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Preço da energia atinge valor máximo e setor tem inadimplência

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

O valor da energia atingiu nesta sexta-feira o preço-teto de 569,59 reais o megawatt-hora, que vai vigorar na próxima semana e aumentar a dor de cabeça dos consumidores que estiverem sem contrato no mercado, disseram agentes do setor. Isso pode inclusive gerar o fechamento de algumas comercializadoras de energia e a redução da produção de indústrias, por causa de eventual controle de gastos. O preço-teto, estabelecido pela agência reguladora, a Aneel, é atingido quando os reservatórios das hidrelétricas estão em seus níveis mais baixos, limitando a evolução do valor para um patamar inviável à segurança do setor. Para o pequeno consumidor, a conta da energia mais cara devido à falta de chuvas virá no longo prazo, na época da revisão anual das distribuidoras, e pode nem ser tão alta, dependendo do tempo pelo qual a atual estiagem se prolongar. Na avaliação dos agentes, apesar de afastado o risco de faltar luz no curto prazo, após o anúncio pelo governo de medidas para economizar água dos reservatórios de hidrelétricas, os altos preços da energia devido ao despacho da geração de usinas térmicas poderão levar a um racionamento pelo custo e atrapalhar o crescimento da economia do país, além de provocar inadimplência no setor. "Esse preço é um grande prejuízo para a indústria, vai ter que reduzir a produção para administrar os custos", avaliou o vice-presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Cristiano Amaral. Na primeira semana de janeiro, o preço do MWh era de 247,01 reais. Na próxima terça-feira, os grandes consumidores representados pela Abiape --entre eles Vale, Votorantim, Alcoa, Camargo Correa Energia-- se reúnem com o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, para debater o problema. As empresas associadas à Abiape investiram mais de 21 bilhões de reais nos últimos 10 anos para acrescentar 7 mil megawatts ao sistema elétrico brasileiro nos últimos anos, a fim de garantir a própria energia, mas as regras mudaram no atual governo e muitas já pensam em migrar para o mercado cativo (por contrato de longo prazo). O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica, Renato Volponi, da Enertrade, prevê que muitas empresas não vão conseguir sobreviver a essa crise, principalmente pela falta de cultura de um negócio razoavelmente novo no país, a comercialização de energia. "A estrutura comercial do setor elétrico não tem experiência nem preparo para trabalhar com essa alta de preço, porque para alguns essa exposição vai ficar pesada", disse. "A única vantagem agora é que desse preço não passa". Mesmo que a energia ultrapasse o preço-teto de 569,59 reais o megawatt-hora, o excedente entra como Encargo do Serviço do Sistema, que no primeiro instante é pago pelas distribuidoras e num segundo momento repassado para o consumidor. Volponi afirmou que todas as distribuidoras de energia têm um certo nível de exposição, o que vai levá-las a comprar energia no mercado à vista, assim como comercializadoras também terão problemas para fechar as suas contas. "As comercializadoras pequenas estão muito expostas e podem até quebrar, e também alguns consumidores, porque hoje até padaria pode comprar energia no mercado livre", exemplificou. SEGURANÇA COMERCIAL Para Volponi, em vez de se preocupar apenas com a segurança energética, o governo e os agentes do setor deveriam estar mais preocupados com a segurança comercial da crise de energia. O executivo disse que em fevereiro será possível ter idéia do tamanho do prejuízo da indústria. "Em fevereiro vai se saber o tamanho da exposição e pode ser que sejam transferidos prejuízos para a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que não tem um fundo para segurar esse rombo. Isso pode trazer instabilidade para o setor", alertou. Também preocupado com o aumento de custos, o presidente da Associação dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apinee), Luiz Fernando Vianna, teme pelas comercializadoras de energia e por consumidores expostos ao mercado à vista, o que poderia levar a uma inadimplência no setor. "Nossa preocupação é que o índice de inadimplência na CCEE, que é bem baixo, aumente. O mês de janeiro vai ser o grande teste", afirmou Vianna, dizendo ser impossível saber quais empresas estariam expostas ao mercado à vista. Ele prevê que muita negociação deverá ser feita daqui para frente entre a indústria e fornecedores, e que poderá haver retração na produção para gestão de custos, ou mesmo a convocação de férias coletivas para tentar driblar o aumento dos gastos com energia. (Edição de Roberto Samora e Camila Moreira)

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