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Renda fixa volta a ser vista como porto seguro, mas investidor precisa ficar atento com opções

Por rentabilidade e segurança ante a Selic alta, investidor já injetou quase R$ 100 bi na modalidade em 2022 e sacou R$ 23 bi de fundos de renda variável, aponta Anbima

Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Wesley Gonsalves
Por Fernanda Guimarães e Wesley Gonsalves
Atualização:

Com o juro no Brasil subindo de forma galopante, o brasileiro mudou a direção de seus investimentos, migrando da renda variável para a renda fixa. O saldo de entrada de dinheiro em aplicações de renda fixa se aproxima de R$ 100 bilhões no acumulado deste ano, enquanto os fundos de renda variável reportaram saques de mais de R$ 23 bilhões no mesmo período. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Sede da B3, em São Paulo; renda fixa volta a ser protagonista na carteira de diversos investidores Foto: Werther Santana / Estadão

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A busca é por rentabilidade mas também por algum porto seguro, em um momento de mais turbulência nos mercados. A migração do fluxo de recursos ganhou ainda mais apelo com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic para 11,75%.

“Começamos a identificar esse movimento na metade do ano passado, quando internamente foi se concretizando um cenário de inflação e algum ruído político. Isso começou a gerar uma certa aversão ao risco”, diz o diretor da Anbima, Pedro Rudge. “É uma inversão: os investidores reavaliaram suas alocações e viram maior atratividade dos instrumentos de renda fixa, não apenas pelo desejo de mais rentabilidade, mas por produtos menos voláteis.”

Os dados da B3 também mostram grande saída de recursos, um movimento contrário ao verificado em 2020, quando o investidor foi atraído para o mercado de renda variável, atrás de maiores ganhos, apesar dos riscos, diante da Selic a 2% ao ano, na mínima histórica. Enquanto os estrangeiros investiram mais R$ 73 bilhões na Bolsa no acumulado deste ano (um recorde no Brasil), as pessoas físicas foram na direção contrária e sacaram mais de R$ 16 bilhões até aqui, de acordo com dados da Bolsa. 

Mudança de portfólio

Além de impulsionar a busca por um investimento mais conservador, a alta na Selic e a volatilidade do mercado de capitais têm levado alguns investidores a deixar a Bolsa, apostando novamente em aplicações mais simples. Esse é o caso do geólogo Thomás Bodelão. Investidor da Bolsa desde 2017, ele passou a elevar o aporte mensal feito na renda fixa.

O investidor Thomas Bodelão passou a reduzir a sua exposição na renda variável e a procurar oportunidades na renda fixa Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

“Depois que a Selic passou de 7%, tive de rever minha estratégia. Mesmo pensando nos ganhos de longo prazo na Bolsa de Valores, acabei buscando opções que pagam bons rendimentos e estão atreladas a essa taxa de juros com mais de dois dígitos”, diz. “Estou aproveitando a oportunidade, até porque hoje minha carteira de investimentos está positiva só por conta da renda fixa.”

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Sócio da Valora Investimentos, Rodrigo Mendonça destaca que o cenário de volatilidade por causa da guerra e da covid, além do ingrediente doméstico com instabilidade política, tornou o cenário ainda mais atrativo para renda fixa. Devido aos juros altos, essa tendência deve se prolongar possivelmente até 2023. “Não enxergamos um cenário de a renda fixa perder a atratividade neste momento”, aponta.

Já a responsável pela renda fixa da área de pesquisa da XP, Camilla Dolle, afirma que os investidores pessoas físicas têm buscado os tradicionais investimentos de renda fixa, como CDB, Tesouro Direto, LCIs e LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio, respectivamente). “Ainda temos um longo caminho para esse investidor ficar mais maduro. De forma consolidada, vemos o investidor se movimentando para a renda fixa apenas com o juro em trajetória de alta.”

