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Operadoras de telefonia investem em projetos de energia limpa para cortar emissões e economizar

Teles aceleram projetos de geração de energia para abastecer as operações de antenas, estações e prédios administrativos; corrida acontece em meio à entrada da tecnologia 5G no País, que deve elevar o consumo

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - No início era só uma questão de economia, mas o avanço da agenda ESG (sigla em inglês para os critérios de governança ambiental, social e corporativa) e dos instrumentos financeiros trazidos por ela, somados à aprovação do marco regulatório da geração distribuída no Brasil, estão acelerando a busca de energia renovável pelas operadoras de telefonia.

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A corrida acontece em meio à entrada da tecnologia 5G, que consome mais energia, e após a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, em 2021, que tornou a energia adquirida no mercado livre ou por meio de projetos de geração distribuída mais previsível e barata na comparação com o mercado cativo.

Oi, que vendeu a telefonia móvel, mas manteve a fixa e serviços de internet, planeja instalar 19 novas usinas este ano, tendo 14 já conectadas. Duas entram em operação este mês - uma hidrelétrica e outra solar -, e outras sete até o final de março, entre hidrelétricas, solar e uma térmica de resíduos de pneus. Outras 10 estão previstas para o segundo trimestre, a maioria solar e no Nordeste, informou ao Estadão/Broadcast o vice-presidente de Suporte ao Negócio da Oi, Daniel Hermeto. O próximo passo, antecipa, é estudar projetos de energia eólica. 

Com alto consumo de energia, tecnologia 5G vai demandar ainda mais investimentos por parte das teles. Foto: George Frey/Bloomberg via The Washington Post - 11/1/2022

 A Oi despertou há mais de seis anos para a inclusão de geração de energia renovável nas suas mais de 66 mil unidades consumidoras (antenas, estações, prédios administrativos), além dos 140 mil telefones públicos (orelhões) que ainda mantém no País. A empresa tem atuado tanto na geração distribuída como no mercado livre de energia.

"A gente quis acelerar ao máximo por duas razões. Uma, para depender menos do mercado cativo e ter mais previsibilidade. E a outra foi o marco (regulatório da geração distribuída)", disse Hermeto. As despesas da Oi com energia chegam a R$ 1 bilhão por ano.

Em 2018, a Oi tinha entre 10% e 12% de energia renovável, saltando para 50% no final de 2021. Para este ano, a previsão é atingir 74%. Em 2025, quando termina a concessão da empresa, 100%. 

Hermeto explica que com a compra de energia no mercado livre ou geração distribuída, principalmente solar, a empresa fica menos exposta às bandeiras tarifárias. "É um contrato estável, mais previsível, todos os contratos preveem algum índice de reajuste, seja IPCA, seja IGP-M. Você consegue ter mais previsibilidade, além de ter um custo cerca de 30% mais baixo."

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Além da energia solar, a Oi investe em biogás a partir de lixões, pequenas centrais hidrelétricas (CGHs), biomassa, resíduo de pneus, entre outras. "Se não fizéssemos nada, seriam despesas de mais de R$ 1 bilhão com energia", diz Hermeto, calculando economia de 30% com a diversificação da matriz energética da empresa.

Além dos projetos e da energia adquirida no mercado livre, a Oi também tem buscado economia pela eficiência energética, com a substituição de lâmpadas comuns por LED, aparelhos de ar condicionados mais eficientes, entre outras ações. "Um grande viés foi começar a olhar para a agenda ESG de forma mais sustentável, um ESG Financeiro. Se não tiver sentido financeiro, não existe", diz.

Para o analista da Mirae Asset Pedro Galdi, a corrida das operadoras para a energia renovável ajuda as empresas não apenas na bolsa de valores, tornando os papéis mais atraentes, mas principalmente abre frentes para captações, cada vez mais voltadas para o mundo verde.

