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Receita deixará de arrecadar R$ 43,508 bilhões com renúncias fiscais

Valor corresponde a mais do que o dobro do orçamento do Ministério da Educação para 2011

Por Lu Aiko Otta e da Agência Estado
Atualização:

A Receita Federal deixará de arrecadar R$ 43,508 bilhões este ano, na forma de renúncias fiscais (dispensa de recolhimento de impostos e contribuições) referentes a programas na área social, como os abatimentos do Imposto de Renda para gastos com saúde, dedução de doações aos fundos da criança e do adolescente, entre outros. É o que aponta estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta terça-feira, 18. Do ponto de vista técnico, essas renúncias fiscais correspondem a gastos do governo federal. Porém, eles não são tão acompanhados e monitorados quanto as despesas diretas do governo, constantes do Orçamento da União.

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No total, incluindo na conta os gastos tributários não específicos de áreas sociais, as renúncias fiscais deverão atingir, em 2011, R$ 116,1 bilhões ou 2,98% do Produto Interno Bruto (PIB), aponta o estudo, com base em dados da Receita. Somando-se as renúncias na área de Previdência, como as reduções decorrentes do Simples, a conta chega a R$ 137,2 bilhões, ou 3,53% do PIB. Segundo o estudo, trata-se de um volume significativo, "mas pouco analisado e discutido." Só para comparar, os técnicos do Ipea informam que esse montante equivale a cerca de 10% de carga tributária total e é mais do que o dobro do orçamento do Ministério da Educação para o ano, que atinge R$ 63,7 milhões.

"Não se trata de defender sua redução ou extinção, mas de reconhecer que este conjunto de recursos merece maior esforço de análise sobre sua qualidade, eficiência, eficácia e efetividade, tanto quanto os recursos diretamente executados pelo orçamento", afirma o estudo. Em sua edição de hoje, o Estado informa que a conta de renúncias fiscais deverá chegar a R$ 146 bilhões no ano que vem e alerta para a falta de transparência no uso desses recursos, na mesma linha do estudo do Ipea.

A análise do Ipea mostra que as renúncias fiscais na área social estão concentradas na região Sudeste, onde ficam 51% dos recursos. Esse resultado era esperado, diz o estudo. Isso porque é nessa região que se concentram as grandes empresas e a população de maior renda, que utilizam as deduções do Imposto de Renda.

O Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) concentram 59,42% das renunciais fiscais. Esses dois tributos são também aqueles cuja arrecadação o governo federal divide com Estados e municípios, por meio dos fundos de participação. Por isso, os governadores e prefeitos ajudam a financiar os programas federais beneficiados com as renúncias, observam os técnicos do Ipea.

O estudo sugere, "em nome do princípio da transparência fiscal", que seja estimada a perda potencial provocada pelas renúncias fiscais a programas que são financiados por meio de vinculações tributárias. Por exemplo: a área de educação deve receber no mínimo 18% das receitas de impostos da União. Porém, as renúncias reduzem o volume arrecadado. Propõe, também, que os gastos decorrentes das renúncias fiscais sejam traduzidos na mesma linguagem dos gastos diretos, para permitir uma avaliação conjunta da alocação dos recursos governamentais.

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