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Negócio com a ITA foi suspenso, mas não cancelado, afirma comprador da aérea

Empresário radicado nos EUA, que anunciou compra do negócio em dificuldades há um mês, relata ‘insegurança jurídica’ na recuperação judicial da Itapemirim, mas diz que ideia da aquisição segue em pé

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller e Lucas Agrela
Atualização:

Anunciado há cerca de um mês como comprador da ITA, a companhia aérea do grupo Itapemirim que voou por cinco meses antes de deixar milhares de brasileiros sem viagem pouco antes do Natal de 2021, o empresário Galeb Baufaker disse ao Estadão que apenas suspendeu, mas não desistiu, da ideia de ficar com a companhia aérea. 

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O empresário diz que ainda espera resolver o que chama de insegurança jurídica no processo de recuperação judicial da Itapemirim e ficar com a aérea. Ele diz ter intenção de colocar no ar a ITA – com este ou outro nome – seis meses após fechar o negócio de vez. "Não desisti da compra, simplesmente rescindi momentaneamente", disse.

O anúncio de que um comprador ficaria com a ITA pegou o mercado de surpresa, ainda mais por se tratar de um grupo desconhecido no Brasil – Baufaker é radicado nos EUA – e sem tradição no setor. Conforme mostrou reportagem do Estadão, a consultoria Baufaker, inicialmente anunciada como compradora, fica em um centro comercial de Taguatinga, cidade satélite de Brasília, no local onde funciona uma empresa de cercas elétricas. 

O empresário Galeb Baufaker quer colocar a ITA de volta aos céus seis meses após a aquisição do negócio Foto: Divulgação/Galeb Baufaker/Acervo pessoal

Mas o que atraiu Baufaker para uma empresa sem tradição e com muitos débitos, incluindo dívidas milionárias com fornecedores de aeronaves e meses de salários atrasados da equipe? Segundo o próprio Baufaker, foi o time que conseguiu botar em pé um negócio com pouco dinheiro e disputando espaço em um setor muito competitivo.

O empresário também sabe que recuperar a ITA será um caminho ladeira acima. Ele diz ter reuniões na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Secretaria de Aviação Civil (SAC) amanhã. E tem consciência de que terá de convencer fornecedores a dar à empresa um novo voto de confiança. Mesmo otimista em relação ao futuro, Baufaker admite que a operação com a frota atual, de apenas uma aeronave, é inviável.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Houve desistência da compra da ITA?

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Não desisti da compra, simplesmente rescindi momentaneamente. A vara da reestruturação judicial começou a tomar atitudes que impediam a utilização não só da ITA rodoviária, como também das empresas parte do grupo. Eu já estava no processo de transferência das empresas, com contratos assinados, quando a vara determinou o bloqueio judicial do negócio. Notifiquei a rescisão do contrato momentaneamente até a assembleia do dia 18 de maio. Tenho de passar essa responsabilidade para o juiz que provocou essa situação. Eu vim até aqui para comprar uma empresa que tinha um nome. Já tenho contratos firmados com os funcionários da ITA, e isso não vai mudar. Meu banco que vai criar os fundos dos ativos para o pagamento de salários, fornecedores e os 50 mil clientes que não voaram. Estou resgatando todo mundo. Eu vim com esse objetivo. A empresa aérea vai voltar a funcionar. 

Por que comprar uma empresa problemática como a ITA e não montar uma companhia aérea do zero? 

Eu tenho condições de montar uma empresa do zero. Mas a ITA teve um corpo operacional que fez a empresa acontecer. Esse é o valor da companhia: os profissionais que trabalham nela, os fornecedores e os consumidores. Quero recuperar tudo isso. Mesmo montando uma empresa nova, eu já começo de forma profissional, com consumidores. É mais uma questão de humanas do que de exatas. O custo-benefício de montar uma empresa nova ou comprar a ITA é o mesmo. 

A ITA recebe algum valor nessa operação?

A ITA não recebe absolutamente nada. Meu comprometimento é resolver o passivo e voltar com ela no ar, seja com esse nome ou com outro. 

O que será discutido com a Anac?

O foco é a manutenção do cliente. A necessidade de novos slots vai depender de como iremos prosseguir caso a ITA seja impedida de ser vendida. 

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Então, o foco agora é superar a insegurança jurídica do acordo?

Claro. Não posso pagar por algo que não poderei levar.

A ITA ficou com apenas uma aeronave, as demais foram devolvidas. Isso será um problema?

A partir do momento em que tudo se equalize, as aeronaves voltam. Não posso iniciar a operação com apenas uma aeronave, é inviável. Dependendo do tipo de negociação, poderemos ter novas aeronaves, tudo dependerá dos acordos com fornecedores.

Com esse imbróglio se resolvendo, em quanto tempo a empresa volta a voar?

Em seis meses, conforme o planejamento inicial.

A ITA será vendida como uma empresa separada?

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O banco e a ITA são CNPJs diferentes. A minha holding vai absorver tanto a Itapemirim Aérea quanto o ITA Bank.

O que o trouxe a esse setor?

Eu sou apaixonado por pessoas e essa empresa tem uma boa equipe que fez um mercado restrito e competitivo se tornar um bom negócio. Foi a partir dessa análise que resolvi vir para o Brasil para fazer esse negócio.

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