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Protesto reúne mais de 1 milhão na França

Confrontos entre jovens e a polícia ofuscaram manifestações contra a reforma da previdência

Por Andrei Netto e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Mais de 1 milhão de franceses voltaram ontem às ruas na sexta jornada de protestos contra a reforma da previdência promovida pelo governo de Nicolas Sarkozy. Mas poucas centenas de jovens ofuscaram as manifestações e atraíram a atenção, com quebra-quebras e confrontos com a polícia em cidades como Paris, Nanterre, Argenteuil, Lyon e Mans.

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A pressão de jovens e de sindicatos aumenta porque a lei deve ir à votação até quinta-feira.

Os protestos pacíficos ocorreram desde o início da manhã em 266 cidades da França, o maior deles em Paris. Segundo contagem realizada pelo Ministério do Interior, 1,1 milhão de trabalhadores e estudantes teriam participado das passeatas. Para os sindicatos, o número chegaria a 3,5 milhões. Houve greves parciais no transporte público, na circulação de trens internacionais, nos aeroportos – com 30% dos voos cancelados em Roissy-Charles de Gaulle – e nos serviços públicos.

O movimento confirmou a capacidade de mobilização dos sindicatos, que pela sexta vez em 45 dias reuniram mais de 1 milhão de pessoas nas ruas. Apesar do sucesso do movimento, a violência em diferentes regiões da França preocupou os líderes do grupo intersindical. Em uma semana, segundo o Ministério do Interior, mais de 1,1 mil "vândalos" foram presos pela polícia durante confrontos com a polícia.

Na terça-feira, evitar conflitos foi uma das grandes preocupações dos líderes sindicais. François Chérèque, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), maior central sindical do país, multiplicou as advertências durante a passeata em Paris, pedindo à multidão que não cedesse a provocações.

Em meio ao protesto da capital, os manifestantes demonstraram apoiar a adesão de jovens, mas sem violência. "Cada vez que a juventude se mobiliza na França, há atos de vandalismo. Mas não acho que eles devam ser supervalorizados, nem que devamos deixar de nos mobilizar", disse Marie-Thérèse Deleplac, funcionária pública de 62 anos que planeja seguir na ativa.

Entre os jovens que participavam da manifestação, uma das preocupações foi demarcar a diferença em relação aos "vândalos". "Essa é uma reforma injusta e os trabalhadores não podem pagar pelo déficit causado pela crise do sistema financeiro", argumentou Yann A. P., 20 anos, estudante de História da Sorbonne. "Nós, jovens estudantes, estamos deixando claro de forma pacífica que não permitiremos que o trabalho precário se estenda até os 67 anos."

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Bloqueio

No meio político, os partidos de esquerda denunciaram ontem a intransigência de Sarkozy, que não teria aberto espaço à negociação sobre a elevação da idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos.

Líderes do Partido Socialista (PS), sempre marcado pelas divisões internas, desfilaram de braços dados. Olivier Besancenot, um dos expoentes da esquerda trotskista, defendeu o aprofundamento do bloqueio econômico do país como forma de pressionar o governo a recuar. "A greve geral começa a tornar forma. A questão que se põe agora é manter o bloqueio econômico para bloquear a reforma."

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Em resposta, o governo prometeu firmeza nas negociações no Senado, onde uma maratona de negociações será realizada até amanhã, data prevista da votação. Em pronunciamento na Assembleia Nacional, o primeiro-ministro, François Fillon, descartou um recuo. "A intimidação, o bloqueio e a violência são a negação de democracia e do pacto republicano", protestou. "Ninguém tem o direito de tomar o país inteiro como refém."

Em Deuville, onde se reunia com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, Sarkozy reafirmou seu compromisso: "A reforma é essencial. A França está engajada e a França a implementará".

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