O sócio fundador da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, está preocupado com o cenário externo, principalmente com a situação fiscal na Europa. "Não estou dizendo que é um desastre, só que o risco aumentou", afirmou Fraga, que vê possibilidade de enfraquecimento do euro.
Em palestra esta tarde em seminário sobre Fusões e Aquisições, promovido pela Fundação Getúlio Vargas e a universidade americana Vanderbilt, Fraga disse ver "muitos déficits orçamentários que não são sustentáveis". De acordo com ele, as melhores situações fiscais do mundo são as de Chile, Cingapura e Noruega. "Mas a maioria está horrível", afirmou.
Ele destacou a fragilidade dos PIIGS, sigla em inglês para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. "No caso da Grécia foi dramático. Vimos um tipo de explosão", afirmou. Fraga avalia que no curto prazo, deve-se "apagar o incêndio" e no longo prazo fazer reformas estruturais.
Por outro lado, disse que considera a economia dos Estados Unidos flexível e muito eficiente e que talvez se ajuste com o tempo. Fraga vê trajetória de crescimento econômico para o Brasil e fez diversos elogios ao País em contraponto à situação de décadas atrás.
Citou, entre outras, que "o sistema bancário brasileiro está em muito boa forma", assim como as empresas brasileiras. "Qualquer companhia que sobreviveu a esses últimos 30 anos é boa", disse ele, que também disse que a Comissão de Valores Mobiliários está fazendo "um grande trabalho". Para ele, o mercado de capitais vai se desenvolver mais com a queda estrutural de juros. "Hoje no Brasil, ganha-se 10% fácil", disse ele.
Fraga também considera que o Brasil está mais aberto. "Não estou dizendo aberto no sentido comercial, é que a mente das pessoas está mais aberta", afirmou. Elogiou a imprensa livre brasileira, realçando, nesse ponto, as diferenças entre o Brasil, a China e a Rússia. "O Brasil é o mais ocidental dos BRICs", disse.
Cauteloso, observou que é preciso "não dar tudo como certo". Ele acredita que é necessário aumentar os investimentos, melhorar a infraestrutura e a educação, assim como a parte fiscal. Também afirmou ser necessário fazer uma reforma da previdência, começando pelos que ainda vão entrar no sistema, e impor tetos de dívida para os governos, inclusive de estados. "Mas duvido que os candidatos falem disso na campanha. É suicídio político", afirmou.