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‘O Brasil está no centro dos nossos planos’, diz presidente mundial da Anglo American

Segundo Cynthia Carroll, País responde hoje pelos maiores investimentos da mineradora

Por Daniela Milanese
Atualização:

A mineradora Anglo American tem a agressiva meta de elevar sua produção mundial de commodities em 50% até 2015. Para chegar lá, conta principalmente com os grandes projetos no Brasil. O País responde hoje pelos maiores investimentos da empresa, afirmou a presidente mundial da mineradora, Cynthia Carroll. "O Brasil está no centro do nosso crescimento", disse a executiva.

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Nos últimos anos, a Anglo American passou a fazer altas apostas no solo brasileiro, especialmente com o projeto de níquel Barro Alto, em Goiás, e a compra do controle dos complexos de minério de ferro Minas-Rio e Amapá, das mãos do empresário Eike Batista, em 2008. Pouco depois de anunciar o negócio, um susto: o empresário virou alvo da operação Toque de Midas, da Polícia Federal, numa investigação sobre irregularidades na concessão de estrada de ferro no Amapá.

Para fechar a transação com a Anglo American, Eike se comprometeu a cobrir eventuais prejuízos do próprio bolso. Hoje, eles ainda são sócios no porto do Açu, em São João da Barra, e mantêm relação boa e de respeito, segundo Cynthia. A executiva concedeu a seguinte entrevista, na sede da empresa, em Londres:

Qual é o papel do Brasil na estratégia global da Anglo American atualmente?

Estamos aplicando a maior parte dos nossos investimentos hoje no Brasil. Acreditamos que nossa produção global vai subir 50% até 2015. O Brasil tem um papel importante em fazer isso acontecer. Primeiro, com o projeto de níquel Barro Alto (em Goiás), de US$ 1,9 bilhão, que acabou de entrar em operação, em março. Ele vai mais do que dobrar nossa produção mundial de níquel (de 26 mil toneladas por ano para 62 mil toneladas por ano). Também temos a área de minério de ferro. Em 2008, entramos no Minas-Rio, que terá capacidade de produção de 26,5 milhões de toneladas e é hoje o maior projeto de minério de ferro do mundo. Estamos investindo US$ 5 bilhões nele. Haverá mineroduto, unidade de beneficiamento e porto. Além disso, desde o início das perfurações, elevamos o tamanho das reservas de minério em quatro vezes no Brasil, de 1,3 bilhão para 5,3 bilhões de toneladas. Temos o potencial de elevar a produção significativamente. Esperamos iniciar a produção do Minas-Rio no segundo semestre de 2013.

Então, a estratégia é crescimento orgânico ou há outras possibilidades no Brasil?

Estamos sempre procurando por oportunidades. Mas nossos investimentos já são enormes. Você pode perceber que esses dois projetos, um de US$ 5 bilhões e outro de US$ 1,9 bilhão, são muito importantes para a Anglo American e para o Brasil. Ainda temos estudos de viabilidade nas reservas de Jacaré (Pará) e Morro Sem Boné (Mato Grosso). Eles podem adicionar mais 65 mil toneladas de níquel por ano. A um custo realmente muito baixo, em grande escala. O elevado investimento no Brasil é central para o projeto de crescimento orgânico da empresa. Temos uma base de matérias-primas de alto nível. Os projetos no Brasil só contribuem para nossa posição. O Brasil está no centro do nosso crescimento.

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É considerada a possibilidade de parcerias com siderúrgicas no Brasil?

Não vou comentar sobre nada específico, mas posso dizer que sempre estamos procurando formas de otimizar os ativos.

E a possibilidade de listar ações na BM&FBovespa? O empresário Eike Batista pretende listar as empresas dele na Bolsa de Londres...

Não vamos a nenhum lugar para além de onde já estamos, nas bolsas de Londres e de Johannesburgo, na África do Sul. Isso é tudo que podemos, é muito trabalho. Significa que você tem uma base de acionistas da qual precisa cuidar diariamente, e muito bem.

Falando sobre Eike Batista, como está a relação com ele hoje? Vocês ainda são parceiros.

