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Na Agrishow, setor rural reage a propaganda negativa do etanol

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

A oposição entre alimentos e biocombustíveis não existe no Brasil, e o país ainda irá mostrar ao mundo que não faz "loucura" no setor de bioenergia, disseram autoridades do Ministério da Agricultura e outros especialistas. "Há um discurso de combate ao programa de energia renovável e a crise de alimentos. Quero dizer que não há crise de alimentos no Brasil. O que há é uma crise mundial com a demanda em crescimento", disse o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi, a jornalistas. Segundo ele, a demanda por alimentos está crescendo em países em desenvolvimento como a China e Índia, mas também em nações desenvolvidas, que estão ampliando o consumo. Rossi afirmou que a notícia de que um supermercado nos Estados Unidos limitou as compras de arroz não encontra semelhança na realidade brasileira, uma vez que o governo conta com estoques de mais de 1 milhão de toneladas e está colhendo uma boa safra. "Só não vamos exportar os estoques públicos", disse ele, lembrando que a medida tem o objetivo de evitar preços "escorchantes" ao consumidor nacional. Para isso, a Conab também já anunciou leilões dos estoques públicos para o mercado interno e pode até ampliar o programa em caso de necessidade, segundo Rossi. De acordo com o diretor de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone, "debater se o programa de agroenergia é compatível ou não com a produção de alimentos no Brasil, em um momento em que pela primeira vez em muitos anos os preços de alimentos se recuperam, é um contrasenso." "Tem muito palavrório sobre fatos concretos completamente opostos ao que se discute", acrescentou Bertone, lembrando que o programa de agroenergia é estratégico e "pode levar um novo modelo de desenvolvimento para países que não têm alternativas." No país, com um programa de zoneamento agrícola e de certificação de etanol, que no caso deste último deverá ficar a cargo da iniciativa privada, o governo vai determinar onde se poderá plantar ou não a cana. "Nós procuraremos induzir, orientar a expansão da lavoura de cana. Isso para mostrar ao mundo que o Brasil não vai fazer loucura com a cana, que hoje ocupa apenas 1 por cento de nosso território nacional e apenas 2,8 por cento de toda a área agricultável", disse o diretor de Produção e Agroenergia. Ao mesmo tempo em que o governo está trabalhando no zoneamento, Bertone disse que o próprio mercado, com os melhores preços, vai "inibir" a diminuição da área de cultivo de alimentos. CHANCE ÚNICA O ex-ministro Roberto Rodrigues, um entusiasta da bioenergia, acrescentou que a alta dos alimentos, além da maior demanda global, ocorre em função da especulação nos mercados futuros, pela maior destinação do milho para a produção de etanol nos Estados Unidos e também pela queda na oferta em função de problemas climáticos em alguns países produtores. Ele afirmou ainda que essa conjuntura é uma "chance única" para o Brasil, que tem grandes áreas agricultáveis, desenvolver ainda mais a sua produção. Rodrigues rejeitou as críticas do relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, que considerou os biocumbustíveis uma ameaça. "Dizer uma coisa dessas é que é uma ameaça, porque os biocombustíveis podem mudar a geopolítica mundial", disse ele, referindo-se à oportunidade para países em desenvolvimento ampliarem a sua produção. As declarações das autoridades foram feitas durante a Agrishow, maior exposição de tecnologia agrícola da América Latina, que se realiza em Ribeirão Preto (SP), principal região de cultivo de cana-de-açúcar do Brasil. São Paulo, por sua vez, é uma amostra de como a agroenergia pode conviver com a diversificação agrícola, disse o secretário estadual de Agricultura, João Sampaio. O Estado é também o maior produtor de laranja, um grande produtor de madeira, de café, o maior produtor de ovos, de borracha natural, tem uma produção de grãos importante, é um grande produtor de carne bovina e de frangos, além de ser o maior produtor nacional de frutas. "Essa falsa dicotomia, pelo menos no Brasil, só ajuda a promover a feira. Podemos mostrar para o Brasil e para o mundo que dá para conviver perfeitamente a produção de alimentos e agroenergia."

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