"Hoje o conceito ESG tomou proporções representativas, e toda empresa que tenha ou terá exposição global está aderindo aos modelos e experiências realizadas lá fora. O conceito de empresa moderna abraçou a causa e quanto mais sustentável, mais será sua visão positiva no mercado financeiro global. Com isto, as portas de emissões com cunho verde estão ganhando muitos investidores", afirma Galdi.

Autoprodução de energia elétrica

A Claro também despertou cedo para a energia renovável, em 2016, bem antes da agenda ESG se tornar obsessão para o mercado financeiro. A motivação era economizar na conta de luz e para isso foi combinada a autoprodução de geração distribuída à compra de energia no mercado livre. A empresa investe R$ 1 bilhão por ano em energias renováveis e já tem 60% do consumo em energia limpa, com meta de chegar a 80% em julho deste ano.

Usina solar da Oi em Jaíba, Minas Gerais; operadora também planeja investir em energia eólica. Foto: Oi/Faro Energy

"Passados vários anos, somos um dos maiores autoprodutores de energia de geração distribuída no Brasil. Temos 58 usinas já em operação, compensando a baixa tensão. No mercado livre, já temos praticamente 100% da nossa energia de médio e longo prazo da média tensão contratados", disse Hamilton Silva, diretor de infraestrutura da Claro. Segundo ele, cerca de 60% das usinas são de energia solar, seguidas de 28% por usinas a biogás e o restante dividido entre pequenas e micro hidrelétricas. Até julho deste ano, a empresa prevê implantar mais 12 usinas.

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A economia obtida pela Claro em 2021 na despesa com eletricidade foi de R$ 150 milhões, devido às renováveis, o mesmo valor que espera obter, no mínimo, este ano. "Depende de uma variável que é a bandeira tarifária", disse Silva.

A operadora decidiu manter 20% do seu consumo de energia no mercado cativo para ter "uma margem de segurança", fatia que ainda sofre o impacto das bandeiras. Atualmente, a Claro consome 150 megawatts-médios (MWmed) por mês, sendo 100 MWmed em energia renovável. Com a chegada da tecnologia 5G, a previsão é de aumento da demanda de energia. Silva explica que a quantidade de antenas que se utiliza na operação do 5G é maior do que das outras frequências. O 5G tem uma cobertura menor e maior velocidade, o inverso do 4G.

"O 5G tem cobertura menor e velocidade maior, então o 5G vai demandar mais pontos de presença. Esses pontos de presença, que são as antenas, vão demandar mais energia. Meus projetos (de energia renovável) terminam em julho deste ano, mas, conforme a implantação e ampliação da cobertura 5G, vai crescer a demanda de energia e vou ter que aumentar meus projetos de energia renovável", disse.

Outra medida para reduzir o consumo de energia elétrica nas operações é o uso de Inteligência Artificial, desenvolvida em um programa de eficiência energética, que ajusta o uso de energia conforme a quantidade de usuários que estão utilizando o serviço no momento. Também está sendo estudada a mobilidade elétrica para a frota da companhia, mas que ainda depende da fonte que vai abastecer essa frota, já que o setor elétrico brasileiro ainda funciona com usinas térmicas poluentes.

"A gente diminuiu o deslocamento dos empregados da empresa para reduzir a emissão de CO², e também está estudando mobilidade elétrica para a nossa frota. Evitamos cerca de 250 mil toneladas de emissão de CO2 por ano", disse.

Expansão

Na TIM, o uso de energia renovável vem da experiência da matriz, na Itália, onde em 2016 já se falava na importância da agenda ESG. No início, a TIM contava apenas com cinco centrais hidrelétricas em Minas Gerais, que subiram para 46 usinas de fontes diversas em 2021 e devem chegar a 77 em 2023, atingindo assim 90% do consumo de energia elétrica da operadora. 

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"O projeto da TIM hoje é benchmark (referência) no mercado de telecom, temos todos os tipos de usina, menos eólica, estamos em todos os estados do Brasil com algum tipo de geração distribuída. Em 2021 chegamos a 79% do nosso consumo em energia renovável", informou o vice-presidente de Recursos Corporativos, Bruno Gentil.

