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Soja: China pode recusar óleo bruto importado a partir de amanhã

Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo, 30 - Entra em vigor amanhã a Resolução 1.535 imposta pelo governo chinês para regular as importações de óleo de soja. "Trata-se de uma aberração técnica, que se levada a sério impedirá qualquer compra de óleo de soja pela China", afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli. A Resolução fixou como teto para as importações a presença de 100 ppm (partes por milhão) do solvente hexano por tonelada de óleo bruto de soja, quando o teor usual no produto bruto é de 600 ppm. "O hexano é um álcool eliminado no refino do óleo. O produto bruto não é utilizado para consumo humano, além de ser uma matéria-prima cara, retirada no processo de refino inclusive para reaproveitamento industrial", explica Lovatelli. Para o dirigente, a Resolução é uma nova "regra de oportunidade" imposta pelos chineses, como forma de manter em suspenso qualquer decisão técnica sobre os produtos da cadeia de soja. "Continua prevalecendo o critério subjetivo, conforme os interesses do importador", afirma Lovatelli. O anúncio de detecção de vestígios de fungicidas em carga da Argentina, esta semana, seria mais um expediente do governo da China para manter o ambiente de insegurança comercial. O mercado reporta que a carga foi adquirida pela indústria chinesa Wilmar da trading Nidera. O comentário é de que a carga não foi destruída, uma vez que as margens de esmagamento estão positivas na China, o que inibe o "desperdício" de matéria-prima. "Pelas informações que eu tenho o produto foi descarregado normalmente", diz Lovatelli, ressaltando que não há informação sobre ação similar relativa a carga brasileira, conforme os rumores da semana. Segundo Lovatelli, todas as tradings que fornecem soja e derivados para a China estão buscando soluções para os impasses comerciais em fóruns internacionais adequados. "O fórum ideal seria a Organização Mundial do Comércio (OMC), mas para isto dependemos dos governos", destaca. Há algumas semanas correm boatos sobre arresto judicial de cargas já embarcadas para a China no Golfo do México, a partir de ações impetradas por exportadores norte-americanos. A autorização de arresto teria sido expedida por juiz da Inglaterra. Lovatelli diz que é muito difícil confirmar este tipo de informação, mas afirma que as tradings estão buscando apoio da Federação das Associações de Óleos, Sementes e Gorduras (Fosfa, Federation of Oils, Seeds and Fats Associations), organização centenária sediada em Londres que reúne mais de 700 membros de 67 países. A Fosfa elabora os contratos de comércio internacional e arbitra impasses. A intenção das tradings seria a de discutir com os chineses tanto os prejuízos causados pelo embargo à soja brasileira, entre maio e junho, como obter garantias de que não haverá novas devoluções ou barreiras no futuro. Uma das sugestões das companhias fornecedoras de soja à China é a criação de um prêmio de risco nas transações com os importadores chineses, pelo menos enquanto não houver garantia de respeito dos importadores aos contratos internacionais. Um passo atrás ocorreu na recusa do governo dos Estados Unidos em assinar sua versão do "ofício panamericano", na avaliação de Carlo Lovatelli. Reunião em Buenos Aires em julho, entre setor privado e governos do Brasil, Argentina e EUA, resultou no acordo de envio de carta oficial ao governo chinês por cada um dos países exportadores. Brasil e Argentina cumpriram o acordo, e as cartas foram recebidas com "simpatia" pelo Ministério da Quarentena chinês, segundo Lovatelli. "Eles foram simpáticos, mas nada foi modificado. E ficamos enfraquecidos sem a presença oficial dos EUA", disse. Lovatelli diz que os americanos fizeram reuniões em separado com autoridades chinesas, e a decisão de não assinar a carta foi tomada pelo secretário de Comércio Robert Zoellick, cujo departamento tem mais poder em Washington que o de Agricultura. "As associações do setor privado nos EUA ficaram aborrecidas com a capitulação. Mas temos nova reunião geral em Buenos Aires marcada para outubro, e em janeiro vamos todos juntos a Pequim conversar diretamente com o governo e os importadores chineses", avisa o presidente da Abiove. (segue)

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