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Trigo: sem exportação, safra recorde vira problema para o produtor

Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo, 27 - A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) previram hoje produção recorde para a safra brasileira de trigo 2004/05. A Conab estima colheita de 6,042 milhões de toneladas e o IBGE, de 6,036 milhões de t. Os números do governo confirmam as estimativas feitas nos dois Estados que mais produzem trigo no País e reforçam a preocupação dos produtores paranaenses e gaúchos com a comercialização do produto num cenário de oferta superior à demanda e preços mundiais em baixa. Em 2003, o Brasil também colheu safra recorde, de 5,8 milhões de toneladas, mas a menor produção mundial do grão elevou os preços, e o País, um tradicional importador de trigo da Argentina para mesclar com o produto nacional, conseguiu exportar o excedente de 1,5 milhão de toneladas. Com isso, retirou produto do mercado interno, aliviando a pressão da oferta sobre os preços. O Rio Grande do Sul exportou na safra passada 1,3 milhão de t, a um preço médio de US$ 158/tonelada. Nesta semana, a Argentina fechou negócios com trigo para países do norte da África a US$ 119/t, o equivalente a R$ 340/t ao câmbio de hoje. No mercado brasileiro, o trigo nacional é cotado a R$ 380/t no Paraná e R$ 360/t no Rio Grande do Sul, sem demanda significativa. Segundo a Conab, os gaúchos, que consomem anualmente 700 mil t de trigo produzido no Estado e 300 mil t de trigo argentino, devem colher nesta safra 2,245 milhões de toneladas, o que vai gerar um excedente de 1,5 milhão de toneladas. Por conta disso, o mercado gaúcho vem registrando preços em queda há várias semanas. Segundo a Emater, o trigo gaúcho é comercializado hoje no mercado local a R$ 18,50 a saca de 60 quilos, preço 2,26% menor que na semana passada e 15,9% inferior ao do início de outubro. "Não há perspectiva de reversão no curto prazo. O Paraná está encerrando a colheita de uma boa safra, que abastece o mercado", diz Claudio Doro, assessor técnico da Emater. A avaliação do técnico é de que vender trigo agora é um "prejuízo para o produtor". "Quem está capitalizado e pode armazenar o grão deve esperar para vender. Agora, quem não tem onde guardar, terá de vender a qualquer preço", diz. Segundo seus cálculos, o trigo nacional está hoje US$ 0,68/saca abaixo da cotação histórica de US$ 7,10/saca, ou US$ 6,42/saca. De acordo com ele, produtores devem recorrer aos leilões de contratos de opção de venda que o governo vem promovendo desde a semana passada, e que garante ao detentor do contrato o direito de vender trigo ao governo ao preço mínimo de garantia de R$ 400/t. "É a melhor saída a curto prazo", diz. No Paraná, segundo Otmar Hubner, assessor técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado, muitos produtores têm dívidas junto aos bancos e por isso terão dificuldades para carregar estoques à espera de preços melhores. Segundo ele, produtor do Paraná recebe hoje R$ 21,42 por saca, o que significa R$ 357 a tonelada. "O Paraná já colheu mais de 80% do trigo e com o aumento da oferta a pressão é de baixa, pois os moinhos continuarão comprando devagar", diz Hubner. Para a Conab, é importante que o governo inicie discussões sobre os problemas estruturais da cadeia do trigo, com destaque para o ICMS, cobrado diferentemente por casa Estado, os elevados custos para transportar trigo da região produtora, no Sul, para o Nordeste. Outras questões, segundo avaliação da Conab, são a falta de outros meios de transporte para o cereal, além do rodoviário, e a estrutura deficiente da navegação de cabotagem.

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