A possibilidade de chegar a 100% da operação com energia limpa existe e talvez seja obtida pela compra de crédito de carbono, mas ainda não há nada decidido, segundo o executivo. A TIM planeja cobrir todo o território brasileiro com a tecnologia 4G até o ano que vem, e para isso precisa levar não apenas a telefonia como energia elétrica, que ainda não chega a muitos pontos do País. O projeto é substituir os antigos geradores a diesel, óleo combustível ou querosene por energia solar aliada a baterias de lítio.

Antena da TIM com painel solar; empresa quer chegar a 100% da operação com energia limpa. Foto: Divulgação/Highline

"Onde você não tem oferta de energia, você coloca os painéis solares, em locais isolados e também rodovias. Na Rio-São Paulo tem dois ou três bolsões de sombra, a gente também prevê essa cobertura nas rodovias para não ter falha de sinal”, disse o executivo.

Outro movimento do setor foi a decisão de migrar, até ano que vem, 100% de seus data centers, localizados em São Paulo e no Rio de Janeiro, para a nuvem, em parceria com a Oracle e a Microsoft. Com a meta de atingir a neutralidade de emissões de gases efeito estufa (GEE) em 2030, a TIM espera reduzir com o projeto tanto o gasto de energia como as emissões.

"A TIM foi a primeira operadora que anunciou que vai colocar na nuvem 100% do seu data center, isso é uma questão de estratégia da companhia e também uma questão de eficiência energética, zera o consumo de energia dos data centers", disse.

Outra aposta são os biosites eólicos, torres metálicas com aparência de poste de iluminação pública com estrutura de transmissão de sinal que permitem reforçar e expandir a cobertura de voz e dados. A primeira foi instalada na praia da Pipa, no Rio Grande do Norte. O objetivo é reforçar a cobertura 4G da região e será estendida para várias localidades

"A população aumenta, o número de clientes aumenta, a cobertura do 5G vai entrar e vai exigir mais antenas e mais energia, e é importante ter conscientização maior da sociedade para questões de ESG", afirmou Gentil.

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Vivo

Já a Vivo foi a primeira a atingir a meta de chegar a 100% de energia renovável perseguida pelas concorrentes. Segundo o diretor de Patrimônio da empresa, Caio Guimarães, desde 2018 a meta foi alcançada pela aquisição de certificados de energia, os International Renewable Energy Certificates (I-Recs), provenientes de energia eólica. 

Com isso, a empresa antecipou em 12 anos o objetivo de se tornar 100% renovável, previsto para 2030. A operadora planeja implantar 85 usinas de geração distribuída, sendo 74% de fonte solar, 18% de fonte hídrica e 8% em biogás. Desse total, 22 já entraram em operação e o restante vai entrar ao longo de 2022.

Com a compra dos I-RECs, a Vivo conseguiu reduzir em 70% suas emissões em relação a 2015. Desde 2019, a empresa já é neutra em carbono. 

"Em 2020, iniciamos a expansão de nosso projeto de Geração Distribuída de energia (que começamos em 2018, em Minas Gerais) para todo o Brasil. Com isso, temos a expectativa de reduzir o uso de certificados nos próximos anos. Serão 85 usinas em todas as regiões do País até o final de 2022, que responderão por 89% do nosso consumo em baixa tensão, atendendo mais de 30 mil unidades da empresa", disse Guimarães, que prevê uma economia na despesa com energia da ordem de 10% com essas usinas. 

Além de expandir o projeto de geração distribuída, a Vivo tem meta de reduzir em 90% o consumo de energia por unidade de tráfego até 2025, na comparação com 2015, permanecer com 100% de eletricidade gerada a partir de fontes renováveis, além de reduzir as emissões de CO² na cadeia de valor em 39%, também até 2025.

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