Anunciado há cerca de um mês como comprador da ITA, a companhia aérea do grupo Itapemirim que voou por cinco meses antes de deixar milhares de brasileiros sem viagem pouco antes do Natal de 2021, o empresário Galeb Baufaker disse ao Estadão que apenas suspendeu, mas não desistiu, da ideia de ficar com a companhia aérea.
O empresário diz que ainda espera resolver o que chama de insegurança jurídica no processo de recuperação judicial da Itapemirim e ficar com a aérea. Ele diz ter intenção de colocar no ar a ITA – com este ou outro nome – seis meses após fechar o negócio de vez. "Não desisti da compra, simplesmente rescindi momentaneamente", disse.
O anúncio de que um comprador ficaria com a ITA pegou o mercado de surpresa, ainda mais por se tratar de um grupo desconhecido no Brasil – Baufaker é radicado nos EUA – e sem tradição no setor. Conforme mostrou reportagem do Estadão, a consultoria Baufaker, inicialmente anunciada como compradora, fica em um centro comercial de Taguatinga, cidade satélite de Brasília, no local onde funciona uma empresa de cercas elétricas.
Mas o que atraiu Baufaker para uma empresa sem tradição e com muitos débitos, incluindo dívidas milionárias com fornecedores de aeronaves e meses de salários atrasados da equipe? Segundo o próprio Baufaker, foi o time que conseguiu botar em pé um negócio com pouco dinheiro e disputando espaço em um setor muito competitivo.
O empresário também sabe que recuperar a ITA será um caminho ladeira acima. Ele diz ter reuniões na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Secretaria de Aviação Civil (SAC) amanhã. E tem consciência de que terá de convencer fornecedores a dar à empresa um novo voto de confiança. Mesmo otimista em relação ao futuro, Baufaker admite que a operação com a frota atual, de apenas uma aeronave, é inviável.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Houve desistência da compra da ITA?
Não desisti da compra, simplesmente rescindi momentaneamente. A vara da reestruturação judicial começou a tomar atitudes que impediam a utilização não só da ITA rodoviária, como também das empresas parte do grupo. Eu já estava no processo de transferência das empresas, com contratos assinados, quando a vara determinou o bloqueio judicial do negócio. Notifiquei a rescisão do contrato momentaneamente até a assembleia do dia 18 de maio. Tenho de passar essa responsabilidade para o juiz que provocou essa situação. Eu vim até aqui para comprar uma empresa que tinha um nome. Já tenho contratos firmados com os funcionários da ITA, e isso não vai mudar. Meu banco que vai criar os fundos dos ativos para o pagamento de salários, fornecedores e os 50 mil clientes que não voaram. Estou resgatando todo mundo. Eu vim com esse objetivo. A empresa aérea vai voltar a funcionar.
Por que comprar uma empresa problemática como a ITA e não montar uma companhia aérea do zero?
Eu tenho condições de montar uma empresa do zero. Mas a ITA teve um corpo operacional que fez a empresa acontecer. Esse é o valor da companhia: os profissionais que trabalham nela, os fornecedores e os consumidores. Quero recuperar tudo isso. Mesmo montando uma empresa nova, eu já começo de forma profissional, com consumidores. É mais uma questão de humanas do que de exatas. O custo-benefício de montar uma empresa nova ou comprar a ITA é o mesmo.
A ITA recebe algum valor nessa operação?
A ITA não recebe absolutamente nada. Meu comprometimento é resolver o passivo e voltar com ela no ar, seja com esse nome ou com outro.
O que será discutido com a Anac?
O foco é a manutenção do cliente. A necessidade de novos slots vai depender de como iremos prosseguir caso a ITA seja impedida de ser vendida.
Então, o foco agora é superar a insegurança jurídica do acordo?
Claro. Não posso pagar por algo que não poderei levar.
A ITA ficou com apenas uma aeronave, as demais foram devolvidas. Isso será um problema?
A partir do momento em que tudo se equalize, as aeronaves voltam. Não posso iniciar a operação com apenas uma aeronave, é inviável. Dependendo do tipo de negociação, poderemos ter novas aeronaves, tudo dependerá dos acordos com fornecedores.
Com esse imbróglio se resolvendo, em quanto tempo a empresa volta a voar?
Em seis meses, conforme o planejamento inicial.
A ITA será vendida como uma empresa separada?
O banco e a ITA são CNPJs diferentes. A minha holding vai absorver tanto a Itapemirim Aérea quanto o ITA Bank.
O que o trouxe a esse setor?
Eu sou apaixonado por pessoas e essa empresa tem uma boa equipe que fez um mercado restrito e competitivo se tornar um bom negócio. Foi a partir dessa análise que resolvi vir para o Brasil para fazer esse negócio.