SÃO PAULO - Em nota conjunta, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC defenderam um corte maior na taxa básica de juros. Há pouco, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduziu a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 11% ao ano. Recentemente, as entidades patronais e de trabalhadores se uniram em um movimento para pressionar o governo por juros mais baixos.
"A situação é grave e não há pressão inflacionária, e concordamos que o Copom deveria ter feito um corte mais agressivo na taxa de juros, para afastar de vez o risco de redução da produção e do emprego", afirma a nota, assinada pelos presidentes das entidades, Paulo Skaf (Fiesp), Luiz Aubert Neto (Abimaq), Miguel Torres (Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo) e Sérgio Nobre (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC).
Na nota, as entidades enfatizam que os dados mais recentes da economia brasileira indicam queda na atividade industrial e no comércio varejista e desaquecimento no mercado de trabalho e no crédito. "É importante frisar que a redução da taxa de juros implicará economia adicional para os cofres públicos. Cada ponto porcentual da taxa Selic equivale a R$ 17 bilhões em gastos públicos adicionais", diz o texto. "Além disso, os altos juros encarecem nossos produtos e levam parte da renda de nossos consumidores."
Da mesma maneira, os presidentes da Força Sindical, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) avaliaram como "extremamente tímida" a decisão do Comitê. As entidades sindicais consideraram que a autoridade monetária perdeu uma "ótima oportunidade" de reduzir a taxa de juros em um momento de encolhimento da demanda mundial. "A qual poderia funcionar como um estímulo para a criação de novos empregos e para o aumento da produção no País", ressaltaram. As entidades sindicais argumentam que o Brasil tem a "possibilidade" e a "oportunidade" de manter e dinamizar neste momento a atividade econômica interna, bem como de gerar emprego e renda, se apostar no mercado interno por meio da redução da taxa de juros. "A redução dos juros é também importante para conter a valorização do real, que tanto afeta as exportações e a produção industrial brasileira", lembram as centrais sindicais, as quais alegam que a cada corte de um ponto porcentual na taxa de juros o governo federal economiza R$ 17 bilhões com o pagamento de juros da dívida pública. "Na luta pela redução da taxa de juros, os trabalhadores estão unidos a todos os brasileiros que querem ver o Brasil livre da especulação financeira desenfreada."
Redução não traz riscos à inflação, diz CNI
Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou que a a decisão do Copom é correta e evidencia a preocupação do Comitê com a retração já em curso da atividade econômica no País". De acordo com a Confederação, "não há mais dúvida de que a economia brasileira já sofre os efeitos de uma nova fase da crise internacional". E portanto, defende a entidade, "a prioridade, agora, deve ser mitigar seus impactos no Brasil". Para a CNI, ao antecipar-se à nova fase da crise, o Copom adotou postura diferente da crise de 2008, quando foi tímido. Na opinião da entidade, a continuidade da política de redução de juros é fundamental para amenizar a desaceleração da produção industrial, setor mais afetado pela crise. A entidade ainda considera que essa redução "não traz riscos imediatos à inflação, uma vez que os dados recentes mostram desaceleração da taxa inflacionária, principalmente em função dos preços dos alimentos". Esse cenário, prevê a CNI, deve manter o IPCA próximo ao limite superior da meta do ano.
Decisão 'sadia e sensata'
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) considerou "sadia" e "sensata" a decisão do Copom. O corte feito pela autoridade monetária, na avaliação da entidade, deixa o Brasil com uma taxa de juros mais próxima de um dígito. Mas a Fecomercio-SP fez uma ressalva: "É apenas a correção de um equívoco do governo federal quando estabeleceu um arsenal macroprudencial no final de 2010 para combater a alta dos preços", afirmou, em nota. O presidente da Fecomercio-SP, Abram Szajman, lembrou que, desde aquele momento, a entidade tem alertado sobre o erro conceitual das decisões. "Conter inflação proveniente de gargalos produtivos e de fatores pontuais e localizados através de política monetária tradicional custa muito caro em termos sociais e produz um efeito pífio, como estamos vendo no momento", ressaltou. "Além disso, não havia um processo de super endividamento ou de risco de descontrole de inadimplência, para o qual houve a adoção de medidas restritivas no mercado de crédito", acrescentou. Na avaliação da entidade, o mercado está sob controle e não há evidências de um processo de inadimplência a caminho. A Fecomercio-SP espera que em 2012 o Banco Central persiga uma taxa menor, reduzindo o porcentual para um dígito por "um bom período de tempo". A entidade argumenta, na nota, que não consegue identificar os motivos pelos quais o Brasil tenha de manter taxas básicas de juros no curto e no longo prazos "tão elevadas". "Há situação fiscal favorável, câmbio apreciado, inadimplência e mercado de crédito sob controle, sistema financeiro robusto e saneado, e, funcionamento institucional adequado", afirma. "Talvez hoje no mundo nenhum outro país se encontre na mesma situação, tão favorável para combinar crescimento econômico sustentável com taxas de juros baixas", emenda.