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Perdigão e Sadia superam entraves para criar a Brasil Foods

Representantes das duas empresas definem as principais questões que faltavam para assinar contrato

Por David Friedlander e Ricardo Grinbaum
Atualização:

Depois de meses de suspense e várias reviravoltas, os principais acionistas de Sadia e Perdigão resolveram no últimio domingo as últimas pendências técnicas para a união das duas companhias. Executivos de bancos e advogados que representam os acionistas passaram o fim de semana discutindo como resolver as questões que faltavam para a assinatura do contrato. Segundo uma fonte ligada às negociações, "há 99% de chances" de a fusão ser anunciada nesta segunda-feira, 18.

 

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Os controladores das duas empresas já haviam acertado o negócio desde a semana passada, mas faltava esclarecer alguns pontos. A principal dúvida era o que fazer com a holding financeira, que controla o banco e a corretora da Sadia, e que tem um patrimônio líquido de cerca de R$ 200 milhões. A holding não foi incluída no negócio, mas acionistas da Sadia gostariam de transferi-la para a nova empresa para, em seguida, vendê-la.

Já os controladores da Perdigão não aceitaram a transferência, mesmo que temporária, com o argumento que o estatuto da companhia proíbe participação em bancos. Com a recusa da Perdigão, os sócios da Sadia cogitaram ficar com a holding, mas desistiram depois de avaliar que sem a grife e a estrutura da Sadia seria arriscado manter um banco. A solução encontrada foi a liquidação do banco, mesmo implicando em perdas para os acionistas. Já a corretora provavelmente será transferida para a nova empresa, para ser vendida em seguida.

Com a superação dessa questão, os advogados foram encarregados de preparar os contratos para a assinatura. Até o início de ontem, os papéis ainda não haviam sido assinados. Mas os acionistas das duas empresas têm pressa. Eles avaliam que quanto mais rápido fecharem negócio menos resistências enfrentarão para a fusão.

A Brasil Foods, esse é o nome de batismo, nasce exibindo uma coleção de títulos globais, segundo contas feitas pelos analistas: maior empresa de alimentos industrializados do Brasil, a 10 ª maior das Américas, número um do mundo no processamento de carne de frango. Populares e respeitadas pelo consumidor, as marcas Sadia e Perdigão serão mantidas.

A operação vem sendo tratada como fusão ou incorporação da Sadia pela Perdigão e será feita por meio de uma troca de ações. A ideia é que os papéis da nova empresa tenham liquidez e valorização suficientes para oferecer às famílias Fontana e Furlan, controladoras da Sadia, condições satisfatórias se quiserem sair do negócio. Os acionistas da Perdigão ficarão com 68% da Brasil Foods e os da Sadia com 32%.

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Como o capital da nova empresa ficará pulverizado no mercado de ações, os dois grandes acionistas de Sadia e Perdigão continuarão predominando na nova sociedade. São a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que lidera os controladores da Perdigão, e as famílias Fontana e Furlan, da Sadia. O conselho de Administração terá dois presidentes, um de cada lado: Nildemar Secches, da Perdigão, e Luiz Fernando Furlan, da Sadia.

Numa segunda etapa, o negócio prevê uma emissão pública de ações, com o objetivo de captar algo como R$ 4 bilhões. O BNDES pode entrar nessa operação, comprando papéis da nova empresa. Os recursos serão usados para capitalizar a companhia e tentar equacionar as finanças da Sadia, que entra na Brasil Foods carregando um prejuízo de US$ 2,6 bilhões com derivativos de câmbio.

A operação dá origem a uma estrutura que emprega cerca de 100 mil funcionários, vende seus produtos em mais de cem países e faturou R$ 22 bilhões no ano passado. No Brasil, a nova empresa domina mais de 50% do mercado em diversos segmentos, como carnes congeladas, massas e margarinas.

A maior transformação, no entanto, deverá ocorrer no cenário internacional. A expectativa dos analistas é que a partir de agora a Brasil Foods concentre forças no exterior. Uma passará a vender os produtos da outra. O plano é aproveitar a boa imagem que a Sadia construiu no exterior. Hoje, sua logomarca pode ser facilmente avistada em outdoors nas ruas de Bagdá ou de Moscou.

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Uma das primeiras providências, segundo um dos acionistas da nova companhia, será reavaliar duas providências tomadas pela Sadia como reação à crise: a venda da fábrica da Sadia em Kaliningrado, na Rússia, e o engavetamento do projeto de construção de uma nova unidade nos Emirados Árabes.

Obstáculos

A partir de agora a Brasil Foods terá pela frente decisões importantes e alguns obstáculos. No campo das escolhas, será preciso enxugar custos. Os analistas mais radicais falam em ganhos de sinergia de até R$ 4 bilhões, o que significa fechar fábricas em áreas onde as duas empresas estejam muito próximas umas das outras, unificar estruturas, demitir funcionários.

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Entre as barreiras, destacam-se o processo de aprovação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)e a situação financeira da Sadia. O percurso no Cade tende a ser difícil, já que há forte concentração de mercado em vários segmentos.

Quanto ao quadro financeiro da Sadia, a tentativa de diluir seu endividamento dentro da nova estrutura envolve uma oferta pública de ações organizada para captar cerca de R$ 4 bilhões. Nos balanços do primeiro trimestre, as duas empresas apresentaram resultados ruins, com um prejuízo somado superior a R$ 400 milhões.

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