O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve retração de 0,2% em 2009, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 11. Trata-se do primeiro resultado negativo da atividade econômica brasileira desde 1992. Naquele ano, o do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, o PIB ficou negativo em 0,5%. Já no quarto trimestre de 2009, o PIB registrou aumento de 2,0% ante o terceiro trimestre do mesmo ano e variação positiva de 4,3% ante igual trimestre de 2008. Todos os números ficaram dentro das estimativas dos analistas. (Ao final do texto, leia a explicação sobre o que é o PIB.)
No quarto trimestre de 2009 em comparação com o terceiro trimestre do mesmo ano, o destaque foi o desempenho da indústria. O setor cresceu 4,0% no período. Na mesma base de comparação, a agropecuária teve variação neutra (0,0%) e o setor de serviços, o de maior peso no PIB, aumentou 0,6%.
Na comparação de outubro a dezembro de 2009 em relação ao mesmo período de 2008, a indústria também cresceu 4,0%, o setor de serviços teve expansão de 4,6%, enquanto a atividade agropecuária teve queda de 4,6%. No acumulado de 2009, a atividade da indústria teve queda de 5,5%, a agropecuária recuou 5,2%, enquanto o setor de serviços cresceu 2,6%.
Todos os quatro grupos de indústria da pesquisa do PIB cresceram no quarto trimestre de 2009 em relação ao mesmo período de 2008, o que não acontecia desde o terceiro trimestre de 2008, o último antes da crise. A indústria de transformação se expandiu 4,7%. A extrativa mineral mostrou desempenho positivo de 5,6%. A construção civil aumentou 2,5% e os serviços industriais de utilidade pública, como energia elétrica, gás e água se ampliaram 1,4%.
Nos últimos três meses de 2009, a extração de minério de ferro teve a única alta do ano na comparação com o mesmo período do ano anterior, de 1,8%. "A siderurgia, a metalurgia e a mineração vinham caindo nos trimestres anteriores", observou a gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis. A extração de petróleo e gás, que já vinha crescendo ao longo do ano, teve expansão de 5,7% no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.
Investimentos recuam em 2009, mas já mostram recuperação
Os investimentos, ou Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), se expandiram 6,6% no quarto trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior. O aumento foi de 3,6%, na comparação com o quarto trimestre de 2008, período de crise. Em 2009, os investimentos caíram 9,9% em relação a 2008.
A taxa de investimento (FBCF/PIB) total de 2009 ficou em 16,7% ante 18,7% em 2008. A taxa de investimento do ano passado foi a menor desde 2006, quando ela ficou em 16,4%. A formação bruta de capital fixo é constituída principalmente por máquinas e equipamentos e pela construção civil. Já a taxa de poupança (poupança/PIB) ficou em 14,6% em 2009, enquanto em 2008 foi de 18%. A taxa de 2009 foi a menor desde 2001 (14,6).
Exportações e importações têm queda em 2009
As exportações cresceram 3,6 % no quarto trimestre em relação ao terceiro trimestre do ano passado e caíram 4,5% na comparação com o quarto trimestre de 2008. Em 2009, as exportações tiveram queda de 10,3% em relação a 2008.
As importações contabilizadas no PIB aumentaram 11,4% na comparação do quarto trimestre de 2009 com o período de julho a setembro do mesmo ano. Em relação ao quarto trimestre de 2008, elas aumentaram 2,5%. Em 2009, as importações caíram 11,4%, ainda mais que as exportações.
A contabilidade das exportações e importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços e as variações porcentuais divulgadas dizem respeito ao volume. Já na balança comercial, entram só bens e o registro é feito em valores, com grande influência dos preços.
Consumo das famílias e do governo cresce
O consumo das famílias, segundo o IBGE, registrou alta de 1,9% no quarto trimestre de 2009 ante o terceiro trimestre do mesmo ano. Já na comparação com o quarto trimestre de 2008, o consumo das famílias aumentou 7,7% nos últimos três meses do ano passado, fechando 2009 com expansão de 4,1%.
O consumo do governo, por sua vez, teve alta de 0,6% no quarto trimestre de 2009 ante o terceiro trimestre de 2009 e cresceu 4,9% no quarto trimestre do ano passado ante igual período do ano anterior. No acumulado de todo o ano de 2009, o consumo do governo acumulou uma expansão de 3,7%.
IBGE revisa PIB do 3º trimestre
O IBGE revisou a variação do PIB do terceiro trimestre de 2009 em relação ao segundo trimestre do ano passado de 1,3% para 1,7%. O Instituto também revisou a variação do PIB na série em relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal, para outros trimestres: no segundo trimestre de 2009, de 1,1% para 1,4% e no quarto trimestre de 2008, de -2,9% para -3,5%. A queda de -0,9% no primeiro trimestre de 2009 ante o quarto trimestre de 2008 foi mantida. Em valor, o PIB em 2009 totalizou R$ 3,143 trilhões e no quarto trimestre foi de R$ 849,6 bilhões.
Entenda o que é o PIB
O Produto Interno Bruto representa o total de riquezas produzido num determinado período num país. É o indicador mais usado para medir o tamanho da economia doméstica. No Brasil, o cálculo é realizado pelo IBGE, órgão responsável pelas estatísticas oficiais, vinculado ao Ministério do Planejamento.
O cálculo do PIB leva em conta o acompanhamento de pesquisas setoriais que o próprio IBGE realiza ao longo do ano, em áreas como agricultura, indústrias, construção civil e transporte. O indicador inclui tanto os gastos do governo quanto os das empresas e famílias. Mede também a riqueza produzida pelas exportações e as importações. O IBGE usa ainda dados de fontes complementares, como o Banco Central, Ministério da Fazenda, Agência Nacional de Telecomunicações e Eletrobrás, entre outras.
O PIB pode ser medido de duas formas, para um mesmo resultado. Quando o PIB é analisado pela ótica de quem produz essas riquezas, entram no cálculo os resultados da indústria (que respondem por 30% do total), serviços (65%) e agropecuária (5%).
Outra maneira de medir o PIB é pela ótica da demanda, ou seja, de quem compra essas riquezas. Nesse caso, são considerados o consumo das famílias (60%), o consumo do governo (20%), os investimentos do governo e de empresas privadas (18%) e a soma das exportações e das importações (2%).