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Para analistas, mudança de regra para pré-sal é aposta arriscada

Por ALUÍSIO ALVES
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Mudar as regras de exploração do petróleo na camada pré-sal incorre em riscos elevadíssimos, que podem resultar em queda dos investimentos privados no setor, acentuada desvalorização da Petrobras e até a deterioração dos fundamentos macroeconômicos do país. Para analistas de mercado, ao sinalizar com novo aparato regulatório no setor, a fim de elevar a arrecadação justamente num momento em que a commodity registra preços recordes, o governo brasileiro concorre a repetir o erro do México, que elevou os gastos públicos na década de 1980 apostando no aumento da receita que viriam com grandes reservas de óleo. "É um negócio arriscadíssimo. Explorar no pré-sal exige muito investimento e só compensa agora porque o preço do petróleo está muito alto. A coisa pode virar e, se elevar o gasto público apostando em receita futura, tem o risco de regressão", disse Beny Parnes, diretor de pesquisa do banco BBM, em congresso da Apimec no Rio. "Não gosto da idéia", concordou Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora e presidente nacional da Apimec. Segundo Bandeira, as reservas do pré-sal só foram descobertas justamente porque o governo quebrou o monopólio da exploração no setor, o que permitiu à Petrobras realizar convênios com 37 companhias estrangeiras. "Explorar o pré-sal demanda investimentos elevados, o que o governo não tem", afirmou à Reuters. Além disso, argumentou, a criação de uma nova empresa 100 por cento estatal para administrar essas reservas, deixando as petroleiras apenas na condição de prestadoras de serviço, faria o governo assumir todo o risco do investimento. "É uma idéia muito ruim", frisou. Para Ricardo Amorim, diretor para mercados emergentes do banco WestLB, o temor em relação ao surgimento de um novo modelo que possa prejudicar a Petrobras já está pesando no comportamento das ações da companhia. "No auge dos últimos meses, a empresa chegou a ser a sexta maior no ranking das maiores petroleiras do mundo. Hoje é a décima primeira", informou. As discussões sobre o tratamento que será dado à exploração das possíveis reservas gigantes de petróleo e gás natural do pré-sal, uma faixa que se estende por 800 quilômetros do Espírito Santo à Santa Catarina em águas ultra-profundas da costa brasileira e podem conter bilhões de barris de petróleo, acontecem no âmbito de uma comissão interministerial que deve entregar propostas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por volta do dia 19 de setembro. Na quarta-feira, o presidente Lula afirmou que ainda não há decisão sobre as novas regras, depois de ter afirmado na semana passada que o pré-sal não poderia ficar "na mão de meia dúzia de empresas".

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