Sim, estamos no porto juntos, a relação é muito boa, o vi há algumas semanas. É muito positivo.

Depois do que aconteceu, a senhora ficou mais cuidadosa com investimentos no Brasil?

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Mais cuidadosa?

Sim, depois das investigações em 2008...

Oh, Deus, não, não. Não estamos mais cuidadosos hoje do que estávamos há alguns anos. Nós sempre fomos cuidadosos. Temos uma relação de trabalho muito boa, de respeito mútuo (com Eike). O projeto Minas-Rio é de alta qualidade e iremos produzir a um custo muito baixo. Estamos muito satisfeitos com o que fizemos, será uma grande operação, muito competitiva. Estamos trabalhando muito nisso, não tem sido fácil. Temos muitos desafios.

Qual o principal desafio hoje no Brasil?

Conseguir as licenças de operação no prazo para avançarmos com os projetos. Não estamos onde gostaríamos hoje, mas chegaremos lá, estamos muito otimistas.

Por que não estão onde gostariam?

Porque, no Brasil, assim como imagino que ao redor do mundo, o processo de obtenção de licenças definitivas é muito desafiador. E elas precisam ser obtidas para que consigamos progredir com os projetos. Sei que não estou dizendo algo novo para você. Mas estamos sendo bem-sucedidos para administrar os processos. Estou extremamente satisfeita sobre onde estamos e a qualidade dos ativos no Brasil é extraordinária.

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Qual é a perspectiva para o preço do minério no curto e longo prazo?

Não posso dar nenhum número, mas posso dizer que as perspectivas no curto e no médio prazos são muito fortes. Sabemos que o desenvolvimento dos projetos está mais desafiador ao redor do mundo. Desenvolver a infraestrutura não é fácil, e isso é parte das considerações. Para os próximos três a cinco anos, nós achamos que os preços do minério de ferro estarão elevados. Quando novos projetos entrarem em operação, aí é que veremos os preços saírem das máximas. A questão é quando. Não consigo dizer. Debatemos isso o tempo todo.

A relação entre oferta e demanda deve continuar apertada?

Sim. Certamente no curto e médio prazo ficará muito apertada. Enquanto novos projetos não saírem, haverá desequilíbrio.

Quando esse cenário muda?

Isso é o que a indústria está debatendo. Ninguém tem uma posição forte sobre isso, porque a questão é: quando novos projetos entrarão em operação? Há muitos exemplos de grandes projetos ao redor do mundo que têm sido adiados e adiados. Por muitas razões. Porque não conseguem achar mão de obra, dificuldades para construção do sistema de transporte. É com isso que a indústria está lidando.

A China caminha para um pouso forçado ou suave? Ou não haverá pouso?

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A economia chinesa cresceu 10,3% em 2010, este ano deve subir entre 9% e 9,5%. Certamente não é um pouso forçado, nem um grande ajuste. Claramente, a indústria está muito dependente da China. Por outro lado, a perspectiva é muito forte, e por muito tempo. Ao mesmo tempo, esperamos mais volatilidade no mercado, que está muito reativo a qualquer notícia de todas as partes do mundo.

Qual é o impacto da inflação sobre os seus negócios?

Estamos vendo os efeitos da inflação no Chile, na Austrália ou no Brasil. É um grande desafio tentar conter a elevação dos custos. Os custos de produção estão subindo de forma significativa, como a mão de obra, diesel, eletricidade. Isso está sendo visto em todo lugar, uma inflação considerável.

A senhora acredita que a inflação poderá começar a destruir a demanda?

Não. Voltando à China, eles têm uma grande necessidade de infraestrutura e estão muito ansiosos para conseguirem todo o minério de ferro, cobre ou níquel que puderem. Com o terremoto no Japão, qualquer material que deveria ter ido para lá - tínhamos um embarque de cobre já no mar - foi redirecionado para a China. Tudo o que tínhamos. Quando houve um questionamento dos clientes do Japão, os chineses levantaram a mão. Eles absorveram tudo que puderam. Acho que essa é uma indicação de como o mercado continua forte. 

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