Great Wall: 'Nosso plano é investir R$ 4 bilhões no Brasil', diz diretor da montadora chinesa

Após compra da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), diretor da marca na América do Sul diz que montadora tem a intenção de elevar capacidade da fábrica de 20 mil para 100 mil veículos

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Por Eduardo Laguna
3 min de leitura

A Great Wall desembarcou no Brasil com intenção de investir aproximadamente R$ 4 bilhões durante cinco anos para erguer um negócio quase do zero: da construção de uma marca pouco conhecida pelos brasileiros à instalação de uma rede de concessionárias, hoje inexistente, para distribuir a maior parte dos 100 mil carros que a montadora pretende produzir um dia no País.

"Estamos em fechamento do plano de negócios, e estudando oportunidades e segmentos onde temos melhor condição de competir", conta Anderson Suzuki, diretor de produtos e estratégia da Great Wall na América do Sul. "Nosso plano é, em cinco anos, investir 5 bilhões de renmimbis (moeda oficial da China), o que dá cerca de R$ 4 bilhões, incluindo a aquisição da fábrica", acrescenta.

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O trabalho começa "quase", e não "completamente", do zero porque a montadora optou por um atalho, na parte de manufatura do projeto, ao entrar no País por meio da compra de uma fábrica que estava ativa até dezembro do ano passado.

Fábrica da Great Wall na China. Planta brasileira da montadora poderá ter capacidade para produzir até 100 mil veículos. Foto: China Daily via Reuters - 22/10/2019

Parte dos investimentos bilionários planejados no Brasil inclui o pagamento – de valor não aberto pelos dois lados envolvidos – da fábrica onde a Mercedes-Benz produzia automóveis premium. O negócio, como anunciado nesta quarta-feira, 18, engloba todo o pacote: prédios, equipamentos de produção e o terreno de 1,2 milhão de metros quadrados em Iracemápolis, no interior de São Paulo.

A unidade da Mercedes foi projetada para montar no máximo 20 mil carros, mas a intenção dos chineses é elevar essa capacidade para 100 mil veículos. Uma parcela será exportada a mercados vizinhos do continente, mas, para se ter uma noção do tamanho da ambição da Great Wall, esse volume significaria mais de 4% do mercado atual de carros de passeio e utilitários leves se fosse completamente destinado ao Brasil. É algo que colocaria a novata perto do tamanho atual de marcas como Honda e Nissan.

Esperando ainda a transferência das instalações de Iracemápolis, o que deve ocorrer até o fim do ano, a Great Wall não fala por ora sobre data de início da produção. Quando a fábrica estiver novamente ativa, a expectativa é de que empregue por volta de 2 mil pessoas.

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Nada confirmado oficialmente ainda, mas utilitários esportivos, os chamados SUVs, e picapes são as categorias que devem ser produzidas em Iracemápolis, ao mesmo tempo em que a presença comercial deve abrir caminho à importação, inclusive de carros elétricos ou híbridos.

Atuação internacional

Fora da China, a montadora tem fábricas na Rússia e na Tailândia, além de uma unidade na Índia, cuja inauguração vem sendo adiada em razão de retaliações do governo local a investimentos chineses no país, por causa da disputa de anos entre os dois lados por uma região fronteiriça do Himalaia

A Great Wall também conta com fábricas menores, incluindo no Equador, que funcionam em esquema de produção CKD, no qual é feita apenas a montagem de carros a partir de conjuntos de componentes importados da China.

O interesse pelo Brasil começou mais de uma década atrás, numa época de crescimento que colocou o País entre os quatro maiores mercados de veículos do mundo. Em 2012, quando a então presidente Dilma Rousseff lançou uma política automotiva que fechou portas a importações de automóveis, forçando marcas internacionais a produzir no Brasil, um emissário da Great Wall veio ao País para visitar terrenos e conhecer os incentivos fiscais para a instalação da fábrica. 

Entraram na agenda do executivo municípios paulistas – Ribeirão Preto, Guarulhos e São Bernardo do Campo –, além de Joinville (SC). Foram necessários, porém, mais nove anos para a montadora concretizar o plano, com o anúncio, hoje, da aquisição da fábrica da Mercedes em Iracemápolis.

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