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TIM, Claro e Vivo podem ter ganhos de ao menos R$ 13 bilhões com os clientes da Oi

Ganhos bilionários têm origem na transferência de clientes, antenas e radiofrequências para as empresas

Foto do author Circe Bonatelli
Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

O fatiamento das redes móveis da Oi entre TIM, Vivo e Claro vai gerar para o trio sinergias de ao menos R$ 13 bilhões. A maioria dos ganhos será da TIM, com R$ 8 bilhões, seguida por Vivo, com R$ 4,9 bilhões. Os números da Claro, parciais, estão na faixa de R$ 270 milhões.

Os dados constam em documento que fez parte da tramitação do processo pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e ao qual o Broadcast obteve acesso. Os números foram declarados pelas teles e não tiveram auditoria externa, mas passaram por uma análise própria do órgão regulador.

Lojas da Claro e da Oi lado a lado; Tim, Claro e Vivo podem ter ganhos de ao menos R$ 13 bilhões com os clientes da Oi Foto: Nilton Fukuda/Agência Estado - 23/07/2012

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Os ganhos bilionários têm origem na transferência de clientes, antenas e radiofrequências da Oi para o trio. Ao receberem tais ativos, as teles vão aumentar as receitas e diminuir os investimentos que estavam previstos na ampliação das próprias redes. Sem contar o corte e a diluição de custos com a manutenção das operações no dia a dia.

O tamanho das sinergias ajuda a explicar o porquê TIM, Vivo e Claro deram, conjuntamente, um lance de R$ 16,5 bilhões pelas redes móveis da Oi e mobilizaram tropas de advogados para convencer as autoridades regulatórias e concorrenciais a aprovar a transação - que vai aumentar a concentração do mercado e abrir espaço para subida de preços dos planos de celular.

A Anatel concedeu anuência prévia ao negócio, em decisão unânime dos conselheiros, enquanto o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu aval favorável, porém numa votação dividida.

TIM

A principal vencedora na história é a italiana TIM, pois é quem receberá a maior fatia de ativos da Oi. As sinergias são da ordem de R$ 8 bilhões até 2030.

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A alavanca para os ganhos estará na incorporação das radiofrequências - vias no ar por onde transitam os sinais de telecomunicações. Esse é o principal ativo para as operadoras, pois é o que permite aumentar a qualidade e a cobertura do sinal.

A TIM tem bem menos radiofrequências do que as rivais Vivo e Claro, o que a leva a recorrer a acordos de compartilhamento de redes para atender aos consumidores. A companhia chegou a alegar que, sem a compra da Oi Móvel, sua capacidade competitiva iria se deteriorar, aumentando a desvantagem perante as rivais.

Outro ganho para a TIM vem da perspectiva de corte de investimentos na construção de sites - pontos que abrigam antenas, cabos e outros equipamentos de telecomunicações. O atual plano da TIM prevê expansão da sua malha própria de sites em 60% até 2026 para dar conta do tráfego crescente de dados. Já com a incorporação de sites da Oi, a necessidade de expansão da base cairá para aproximadamente 47%.

Vivo

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A Vivo, que pertence à espanhola Telefônica, tem pela frente sinergias na casa de R$ 5 bilhões. Entram nessa conta a integração de estruturas comerciais (publicidade, atendimento a clientes e aquisição de conteúdo), a redução de custos de sistemas de TI e o ganho de receita adicional com os novos clientes.

Outra parte vem do "enxugamento" da infraestrutura. Por exemplo: a Vivo receberá milhares de estações rádio-base (ERBs) da Oi. Uma leva fica em regiões onde a tele iria aumentar a cobertura, enquanto outra parte está em áreas já cobertas - portanto, poderão ser remanejadas ou desligadas, gerando economias com aluguel de postes, manutenção e energia elétrica. A tele calcula que deixará de construir cerca de 3 mil novos sites nos próximos 10 anos.

A Vivo destacou que as sinergias são "particularmente oportunas" em um momento de chegada de novas tecnologias - caso do 5G - marcados pela "premência de obtenção de ganhos de escala ante à janela de investimentos intensivos".

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Claro

A Claro, do grupo mexicano América Móvil, foi a que forneceu menos projeções. Também é a empresa que menos obterá sinergias, pois ficará com a menor parte da divisão da Oi. Ela não receberá, por exemplo, as radiofrequências da rival.

A Claro fala em economia de custos na faixa de R$ 270 milhões. Isso virá do início de cobertura em 317 localidades que, hoje, são atendidas pela Oi e vão passar para a operadora. Ela também espera receber em torno de 4,7 mil sites da Oi. Portanto, a expectativa é de ampliar a cobertura usando a infraestrutura que vai receber na transação combinada com as radiofrequências próprias.

O que dizem as partes

Procuradas, TIM, Vivo e Claro não comentaram os números. Nenhuma delas publicou, oficialmente, suas projeções para as sinergias.

No documento da Anatel, assinado por oito servidores do alto escalão da área técnica, há um reconhecimento de que a divisão da rede móvel da Oi entre as três teles vai gerar ganhos de eficiência operacional e financeira relevantes. Mas, apesar de gerar concentração de mercado, os servidores enxergam benefícios para os consumidores.

Eles lembram que a Oi está em recuperação judicial e com capacidade reduzida de investir, o que resulta em uma cobertura de menor qualidade. "Os benefícios seriam gerados à medida que as ofertas da Oi Móvel forem substituídas por outras capazes de disponibilizar maior bem-estar ao consumidor (maior capacidade de tráfego, cobertura e funcionalidades), desde que mantido um ambiente de rivalidade", afirma o documento.

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Reação do mercado

"A aprovação é um gatilho para TIM, Vivo e Claro, considerando as potenciais sinergias a serem absorvidas, mas principalmente para a TIM, que está comprando a maior participação e terá o maior impacto relativo", descreveu o analista Fred Mendes, em relatório do Bank of America (BofA).

O valor das sinergias é muito aguardado por investidores. O setor de telecomunicações tem um volume crescente de tráfego de dados, mas a quantidade de usuários e o faturamento estão praticamente estagnados. Portanto, ganhar eficiência se tornou uma via ainda mais importante para aumentar a rentabilidade das empresas.

"A transação irá redefinir o cenário brasileiro de telecomunicações nos próximos anos, levando a um ambiente competitivo mais racional e, potencialmente, aumentando o retorno geral do setor", afirmaram os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, em relatório do BTG Pactual. O time do banco calcula as seguintes sinergias: R$ 7,4 bilhões para TIM e R$ 4,8 bilhões para Vivo.

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