Se para os investidores a mudança do patamar dos juros trouxe oportunidades, para as empresas o custo da dívida aumenta, comenta o professor de economia da FGV Henrique Castro. “Com o aumento dos juros, é esperado que os preços das ações oscilem mais.”

Opções

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A rentabilidade de algumas opções chama a atenção. Já há CDB com retorno de mais de 12% ao ano, além de oferta de aplicações com rentabilidade de 200% do CDI (taxa que acompanha bem de perto a Selic). No entanto, nesse caso, de acordo com Camilla Dolle, trata-se de estratégia de captação de novos clientes pelas instituições.

A especialista afirma que o investidor, no geral, precisa fazer o cálculo para saber se o investimento está mesmo valendo a pena, especialmente no que diz respeito a imposto de renda, já que a tabela é regressiva na renda fixa: vai de 22,5% para quem fica com o investimento por até 180 dias, mas cai para 15% para prazo acima de dois anos. Algumas modalidades são isentas de imposto.

Além do imposto de renda, é preciso ficar atento ao IOF para investimento com menos de 30 dias. Por isso, o sócio da Valora Investimentos, Rodrigo Mendonça, afirma que o investidor precisa observar os prazos para resgate.

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“Os investimentos em renda fixa mais procurados no atual cenário são os pós-fixados e os atrelados ao IPCA, pois, diante de um descontrole inflacionário e alta da taxa de juros, títulos que possuem rentabilidade atrelada ao CDI, Selic e ao IPCA se tornam mais rentáveis. Mas vale reforçar que títulos prefixados também estão oferecendo taxas atrativas, com produtos que oferecem rentabilidade bruta superior a 1,0% ao mês.” 

Onde investir

Tesouro Direto São títulos públicos federais vendidos para pessoa física de forma totalmente online. O programa oferece diversas modalidades de aplicações, podendo ser prefixadas ou pós-fixadas, ou seja, atreladas à variação da inflação ou da Selic.

Investimento mínimo: R$ 30 

Rendimento: Tesouro Prefixado 2025 (12,55% ao ano); Pós-fixado Selic 2025 (Selic + 0,0502% ao ano); Tesouro IPCA+ 2026 (IPCA + 5,70% ao ano). Valores de 16/3

CDBs O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um dos ativos mais tradicionais no País. Tem liquidez diária e é elegível à cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC (o governo garante o investimento). A remuneração pode ser pós-fixada ou prefixada e a aplicação é vendida por instituições bancárias. 

Investimento mínimo: varia por instituição 

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Rendimento: Entre 100% e 115% do CDI, de acordo com prazo e emissor da aplicação

LCIs e LCAs As Letras de Crédito Imobiliário e as Letras de Crédito do Agronegócio são investimentos emitidos por bancos e lastreados na carteira de empréstimos das instituições relacionados ao setor imobiliário, ou do agronegócio. Ambas são isentas de imposto de renda e podem ser do tipo pré ou pós-fixadas. 

Investimento mínimo: R$ 1 mil

Rendimento: de 85% a 95% do CDI, dependendo do prazo e do emissor da aplicação

Debêntures É um título de dívida que gera um direito de crédito ao investidor. Em outras palavras, uma empresa SA que precisa de recursos para investir no seu negócio toma dívida no mercado de capitais emitindo debêntures em vez de ir a uma instituição financeira. A remuneração pode ser do tipo pré ou pós-fixada e os pagamentos podem vir apenas no vencimento (principal mais juros) ou em pagamentos periódicos. 

Investimento mínimo: R$ 1 mil 

Rendimento: varia em relação ao prazo e emissor da aplicação

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Outros investimentos Há diversos fundos DI disponíveis aos investidores no mercado brasileiro que oferecem ao investidor uma rentabilidade atrelada à taxa de depósito interbancário. Há ainda a caderneta de poupança, que rende abaixo da inflação, e as Letras de Câmbio, que são oferecidas por financeiras como forma de captação de recursos