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Sucessão no Banco Central evidencia autonomia ainda frágil

Para analistas, perfil do próximo governo determinará grau de independência do sucessor de Meirelles na presidência do BC

Por Nívea Terumi e do Economia & Negócios
Atualização:

A indefinição do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, sobre seu futuro político adia um importante movimento na estrutura de condução da economia brasileira, que é a sucessão presidencial do próprio BC. Mesmo após informar seu partido, o PMDB, de que abria mão da candidatura ao governo de Goiás, Meirelles tem ainda a opção de concorrer ao Senado, decisão que afirma irá tomar até o fim de março.

 

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Se atender à vontade do presidente Lula e permanecer no BC até o final deste ano, Meirelles terá sido o presidente que mais tempo ficou à frente da instituição (veja abaixo galeria com os presidentes do BC desde 1990), após oito anos consecutivos de atuação (antes dele, o presidente mais longevo havia sido Ernane Galvêas, que permaneceu no cargo entre 1968 e 1974 e entre 1979 e 1980). Esse período coincidiu com um momento de estabilidade e independência do BC brasileiro nunca visto antes, amparado pelo crescimento do País e destaque no cenário político-econômico mundial.

 

 

"A principal dúvida do mercado é se o nome que será escolhido pelo próximo presidente da República será alguém com credibilidade indiscutível para o mercado ou uma pessoa com um capital político menor", avalia o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez.

 

Para o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, há uma visão clara para os mercados de que o futuro presidente do BC, independentemente da formação do próximo governo federal, deve contemplar três requisitos: ser um profissional sênior, do ponto de vista técnico e empresarial; ter trânsito internacional; e que goze de credibilidade suficiente para que não haja dúvidas de que o BC manterá sua independência operacional na prática.

 

Independência do BC

 

Mais importante do que o nome que sucederá Meirelles no BC é saber como o próximo presidente do País lidará com a independência atingida pelo BC ao longo dos oito anos de Meirelles no governo Lula, aponta o diretor para a América Latina do Eurasia Group, Christopher Garman.

 

"Atingiu-se um consenso de que o mix de políticas macroeconômicas que leva à inflação baixa é bom para a economia e bom para a política", afirma. Mas o diretor lembra que essa é uma decisão política, ou seja, tudo dependerá de como o próximo governo tratará desse assunto.

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"O fiador de tudo isso foi o próprio presidente Lula, que garantiu a autonomia para que Meirelles conquistasse a credibilidade que conseguiu perante o mercado", avalia Garman. Para ele, toda a incerteza que pode surgir com a transição dentro do BC ocorre justamente por não haver autonomia garantida a ele. "Esse é o custo que o Brasil paga por não ter um BC autônomo", firma.

 

Nomes preferidos

 

No caso de um eventual governo Dilma, há expectativa de que Meirelles continue com algum cargo de confiança na área econômica caso não se candidate a um cargo elegível. A pasta da Fazenda é uma das opções mais prováveis, uma vez que Meirelles já sinalizou que seu ciclo de trabalho no Banco Central se encerra no máximo ao final deste ano.

 

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, é um nome que pode ganhar peso na equipe econômica de Dilma, apesar de muitos analistas apostarem mais fortemente numa indicação para a Fazenda.

 

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Houve até mesmo especulações de que o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, voltaria num governo Dilma no BC, mas essa hipótese é descartada pela maioria dos analistas, restando ao deputado, na opinião deles, uma função de bastidor na montagem da equipe econômica.

 

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, é outra aposta do mercado para compor a equipe de Dilma, mas ainda não há definição sobre qual cargo ele poderia ocupar. "Pode-se esperar um perfil menos ortodoxo no BC num governo Dilma, mas ainda é cedo para apontar prováveis nomes", alega Garman, do Eurasia Group.

 

A questão do câmbio

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No caso de um eventual governo Serra, no entanto, os analistas não se arriscam a apontar nomes fortes, mesmo para o staff econômico. "O mercado espera que possa haver mais ingerência na política monetária num governo Serra, com a indicação de um nome politicamente mais fraco para a presidência do BC", aponta Padovani, do WestLB.

 

"Apesar de estar mais contido atualmente, o governador Serra foi o maior crítico da atuação do BC durante a crise financeira e, por isso, há mais dúvidas sobre como seu governo lidaria principalmente com a questão do câmbio", afirma o cientista político da Tendências. "Há certo incômodo com seu discurso de apreciação cambial."

 

Mesmo diante dessas incertezas, os analistas não duvidam de que o tripé de medidas econômicas ao qual o bom desempenho da economia nos últimos anos é creditado - taxa de câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e política de metas de inflação - será mantido pelo próximo governo, o que deve garantir uma transição no Banco Central bem mais tranquila comparada às expectativas que precederam o início da gestão Meirelles no BC.

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