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Moinhos brasileiros se mexem diante de alta do trigo argentino

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

Os moinhos brasileiros, que no início do mês estavam cautelosos para realizar compras antecipadas de trigo da safra nova argentina, apostando que os preços poderiam apresentar algum recuo, mudaram de estratégia ao perceberem que o mercado deve continuar firme. Segundo corretores, as cotações no país vizinho subiram cerca de 10 por cento em um período de 15 dias. O produto da Argentina, o principal fornecedor de trigo do Brasil, passou de 250 dólares/tonelada, no início do mês, para 275 dólares (base FOB), acompanhando a alta no mercado internacional guiada por um aperto da oferta e problemas em safras mundo afora. "Eles (moinhos) entraram no mercado. A possível baixa nos preços não ocorreu. Ao contrário, subiram de 20 a 30 dólares", disse um corretor de São Paulo. "E os fatores mundiais são de que a coisa vai continuar firme", acrescentou. De acordo com corretores, um ou outro grupo de moagem brasileiro realizou compras de trigo argentino, que começa a ser colhido em novembro, quando os preços estavam entre 250 e 260 dólares por tonelada. Agora os vendedores já estão pedindo 280 dólares, para embarques em dezembro e janeiro. "As notícias de problemas no trigo europeu [ID:nN14422228], as compras do Egito [ID:nN14423253] e do Iraque [ID:nN14427476] são fatores que indicam que o mercado não vai cair", declarou. A firmeza no mercado internacional de trigo, que é negociado em Chicago nos maiores patamares em 11 anos, ocorre em um momento em que o Brasil figura entre os principais importadores mundiais, depois de uma safra ruim em 2006. O país iniciou nos últimos dias a colheita dos primeiros lotes da safra que deve ser capaz de atender apenas 30 por cento de suas necessidades anuais, de 10,5 milhões de toneladas, e terá de importar o volume restante, a maior parte da Argentina. COMPETITIVIDADE ARGENTINA Entretanto, um segundo corretor de São Paulo avaliou que os moinhos brasileiros demoraram para se posicionar, não apenas porque poderiam ter feito compras anteriormente a 240 dólares por tonelada, mas também porque a Argentina cada vez mais passa a fornecer para outros países não-integrantes do Mercosul. A fonte, que pediu para não ser identificada, disse que outros fatores altistas --como uma safra australiana supostamente inferior a 20 milhões de toneladas-- reforçam a idéia de que o trigo argentino será ainda mais procurado. Além disso, salientou, o trigo francês atingiu o pico de 320 dólares por tonelada (FOB), indicando que o produto argentino pode subir mais. "Tem espaço para a Argentina colocar o produto em qualquer lugar do mundo", disse. A Abitrigo, que representa as indústrias locais, queixou-se de que a Argentina, parceira comercial do Brasil, vende cada vez mais para outros destinos, ao mesmo tempo em que os brasileiros são obrigados a pagar valores mais altos e taxas para buscar o grão em outros países [ID:nN08331542]. O mercado estima que as compras feitas pelo Brasil do trigo novo variam de 300 a 500 mil toneladas, de um total de até 700 mil contratadas para exportação. No mercado interno, o trigo safra nova brasileiro, no embalo do mercado internacional, está no mesmo nível do cereal argentino, cotado a 540 reais por tonelada (272 dólares), para entrega em setembro. Para entrega imediata, está 550 reais. Segundo o corretor paranaense Alexandre Maron, da Trigo Branco, o mercado esteve bastante aquecido, com as indústrias fazendo estoques até outubro, precavendo-se de algum eventual problema climático. Agora o mercado está mais calmo.

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