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Presidente do Bradesco diz que está mais difícil repassar a alta dos juros ao crédito

Octavio de Lazari Junior afirmou que aumento acelerado da Selic e a competição com novos bancos digitais como o Nubank tem feito a instituição elevar os juros de forma mais lenta

Foto do author Matheus Piovesana
Por Matheus Piovesana (Broadcast)
Atualização:

A combinação entre maior concorrência e aumento acelerado da taxa Selic tiveram efeitos no Bradesco. Neste momento, o banco tem visto maior dificuldade em repassar o aumento dos juros aos clientes. Entretanto, conseguiu elevar os preços dos empréstimos, embora admita que esse processo esteja mais lento do que seria natural em outro contexto.

"Está muito mais difícil (repassar a alta dos juros ao crédito)", disse o presidente do banco, Octavio de Lazari Junior, em encontro com jornalistas nesta sexta-feira. "A competição está mais difícil, a taxa está alta e subiu rápido demais." 

Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco;banco tem visto maior dificuldade em repassar o aumento dos juros aos clientes. Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão

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Como o Estadão/Broadcast mostrou no fim de outubro, analistas de mercado preveem que a maior competição pelos recursos dos brasileiros entre os bancos tradicionais e concorrentes digitais deve desacelerar a alta do spread, que é a diferença entre o custo de captação dos bancos e o valor que eles cobram nos empréstimos. A previsão é de que essa margem suba, mas mais devagar do que em outros ciclos de alta da Selic.

Lazari afirmou que, no cenário atual, com a economia em ritmo mais lento, fica mais difícil cobrar juros no mesmo patamar da Selic, acrescidos de um spread, mesmo para grandes empresas. "É difícil para o empresário, por isso o mercado de capitais parou", disse ele, referindo-se ao fechamento das operações no mercado local.

A maior concorrência inclui o Nubank, que está próximo de abrir seu capital nas Bolsas de Nova York e de São Paulo e pode chegar ao mercado valendo mais que o Bradesco e o Itaú Unibanco. Lazari disse que, com o aumento do escopo das fintechs, Nubank incluído, a regulação precisa acompanhar o risco sistêmico que elas passam a representar, assim como ocorre com os bancos. Mas fez elogios ao concorrente.

"Eles (o Nubank) são muito competentes, tem como dar certo", afirmou. O que não significa, de acordo com ele, que a diferença entre o valor de mercado dos grandes bancos e das fintechs, com vantagem para elas, esteja correta.

"O valution (valor de mercado) dos bancos não está errado, está um absurdo. É irracional um banco que dá R$ 25 bilhões de lucro por ano, paga dividendos e faz recompra, valer 1,2 vez o valor patrimonial", disse ele. "Mas o mercado vai reconhecer isso em breve."

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Olho em 2023

A expectativa dos executivos do banco é de que o cenário precificado pelos juros futuros não se concretize. Hoje, o DI com vencimento para 2029 indica taxa de quase 11%, mesmo com um recuo nos últimos dias após a aprovação da PEC dos Precatórios. Para o presidente do conselho de administração do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, a aprovação do texto, inclusive, traz um pouco mais de racionalidade ao mercado.

"O menor rigor fiscal para 2022 já foi definido na PEC. Para 2022, os indicadores já estão dados", disse ele. "O País precisa crescer, e vamos ter que encontrar essa fórmula."

Eles expressaram, de modo geral, que independente do déficit do ano que vem ou do resultado das eleições, o importante é que o próximo governo faça o que for necessário para evitar que os juros futuros de hoje se concretizem.

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Sobre as eleições, Lazari disse que, em outras ocasiões, candidatos pouco competitivos 12 meses antes do pleito ganharam a eleição. "Sempre há espaço para uma terceira via", afirmou Lazari. "Independente do time ou do partido que ganha, nosso trabalho é cuidar do banco."

O plano do Bradesco no ano que vem é crescer, mesmo com a economia brasileira em marcha lenta. Isso inclui elevar as margens dos empréstimos atuais e continuar concedendo crédito, mas não significa que o banco, tradicionalmente conservador com seus patamares de capital, vá tomar mais riscos.

"Não tomamos mais risco porque a inadimplência vai vir. Já passamos por isso antes", disse Lazari. Segundo ele, a alta dos juros também inibe grandes investimentos das empresas, o que reduz o apetite por crédito. "O crescimento do País fica comprometido, as empresas vão no máximo financiar capital de giro de curto prazo", afirmou.

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Entretanto, não há outro caminho, na visão dele, a não ser o de elevar os juros. No mundo dos investimentos, de todo modo, o Bradesco está pronto para não deixar a peteca cair mesmo que a Selic mais alta tire atratividade da Bolsa. Lazari afirmou que a Ágora, corretora do grupo para pessoas físicas, vai crescer mesmo com a migração para a renda fixa graças à sua prateleira variada de produtos.

Até agora, o negócio tem dado alegrias ao banco. "A Ágora está indo melhor do que esperávamos", afirmou.