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Projeção de alta do juro para 9% ao ano é unânime entre analistas

Agência Estado ouviu 84 instituições; Copom decide hoje a noite a nova taxa Selic, atualmente em 8,5% ao ano

Por Denise Abarca , Flavio Leonel , Maria Regina Silva e da Agência Estado
Atualização:

SÃO PAULO - A despeito da disparada do dólar e das expectativas de um iminente aumento nos preços dos combustíveis, e seus impactos na inflação, os economistas continuam unidos na aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manterá o ritmo de aumento da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual no encontro que termina hoje. A expectativa unânime das 84 instituições do mercado financeiro que participam do levantamento do AE Projeções é de que o juro básico da economia subirá esta semana dos atuais 8,50% para 9,00% ao ano.

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Esta já era a percepção das 40 casas que figuraram da pesquisa parcial sobre a decisão do Copom divulgada pelo serviço especializado do Broadcast na segunda-feira da semana passada (19). Dado o aumento da pressão no câmbio, com o dólar rompendo o patamar de R$ 2,45, e os rumores de que o governo anunciará em breve um reajuste nos preços da gasolina e do óleo diesel, o que se viu nos Departamentos Econômicos nos últimos dias foi uma onda de revisões para cima para a taxa básica ao final deste e do próximo ano, enquanto a expectativa para a decisão de agosto foi preservada.

Caso o Copom não sancione o consenso do mercado para agosto, a aposta "alternativa" estaria mais para 0,75 ponto porcentual do que para 0,25 ponto, dado que, além do câmbio e do combustível, a inflação corrente já começou a subir. Contudo, os economistas consideram essa decisão muito pouco provável, uma "zebra", pois toda a sinalização do Banco Central está no sentido de manutenção do compasso de alta de 0,50 ponto.

Além da ata do Copom e de diversas declarações dos membros do BC reforçarem esta hipótese, no começo da semana passada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, em nota, alertou para os riscos da incorporação de "prêmios excessivos" nas taxas de juros e garantiu que "não deixará de ofertar proteção cambial aos agentes econômicos e, se necessário, liquidez aos diversos segmentos do mercado".

Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada, afirma que a comunicação da autoridade monetária é o principal argumento a sustentar as apostas de alta da Selic para 9,00% em agosto. "É uma questão de sinalização. O BC não deu nenhum tipo de evidência de que poderia aprofundar esse movimento. Ao contrário, Tombini falou que os prêmios da curva estão excessivos. Se fosse o caso, ele teria aproveitado o momento para sugerir aceleração do ritmo", disse.

Para a Rosenberg & Associados, "não faria sentido uma aceleração do ritmo de alta, pois o quadro internacional é incerto", afirmaram os economistas, em relatório. "Tampouco uma redução, uma vez que a inflação em 2014 é tema recorrente", complementaram.

Para os economistas, a preservação do atual ritmo também está relacionada à questão da coordenação das expectativas dos agentes. "Subir 0,75 ponto deixaria o mercado pouco confortável em relação aos próximos passos. O BC teria de manter esse ritmo na reunião seguinte e o mercado perderia parâmetro. Haveria compressão adicional na curva, o que iria contra tudo o que o Tombini falou", disse Campos Neto.

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Não que o mercado não acredite que a alta de 0,75 ponto seria a decisão mais correta. "Não seria algo ruim. É necessário colocar o juro num patamar mais alto até para atenuar a questão cambial, mas não é o que parece que eles pretendem fazer", disse o economista da Tendências.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, uma eventual aceleração do ritmo pelo BC seria feita não como uma reação ao câmbio, mas sim porque a autoridade monetária estaria trabalhando com um orçamento total de ajuste maior para a Selic. "Neste caso, não faria sentido então manter uma estratégia tão gradualista, de 0,50 ponto, para não esticar muito o ciclo", afirmou.

Na mesma linha que o colega da Tendências, Lima afirma que "90% dos analistas dizem que teria de ser mais (que 0,50 ponto)". Para ele, o principal problema não é o câmbio, que é mais uma consequência da deterioração dos fundamentos e de uma política econômica equivocada. "O que menos me preocupa é o câmbio. Tem de mudar a percepção dos fundamentos, a política monetária está equivocada há dois anos", comentou.

Se confirmada a projeção do mercado para o encontro de agosto, a Selic voltará ao patamar de 9,00% de abril do ano passado. Esta será a quarta rodada de aumento do atual processo de aperto monetário iniciado no último mês de abril, quando a Selic passou de 7,25% para 7,50%.

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