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Sob nova direção, Natura tenta voltar às origens

Em reunião com investidores, novo presidente deixou claro que exército de revendedoras da marca será tratado como prioridade

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller e Monica Scaramuzzo
Atualização:

Um mês após uma inesperada troca de comando, a ordem na Natura é voltar às origens. A fabricante de cosméticos, que abriu suas primeiras lojas em 2016, agora se empenha para mostrar que o exército de revendedoras, que responde pela maioria esmagadora de suas vendas, não será deixado de lado. O novo presidente da empresa, João Paulo Ferreira, reforçou no Natura Day, evento em que a apresenta seus projetos a investidores, que a venda de porta em porta continuará a ser o centro da estratégia da companhia.

Empresa ampliará rede, mas pontos físicos não fazem parte da estratégia principal Foto: Divulgação

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Essa apreensão se traduz em números. No primeiro semestre, o total de consultoras da empresa caiu 3,4% em relação ao mesmo período do ano passado. A companhia argumenta que a queda é pequena. No entanto, sua principal rival em vendas diretas, a Avon, anunciou a maior captação de consultoras de sua história. 

A empresa americana ampliou seu time de revendedoras em 220 mil pessoas só em setembro e outubro. No terceiro trimestre, após várias quedas, as vendas da Avon subiram 14% em relação a 2015 – as receitas da Natura no País caíram 7%, na mesma comparação.

Preço. A retração do total de consultoras e das vendas têm origem em outro fator: o preço dos produtos, que subiu, em média, 9% no primeiro semestre. Como consequência, a Natura, que já praticava valores mais altos do que concorrentes como O Boticário e Avon, viu essa diferença aumentar, uma vez que os rivais seguraram reajustes em 2016. A expectativa é de revisão de preços e mix de produtos, segundo uma fonte próxima à empresa.

À frente do Natura Day, na quinta-feira passada, Ferreira, funcionário de carreira da companhia e nome de confiança dos acionistas, passou a mensagem de que o grupo deverá focar na retomada das consultoras. As lojas físicas, que saíram do papel sob a gestão de Roberto Lima, que ficou pouco mais de dois anos no comando, vão aumentar, mas não é a estratégia principal. O total de lojas da Natura, por enquanto, se resume a cinco unidades em São Paulo e “outras dezenas” deverão ser abertas nos próximos anos, segundo a mesma fonte. Já o plano de maior internacionalização não está entre as prioridades. 

Procurada pela reportagem, a Natura confirmou que existe a intenção de segurar preços e focar em itens mais baratos. “Passamos por um momento em que os consumidores intensificaram a busca por produtos de preços mais baixos e, diante desse cenário, já ajustamos nossas promoções e mix de produtos”, informou a assessoria de imprensa da companhia.

Por anos considerada uma empresa focada em inovação, a Natura agora quer ser inserida no mundo digital. A estratégia multicanal da companhia de cosméticos, que também inclui a venda por e-commerce, visa a segmentar os públicos por faixa de renda e idade. 

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O público-alvo das lojas, que têm aproximadamente 40% do portfólio vendido no porta a porta e se concentra em itens de experimentação, como maquiagem e cremes, são os jovens das classes A e B. A ordem é que a massa de consumidores fique nas mãos das consultoras. “No nosso plano estratégico, esse é o horizonte de longo prazo para Brasil e América Latina”, diz uma fonte ligada à Natura.

Clima. Apesar do renovado discurso da Natura, o analista Guilherme Assis, do banco Brasil Plural, disse, em relatório, que não vê melhoras significativas para a empresa em 2017. “Os resultados recentes apontam para uma recuperação só de longo prazo”. 

No entanto, os ares de mudança com a troca de gestão, embora ainda não tenha surtido efeitos práticos, já fazem a diferença. “O time daqui se empolgou porque sabem que alguém de dentro foi promovido.”

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