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No Médio Norte de MT, alimento mais caro é lucro

Produtora do pacote completo do agronegócio, região cresce em ritmo acelerado e atrai novos investidores

Foto do author Fernando Dantas
Por Fernando Dantas
Atualização:

Descendo do seu avião monomotor e embarcando na camionete, depois de visitar a Guimarães II, uma das suas dez fazendas, que totalizam 38 mil hectares, o empresário Orcival Guimarães, de Lucas do Rio Verde, fala freneticamente ao telefone com investidores que querem comprar um naco do seu negócio. O Grupo Guimarães inclui revendas de tratores, colheitadeiras e outras máquinas agrícolas da Massey Fergusson em cinco cidades de Mato Grosso, além da produção de soja, milho, algodão e engorda de gado. O faturamento este ano deve ultrapassar R$ 270 milhões. Veja também: Galeria de fotos  Entenda a crise dos alimentos   "Fechando a parceria, a minha intenção é criar também aves e suínos", diz Guimarães, um goiano simples, direto e bonachão, que não disfarça seu jeito interiorano de quem chegou a Mato Grosso em 1978 como vendedor de tecidos, "com apenas uma mala na mão". Nos amplos e bem decorados escritórios do Grupo Guimarães, que se estendem surpreendentemente para trás da revenda da Massey Fergusson, às margens da dilapidada BR-163, é possível sentir o excitamento do elétrico Orcival para dezenas de funcionários. Na recepção, representantes argentinos de um dos fundos internacionais interessados no grupo esperam impacientes a vez de falar com o empresário, que desfaz e refaz sua agenda ao sabor das solicitações que chegam pelo celular ou pela BR-163. "Os namoros estão avançados, e quem sabe a gente escolhe a noiva para casar." Com o preço dos alimentos em alta, e embalado por uma poderosa combinação de natureza favorável e empresários insaciáveis, o chamado Médio Norte de Mato Grosso está fervendo. A microrregião desfruta hoje do pacote completo do agronegócio brasileiro: soja, milho, algodão, arroz, frangos, suínos (incluindo produtos industrializados), gado, frigoríficos, madeira, mudas de árvores, processamento de soja, biodiesel, entre outros. Agora, até a cana pode chegar à região, e há quem aposte que com os mesmos estupendos índices de produtividade que caracterizam a agricultura nesse enorme platô que se estende em torno do eixo que vai de Nova Mutum (264 quilômetros ao norte de Cuiabá) a Sinop (200 quilômetros ao norte de Nova Mutum). A economia e a população do Médio Norte estão em crescimento acelerado. Tomando-se quatro entre as mais dinâmicas cidades da microrregião, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop (todas ao longo da BR-163), a população saiu de 144.670 em 2000 para 216.005 em 2007, com crescimento de 49%. A população dos três municípios menores, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso, cresceu 58% nesse período, de 69.737 para 110.243. A população brasileira cresceu 8,4%, a do Centro-Oeste, 13,6%, e a de Mato Grosso, 14%. De 2002 a 2005, o PIB nominal das quatro cidades cresceu 90%, o dobro do Brasil. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só tem dados do PIB nominal para os municípios, que cresce mais que o real porque inclui a inflação. Com a aceleração do crescimento populacional e a alta mundial do preço dos alimentos, que está acirrando a onda de investimentos no Médio Norte, é possível que o PIB da microrregião tenha se descolado ainda mais fortemente do brasileiro desde 2005. Em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), essas quatro cidades estão entre os 10% mais altos dos 5.567 municípios brasileiros. Sorriso, a mais bem classificada, está em 194º lugar.

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