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Sony pede desculpas por ofensas em e-mails vazados por hackers

Mensagens da copresidente da empresa, Amy Pascal, ofendem o presidente Barack Obama e trazem críticas a vários projetos de filmes da empresa

Por Cecilia Kang
Atualização:
Amy Pascal, da Sony: pedido de desculpas públicas por ofensas em e-mails Foto: Reuters

Quando há uma caricatura sua na parede do icônico restaurante The Palm, isso é sinal do sucesso em Hollywood. E, quando o Palm abriu seu novo endereço em Beverly Hills no mês passado, a copresidente da Sony Pictures Enertainment, Amy Pascal, foi escolhida para uma caricatura na qual aparece com uma pose imitando as Panteras.

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Amy foi uma escolha óbvia. Ela está entre as poucas pessoas que fazem parte de uma indústria predominantemente masculina que decide quais serão as grandes produções do cinema a serem lançadas para o mundo. Os filmes dela para o estúdio - que incluem Spider-Man e Casino Royale - ganharam vários prêmios e trouxeram bilhões de dólares em vendas e bilheterias ao longo dos anos.

Mas todo esse sucesso foi eclipsado essa semana pelo devastador vazamento de e-mails particulares revelando pensamentos muitas vezes desagradáveis - e profundamente ofensivos - que jamais deveriam chegar ao conhecimento do público.

Na mais recente leva de correspondência devassada, Amy e o produtor Scott Rudin debatem um evento de captação de recursos para Obama, revelou o Buzzfeed na noite de quarta feira.

Os dois começam a imaginar o tipo de filme e ator que o presidente mais gostaria, sempre associados a personagens e cineastas negros.

“Devo perguntar se ele gostou de Django (Livre)?”, diz Amy, de acordo com o material vazado. Rudin responde: 12 Anos (de Escravidão). Amy responde: “Ou O Mordomo (do Presidente). Ou Pense como eles?“ Rudin: “Ride-Along. Aposto que ele gosta de Kevin Hart“.

Na quinta feira Amy pediu desculpas, rompendo semanas de silêncio nas prejudiciais e cada vez mais numerosas informações vazadas.

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“O conteúdo de meus e-mails a Scott foi insensível e inapropriado, mas isso não é um reflexo de quem sou de fato“, disse Amy em pronunciamento, referindo-se à troca de mensagens com Rudin não apenas a respeito de Obama, mas também sobre numerosos projetos de filmes.

“Embora fosse uma mensagem particular roubada, aceito total responsabilidade pelo que escrevi e peço desculpas àqueles que se sentiram ofendidos.”

Angelina Jolie: "menininha mimada" Foto: AFP

 Angelina Jolie é citada em e-mail como 'menininha mimada e de talento mínimo'

Brigas. Foi uma resposta tardia para um desastre em andamento que vem ganhando força desde que um grupo de hackers que chama a si mesmo de Guardians of Peace divulgou dados ilustrando todos os aspectos possíveis do funcionamento da Sony, desde informações salariais confidenciais até brigas pessoais.

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O episódio lança dúvidas sobre o futuro de uma das mulheres mais poderosas do mundo das corporações americanas, cujo relacionamento de décadas com pessoas influentes nos bastidores de Hollywood ajudou a Sony Pictures a conseguir alguns de seus maiores projetos de filmes.

A história da ascensão de Amy é digna de um roteiro de cinema. Depois de se formar na UCLA, ela entrou para a indústria do entretenimento como secretária do produtor da BBC Tony Garnett, da Kestal Film. 

Ao desenvolver relacionamentos e aprender o funcionamento do ramo, ela se tornou uma conhecedora dos bastidores e foi nomeada vice-presidente de produção da 20th Century Fox em 1986. O trunfo de Amy era o lado criativo - lidar com cineastas e atores para escolher e desenvolver os filmes.

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Depois de entrar para a Columbia Pictures em 1988, ela supervisionou títulos como Feitiço do Tempo, Mulherzinhas e Tempo de Despertar. Em 2006, após uma sequência de filmes que alcançaram sucesso de público e crítica, ela foi nomeada copresidente da Sony Pictures. Num acordo incomum, ela partilhou o comando com Michael Lynton. A divisão de trabalho entre eles era clara: Amy cuidava do lado criativo, e Lynton, dos negócios.

Quando a Sony Pictures, de Culver City, Califórnia, renovou o contrato dela em 2010, Sir Howard Stringer, presidente da Sony Corp., disse, “Não há dúvida que Amy está transformando Culver City no centro da criatividade, um lar longe de casa para os melhores de Hollywood”.

Amy continuou a produzir sucessos, como A Rede Social e O Espetacular Homem-Aranha. No ano passado, os maiores sucessos do estúdio foram A Hora Mais Escura, A Morte do Demônio e Tá Chovendo Hambúrguer 2.

Bruce Bozzi Jr., vice-presidente executivo da rede de restaurantes Palm, disse, “Foi uma honra colocar Amy Pascal na parede. Ela é uma pioneira”.

Mas, nesse ano, a Sony Pictures apresentou desempenho ruim, ficando atrás de 20th Century Fox, Buena Vista (Disney) e Warner Bros. nas bilheterias.

Os e-mails vazados mostram Amy e Rudin brigando por causa de um filme biográfico a respeito de Steve Jobs. No fim, a Sony perdeu os direitos do filme para a Universal.

Em outros e-mails divulgados, Rudin se queixava da atriz Angelina Jolie, chamando-a de “menininha mimada de talento mínimo”.

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Além do breve pronunciamento de Amy Pascal, a empresa manteve silêncio enquanto novos vazamentos de informação delicada vieram à tona.

Especialistas em relações públicas dizem que Amy precisa assumir a responsabilidade conforme a crise avança.

“Eu convocaria uma entrevista coletiva nacional após o pronunciamento e pediria desculpas ao público, colocando-me à disposição para explicações”, disse Jarvis Stewart, presidente da empresa de comunicação em crises IR+ Media, consultoria com sede em Washington especializada em diversidade.

Existe também pressão para que a Sony garanta aos investidores, funcionários e outros na indústria que a empresa está adotando todos os passos cabíveis para controlar o estrago crescente.

“A Sony precisa convencer os profissionais talentosos que eles podem e devem confiar nela em se tratando de conteúdo”, disse Janet Janjigian, sócia administrativa do Carmen Group e ex-vice-presidente sênior de comunicações da MGM Studios./Tradução de Augusto Calil

 

 

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