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Tesoura nas despesas

Lojistas criam opções para reduzir os custos com o cartão de crédito

Por Leonardo Pessoa
Atualização:

Descobrir soluções para suavizar os custos com as operações de crédito ao cliente deixou de ser papel exclusivo das empresas de gestão financeira. Nos pequenos comércios, a necessidade de diminuir despesas tem motivado a criação de alternativas que garantam taxas menores sobre as vendas, melhorando sua competitividade sem deixar de fazer parte de um meio de pagamento cada vez mais utilizado. No primeiro semestre do ano, o volume de cartões de crédito bateu recorde e chegou a 100 milhões em circulação. O movimento chegou a R$ 176 bilhões e o ano deve terminar com um acréscimo de 24%.    Formas de driblar os entraves e exportar  Prós e contras na hora de recorrer ao banco  A hora de ganhar dinheiro  A receita da juventude  O alquimista da perfumaria  As principais fontes de recursos  Como vender para o governo  De carona na vida saudável  Vida longa às empresas  Para quem sonha com grandes negócios  O aquecimento chega a Paraisópolis   No maior comércio popular do País, a Rua 25 de Março, centro de São Paulo, um cartão personalizado começa a engrossar as vendas da região. Ali, comerciantes da União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências (Univinco) lançaram um produto com taxas diferenciadas."Oferecemos um cartão que pode ser adaptado ao negócio de comerciantes com faturamentos menores, que normalmente não interessam às grandes bandeiras", disse Kleber Oliveira, gerente de marketing da Validata, administradora do cartão.   Lançado em setembro do ano passado, o Cartão 25 de Março já contabiliza 200 mil usuários e é oferecido por 300 lojistas. Conforme estimativa da administradora, existe potencial para pelo menos 1 milhão de cartões, 25% deles para pessoas jurídicas. Segundo o diretor executivo da Validata, Márcio Salomão, vantagens não faltam. "O cartão não cobra anuidade. Sua taxa de crédito rotativo é menor (6%) que a do mercado. Além disso, não exige comprovante de renda do cliente", enumera.   Do outro lado do balcão, os comerciantes também registram benefícios. Daniel Ouakil, dono da Katmandu, loja de artigos asiáticos, conta que o aluguel da máquina POS (Point of Sale) para uso do cartão começou a ser cobrado somente seis meses após a introdução do equipamento no estabelecimento. "Agora o aluguel mensal é de R$ 15, bem inferior ao das outras bandeiras tradicionais, cerca de R$ 80." A VisaNet informou que a locação varia de R$ 39 a R$ 135, dependendo da tecnologia utilizada. A taxa de administração é outro chamariz. "Pagamos 2,5%, enquanto as demais chegam a cobrar mais que o dobro", diz Ouakil. Outra loja que aderiu ao cartão foi o Rei do Armarinho. "Recebemos clientes que convivem com uma falta grande de capital de giro e nem sempre têm acesso aos cartões", diz Pierre Sarruf, diretor do estabelecimento. "Ao ter crédito, eles passam a comprar um volume maior ", conta. Sem revelar o faturamento, o diretor do Rei do Armarinho afirma que o cartão aumentou os gastos dos clientes. "Quem gastava R$ 1 mil em uma compra passou para R$ 1.350", calcula.   Há dois anos, empresários de uma cidade no sul de Minas Gerais também descobriram uma forma de alavancar os negócios locais com economia. Por meio da Cooperativa de Crédito de Monte Sião (Credmalhas), eles criaram um cartão exclusivo da região, administrado pela Harmonia Cards, nascida também da comunidade local e conveniada à Credmalhas. O produto é restrito às compras dos cooperados e dos funcionários das malharias filiadas. Mas um pedido ao Banco Central para transformar o grupo em uma cooperativa de livre admissão poderá abrir oportunidades para outros segmentos. Para Marcos de Andrade, gerente da Cremalhas, o desempenho do produto, com 3 mil cartões emitidos, ocorreu graças a alguns diferenciais: seu custo chega a ser 70% menor que o cobrado pelas bandeiras dominantes. Não há anuidade. A taxa administrativa (3%) é menor que a dos concorrenteso e a dívida pode ser refinanciada. Caso o usuário não possa pagar a fatura, a Cooperativa faz empréstimos com juros de, no máximo, 2,5% a 3% ao mês. O empresário paga por mês R$ 35 pela máquina. Em 2007, o cartão movimentou R$ 4,5 milhões.   Usado nas lojas conveniadas, o Credmalhas Shop também chegam a outros comerciantes, mesmo não-filiados, caso do Supermercado Shimoda. "O cartão contribuiu para reduzir a inadimplência,", comemora o proprietário do estabelecimento, Issao Shimoda. A falta de pagamento caiu de 3% para quase 1%.   No Rio de Janeiro, o donoda Bibi Sucos, rede de dez lojas, Sérgio Couto, usa desde 2006 o serviço de mobile payment da operadora Oi, o OiPaggo, que dispensa o dinheiro vivo ou o uso de cartão de crédito. Segundo ele, o uso do serviço ainda carece de uma adesão maior dos clientes, mas é prático e simples. "A transação é efetuada por meio de mensagem SMS", explica. O pagamento vale até para o delivery.   O pagamento é feito entre o celular do cliente e o aparelho do estabelecimento, que possui um chip diferenciado. A cada venda, a Oi fica com 2,99% de comissão. Ainda não há programa de juros. Além disso, não é preciso pagar pelo aluguel de uma máquina nem pelo SMS das transações. Basta ser assinante da Oi, ter o chip Lojista e ser credenciado na Paggo. O cliente paga R$ 2,50 por mês quando utiliza o serviço. O crédito é avaliado quando o usuário liga e faz o cadastro. A fatura é separada da conta do Oi. Mais de 1,3 milhão de clientes estão cadastrados no serviço, aceito em mais de 45 mil estabelecimentos em 14 Estados. São Paulo ainda não integra a lista.   Para ajudar empresários a reduzir os custos com cartões de crédito, o senador Adelmir Santana (DEM-DF) apresentou propostas para a regulamentação do setor. O Projeto de Lei 213/2007, já aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), propõe a fixação de preços diferenciados na venda de bens ou na prestação de serviços à vista, em dinheiro ou cheque, em relação ao valor pago via cartão de crédito. "Nossa intenção é diminuir o custo final dos produtos e serviços ao consumidor, que hoje paga mais caro porque arca, sem saber, com as despesas do empresário junto às operadoras de cartões de crédito", explica. Já o Projeto de Lei 213/2007, que trata do compartilhamento das máquinas POS como forma de reduzir os custos dos comerciantes e lojistas, tem como principal justificativa as abusivas taxas, principalmente quando comparadas com outros países no mundo. "São 70% superiores às praticadas nos Estados Unidos e em alguns países europeus. Por que obrigar os empresários a locar máquinas diferentes?", questiona. O projeto tramita no Senado.

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