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Queiroz Galvão perde 2/3 das receitas e corta à metade total de funcionários

Situação da empreiteira, envolvida na Lava Jato, piorou no mês passado, após o Tribunal de Contas da União (TCU) declarar a empresa inidônea por suposta fraude na licitação da usina nuclear Angra 3; nesta semana, construtora teve bens bloqueados

Por Renée Pereira
Atualização:

Desde que foi envolvida na Operação Lava Jato, no fim de 2014, a construtora Queiroz Galvão perdeu quase dois terços de seu faturamento e reduziu o quadro de funcionários para menos da metade. Ainda assim, a empreiteira era vista como uma das menos afetadas pelo escândalo pelos avanços que havia conquistado nos últimos meses.

Declarada inidônea por suposta fraude em Angra 3, empreiteira não pode participar de novas licitações Foto: Fábio Motta|Estadão

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Primeiro teve os bens desbloqueados pelo Supremo Tribunal Federal (STF); depois conseguiu a liberação de financiamento de US$ 145 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um projeto no exterior; e deu início as obras de novo projeto, de R$ 200 milhões. Mas há três semanas o cenário mudou radicalmente e uma série de notícias ruins começou a abalar as expectativas de recuperação da empresa.

Numa ação que alcançou outras quatro companhias, o Tribunal de Contas da União (TCU) declarou a empresa inidônea por suposta fraude na licitação da usina nuclear Angra 3. Com a medida, a construtora ficou proibida de participar de novas licitações do governo federal, o que pode levar a empreiteira à derrocada. Na quarta-feira, outra medida atingiu em cheio a empresa. O TCU bloqueou os bens de oito empreiteiras investigadas na Lava Jato, sendo a Queiroz Galvão uma delas.

Em nota, antes dessa última decisão do tribunal, a empresa afirmou que vai recorrer da declaração de inidoneidade. “A Construtora Queiroz Galvão acredita que a decisão será revertida após apreciação, pelas autoridades, de seus fundamentos de defesa. A empresa usará os recursos cabíveis para esclarecer os fatos e preservar suas atividades no mercado.” Especialistas avaliam, porém, que será uma tarefa difícil se livrar do selo de inidoneidade, que acaba afetando também os negócios com o setor privado.

“As empresas não querem ter relação com uma construtora que tem essa imagem e esse selo”, afirmou o executivo de uma concorrente, que prefere não se identificar. Terceira maior empreiteira do País, a Queiroz Galvão viu suas receitas caírem de R$ 5 bilhões para R$ 2 bilhões, desde que executivos da empresa foram presos na Lava Jato.

Estrutura. A nova realidade fez a empreiteira rever toda a estrutura, afirmou um ex-funcionário da companhia. Quatro escritórios regionais foram fechados e a unidade de São Paulo, que antes ocupava dois andares no bairro do Itaim Bibi, agora foi reduzida a apenas um pavimento. As medidas de contenção de despesas abrangeram de cortes de motoristas para o alto escalão a renegociações de contratos com fornecedores. Um deles, que prefere não se identificar, disse que o objetivo é reduzir os valores.

Quando o escândalo de corrupção estourou no Brasil e envolveu todas as grandes construtoras, a Queiroz Galvão estava num processo de mudança na gestão. Até 2013, Ildefonso Colares Filho, atualmente em prisão domiciliar, era o presidente da construtora, onde trabalhou por mais de 40 anos, ditou seu estilo e fez a empreiteira crescer a um preço que agora começa a ser cobrado.

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Com sua saída – segundo fontes de mercado, por questões de saúde –, a empresa passou a ser comandada pelo mineiro de Montes Claros, Petrônio Braz Júnior, que também já teve de prestar depoimento na Polícia Federal. Sob sua liderança e sob o efeito da Lava Jato, ele cortou mais de 13 mil funcionários (de 25 mil para 12 mil trabalhadores) e diminuiu os níveis hierárquicos. Hoje, por exemplo, a empresa não tem vice-presidência, afirma um ex-funcionário.

Rebaixada por agências de classificação de risco, com uma dívida de R$ 1,6 bilhão (sendo R$ 929 milhões no curto prazo) e sem caixa, a empresa tem apostado no amplo programa de compliance, com canal de denúncia terceirizado, e na nova diretoria criada para buscar negócios privados. Esse grupo tem sido responsável, por exemplo, pela negociação com os franceses da Vinci, que venceram a concessão do aeroporto de Salvador. Apesar das apostas do mercado de que a empresa não sobreviveria à inidoneidade, a carteira de obras da empreiteira vai até 2021 – quando terminaria o castigo dado pelo TCU.