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Ritmo de crédito recua e está abaixo do esperado por Tombini, diz economista

Para economista-chefe da consultoria LCA, velocidade da alta de crédito em março é menor que o patamar de 12% a 15% apontado como desejável por Tombini

Por Ricardo Leopoldo e da Agência Estado
Atualização:

Está ocorrendo uma desaceleração expressiva da concessão do crédito no País, de acordo com o economista-chefe da consultoria LCA, Braulio Borges, ao comentar os dados referentes às operações de crédito em março, divulgados nesta quarta-feira, 27, pelo Banco Central (BC). Ao analisar as informações a partir de uma média móvel trimestral, Borges apontou que a velocidade do crédito total baixou de uma alta de 26,7% em novembro (no acumulado em 12 meses), para 24,8% em dezembro. Em fevereiro deste ano, foi para 14,1% e cedeu para 11,4% no mês passado. Em relação ao crédito livre, a taxa variou de uma alta de 25,7% em novembro de 2010 para 12,2% em fevereiro e recuou para 10,9% em março.

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"Isto indica que está funcionando a gestão mais abrangente da política monetária do governo, que não se restringe só à alta da taxa Selic, mas também com outras ações, como medidas macroprudenciais e aumento de compulsórios", comentou. Borges destaca outros pontos do relatório: os dados de inadimplência da pessoa física entre 15 e 90 dias, que é uma espécie de indicador antecedente da inadimplência superior a 90 dias, atingiu 5,3% em dezembro, subiu para 5,9% em fevereiro e avançou para 6,5% em março. Outro ponto destacado é a alta do custo do crédito para consumidores, que chegou a 39% ao ano em novembro, aumentou para 43,8% em fevereiro e atingiu 45% em março, o maior nível desde junho de 2009.

A velocidade da alta de crédito em março - de 11,4% na categoria crédito total e de 10,9% na modalidade livre - é menor do que o patamar de 12% a 15%, apontado como desejável pelo presidente do BC, Alexandre Tombini.

Para Borges, em função dos "efeitos positivos" que as medidas adotadas pelo governo para diminuir o descompasso entre a demanda agregada e a oferta, o crédito total deve subir 13% neste ano, ante um patamar próximo a 20% apurado no ano passado. Como as ações oficiais estariam sendo eficientes para desacelerar o nível de atividade e devem levar o PIB a uma expansão entre 3% e 3,5% neste ano, Borges acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, deve adotar mais um aumento da Selic em 0,25 ponto porcentual no dia 8 de junho, que pode ser acompanhado de uma outra elevação na mesma magnitude no dia 20 de julho.

"Talvez não será mais necessária a implementação de mais medidas macroprudenciais, o que explicaria porque o governo não adotou mais ações deste tipo há algumas semanas", ressaltou Borges. "Como o BC não se comprometeu com o fim do ciclo de alta de juros no curtíssimo prazo, pode ser que, além de mais uma alta da Selic em julho, alguma nova medida de restrição de crédito poderá ser adotada até lá", comentou. Para ele, poderia ser implementada algum tipo de ação oficial para limitar a concessão de financiamentos para a compra de automóveis, especificamente com um aumento de requerimento de capital de bancos para a concessão desta modalidade de empréstimos.

Embora seja favorável à estratégia do Banco Central adotada para desacelerar a economia sem levar o País a uma recessão neste ano, Borges destaca que atualmente o BC peca na comunicação de suas ações. Para ele, falta à autoridade monetária deixar claro à sociedade que as medidas que implementadas recentemente tem apoio de muitos especialistas de instituições internacionais, como FMI, BIS, e Banco Central de Israel. "O que o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, ressalta é que depois da crise financeira internacional não é possível ver a política monetária atuar somente em busca de um objetivo com um único instrumento, no caso a queda da inflação e a alta dos juros", destacou. "É preciso também zelar pela estabilidade financeira,a fim de evitar bolhas de créditos e de ativos financeiros, o que não requer apenas concentrar as ações do BC na alta da taxa de juros", comentou.

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