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Puxado por fintechs, investimento em startups triplica no País em 2021

Fundos de 'venture capital' investiram R$ 46,5 bilhões no ano passado, 4.º recorde seguido, segundo a Abvcap, enquanto aportes em grandes empresas sofreram retração

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:

A corrida pela digitalização e a grande liquidez global levaram os fundos de venture capital, que investem em startups, a bater um novo recorde anual de aportes no Brasil. Esses fundos aportaram R$ 46,5 bilhões no ano passado em startups brasileiras, triplicando a cifra registrada um ano antes, segundo pesquisa da KPMG e da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), obtida com exclusividade pelo Estadão. Foi o quarto ano consecutivo de resultado recorde.

O impulso veio principalmente das startups ligadas ao setor financeiro (fintechs) e ao segmento de seguros (insuretechs), que concentraram quase 30% desse montante, conforme o levantamento. A lista dos dez maiores aportes em startups realizados no ano passado mostra bem esse domínio, com quatro operações ligadas ao setor financeiro. 

C6 Bank e outras fintechs receberam investimentos em 2021 Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Como resultado da grande injeção de liquidez nas startups, o Brasil teve uma “avalanche” de novos unicórnios, como são chamadas as empresas que passam a ter uma avaliação no mercado superior a US$ 1 bilhão. Entre elas estão a MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, C6 Bank, Facily e Olist.

Na contramão

Já fundos de private equity, que investem em empresas mais maduras, no entanto, foram na direção contrária, mostra o levantamento da KPMG e Abvcap. Os investimentos dessas gestoras no Brasil caíram 19%, para R$ 7,3 bilhões, refletindo os fracos indicadores econômicos locais. 

O presidente da Abvcap, Piero Minardi, aponta que esse descolamento dos investimentos para as startups é uma realidade brasileira. Em outros países, essas cifras costumam andar juntas – em geral, os cheques dos fundos de private equity são mais gordos. 

O problema, aqui, é a falta de confiança no avanço do Produto Interno Bruto (PIB) – hoje, o mercado prevê um crescimento inferior a 0,3% para 2021, resultado muito abaixo da média global. “O venture capital é menos sujeito ao crescimento da economia”, frisa Minardi, que comanda o fundo americano Warburg Pincus no Brasil. A gestora que está por trás de grandes negócios, como a Petz.

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Minardi lembra que, ao longo dos últimos anos, os private equities também tiveram suas atividades abaladas pela volatilidade do câmbio – o que continuar a ser um problema ao longo de 2022. 

Realidades distintas

Sócio líder de Private Equity e Venture Capital da KPMG no Brasil, Roberto Haddad comenta que o salto da indústria de venture capital no País ficou mais evidente em 2020, momento que os recursos para esse tipo de investimento se voltaram ao Brasil. “Hoje o jovem sabe que, se ele tiver uma ideia bem executada, ele terá dinheiro disponível”, afirma.

De acordo com Haddad, os fundos dedicados a negócios em estágio inicial devem continuar aquecidos neste ano, sendo que ainda há muitos setores a ser explorados, como as agritechs (startups dedicadas ao ramo agropecuário) e healthtechs (de saúde). 

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Além disso, o especialista aponta que esse segmento é menos sensível aos percalços da economia e se abala menos com os juros e a taxa de câmbio, que tecnicamente podem acabar com a rentabilidade dos fundos de private equity.

A disparada do dólar passou a ser um problema para os fundos voltados a grandes empresas que fizeram investimentos há alguns anos no País. Isso porque o fundo que comprou um negócio na época de câmbio a R$ 3 ou R$ 4 agora pode perder dinheiro mesmo se vender o negócio por um valor superior, em reais. Na conversão para dólar para “pagar” a matriz, o negócio corre ainda o risco de valer menos do que o valor originalmente pago. “O câmbio é nosso gargalo. Essa incerteza é nosso calcanhar-de-aquiles.”

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