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Na economia circular, empresas devem transformar produtos em serviços, dizem especialistas

Summit ESG, evento promovido pelo ‘Estadão’, discutiu o gerenciamento de resíduos de forma sustentável, o que passa por questões culturais e mudança de mentalidade

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Por Redação
Atualização:

As empresas não precisam "inventar roda" para colocar em prática a economia circular em suas cadeias de produção. Baseado na inteligência da natureza, o movimento se apoia na ideia de que os resíduos são insumos para a confecção de novos produtos. No meio ambiente, restos de vegetais consumidos por animais se decompõem e viram adubo para plantas, por exemplo. Esse conceito é chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço), no qual não existe a ideia de resíduo, ou seja, tudo é nutriente para uma nova rodada de produção. 

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As reflexões fizeram parte do último painel desta terça-feira, 15, do Summit ESG, evento que está sendo realizado nesta semana pelo Estadão. Participaram do bate-papo Guilherme Brammer, presidente da Boomera, empresa de gestão de resíduos, e Susana Carvalho, diretora executiva da JBS Ambiental. 

De acordo com Brammer, a economia circular veio para "hackear" um sistema baseado na obsolescência programada - que estabelece o fim da vida útil de produtos - e na ociosidade. Segundo ele, a maioria dos nossos bens de consumo ficam parados a maior parte do tempo, como um micro-ondas, por exemplo. "A sensação de posse (do produto), e não o acesso ao item, sempre foi mais importante", disse. Mas, segundo ele, as empresas estão entendendo que devem "transformar produtos em serviços". O aluguel de filtros de água, as corridas de Uber e a hospedagem em apartamentos por meio do Airbnb são exemplos de modelos de negócio que evitam o desperdício de recursos.

Painel online do Summit ESG discutiu a economia circular. Foto: Reprodução

Nesse sentido, Susana afirmou que as empresas precisam utilizar a sustentabilidade como "estratégia de inovação", tendo o compromisso de exercer o menor impacto para o meio ambiente e a sociedade. Brammer concordou: "Não é abrir mão da lucratividade e da experiência do consumidor, é fazer diferente." Segundo ele, a jornada do repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar - pilares da economia circular -, deve fazer sentido na cabeça das pessoas que acham que o ciclo findou quando o resíduo é "jogado no cesto de lixo".

Focada nisso, a JBS tem atuado em algumas frentes de conversão de resíduos em novos produtos, utilizados na própria companhia de alimentos. A empresa já está pavimentando obras com o "piso verde" - feito com embalagens plásticas de produtos in natura, que antes eram destinadas a aterros. Outra atuação da empresa está na produção de biodiesel a partir de sebo bovino e óleo de fritura - recolhido em residências de 40 cidades brasileiras. Segundo Susana, a JBS já produziu 265 milhões de litros de biodiesel a partir desses insumos. 

Além disso, a executiva disse que a empresa está em processo final de construção de uma fábrica para a produção de fertilizantes a partir de resíduos orgânicos gerados na empresa. Tudo isso faz parte da missão Net Zero, na qual a JBS se compromete a zerar o balanço de suas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2040.

Questão cultural

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De acordo com Brammer, a pandemia fez com que esses processos de implementação de medidas sustentáveis fossem acelerados dentro das empresas. No entanto, disse ele, existe uma questão cultural na sociedade e até mesmo dentro das corporações que é complicado reverter. "O mais difícil não é a ciência, a tecnologia, mas a mudança na forma de pensar." 

O presidente da Boomera ressaltou que, por esse motivo, as startups começam com uma "vantagem competitiva", uma vez que já que se estruturam em pilares da sustentabilidade. Para as empresas já formadas, ele sugere estabelecer parcerias com outras instituições, inclusive as acadêmicas e as cooperativas de catadores, que entendem do negócio. "Se abrir para a inovação social e ambiental é fundamental."

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