por tonelada de cana, contra 130,3 quilos em 2009/10, mas ainda abaixo da média histórica de 145 kg de ATR.
Apesar do forte aumento previsto para o açúcar, Pádua considerou que o mercado está "em equilíbrio", e indicou que o Brasil - maior produtor e exportador mundial - poderá recompor estoques em 10/11, após ter registrado na safra passada um crescimento na exportação superior à alta na produção, em meio à forte demanda internacional, especialmente da Índia.
A Unica estimou que a exportação de açúcar do centro-sul do Brasil em 10/11 deverá chegar a 24,3 milhões de toneladas, ante 21 milhões de toneladas em 2009/10.
"Apesar de a produção aumentar 5,4 milhões de toneladas, as exportações devem crescer apenas 3,3 milhões de toneladas", destacou o representante da Unica, ponderando que o mercado internacional permanecerá deficitário, embora em menor magnitude. "Isso representa preços mais equilibrados."
Para o consultor Jonathan Kingsman, as previsões da Unica estão dentro da expectativa do mercado, e ele considerou os números neutros para os preços, posição semelhante à adotada pela própria entidade.
"Não há fundamentos que levem a movimentos altistas e baixistas. Não há fundamentos que indiquem essa volatilidade de preços", ressaltou o diretor, lembrando que o mercado está em equilíbrio e que a volatilidade está mais ligada aos participantes não-comerciais na bolsa.
Segundo Pádua, apesar de sinais de queda nos preços internacionais, o preço pago ao produtor de açúcar será melhor do que na safra passada. "Se é 50, 60 por cento da safra já vendida, o açúcar foi vendido entre 18 e 22, 23 centavos (de dólar por libra-peso)", declarou ele, lembrando que a indústria aproveitou os picos para realizar bons negócios.
Em fevereiro, o açúcar atingiu uma máxima de 29 anos em Nova York, acima de 30 centavos.
Moagem em alta
Neste início de safra, considerando as usinas do centro-sul que não pararam os trabalhos e as que anteciparam a moagem, 53 unidades já estão em operação, um número superior ao verificado no ano passado, segundo a Unica, que não forneceu comparações.
"Está dentro da normalidade, não vai existir uma superoferta no início de safra", opinou Pádua, destacando que a expectativa é de condições climáticas normais, mais secas, para os tradicionais meses de pico de safra (julho, agosto e setembro), diferentemente do que ocorreu em 2009.
Segundo a Unica, o incremento de moagem previsto para 2010/11, de mais de 50 milhões de toneladas, deve-se ao elevado volume de cana bisada (cana que não foi colhida na safra passada, em função das chuvas).
Em menor proporção, segundo a Unica, a moagem cresce também com dez novas unidades que entrarão em operação em 10/11 (uma em Mato Grosso, uma em Mato Grosso do Sul, duas em São Paulo, duas em Goiás, três em Minas Gerais e uma no Rio de Janeiro).
"De forma simples, a safra 2010/11 é a safra que não aconteceu em 2009/10, pelo problema climático", explicou o diretor técnico.
De acordo com dados levantados pela Unica, imagens de satélite feitas no centro-sul indicam que não houve expansão significativa na área de cana para a colheita nas regiões tradicionais.
A associação informou ainda que o número de novas unidades que iniciarão as atividades na safra 2010/11 é inferior ao dos últimos anos, em função da desaceleração do crescimento no setor, em meio à crise financeira de 2009. Na temporada 09/10, 19 novas unidades entraram em operação, e em 08/09 foram 30.
(Por Roberto Samora)