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Vencida pela internet, uma das últimas redes de locadoras fecha as portas no interior de SP

'A gente chegava a ter filas para alguns lançamentos', recorda a empresária, que vai fazer um feirão para liquidar os filmes

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - A Vídeo Express, uma das últimas redes de locação de filmes do interior de São Paulo, anunciou que vai fechar as portas, neste sábado, 27, em Bauru, noroeste paulista.

O estoque de filmes será liquidado num "feirão". De acordo com a proprietária Cristina Shibukawa, depois de 25 anos de forte presença no mercado regional, onde chegou a ter nove lojas, a empresa foi vencida pela pirataria e pelas novas tecnologias do setor. 

Rede de locadoras Vídeo Express vai fechar as portas neste final de semana em Bauru, no interior do Estado de SP Foto: Márcio Shibukawa

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"Não dá mais para competir com os piratas e nem eles conseguem fazer frente aos provedores globais de filmes e séries de televisão", disse.

Negócio de família. Cristina lembra que a empresa começou como um negócio familiar na primeira metade dos anos 90. "Meu marido atua na área de propaganda e marketing e, naquela época, as pessoas estavam deixando de ir ao cinema para ver filmes em casa." 

Em poucos anos, o negócio se ampliou e o casal abriu lojas em vários bairros da cidade. A empresária conta que a rede sempre esteve à frente das inovações, passando a oferecer vídeos em 3D e com tecnologia blue ray assim que foram lançados. "A gente chegava a ter filas para alguns lançamentos", recorda.

Na virada deste século, o negócio ainda estava de "vento em popa", mas logo começaram as dificuldades. "No início dos anos 2000, houve um aumento na pirataria e os DVDs piratas eram vendidos aos montes em bancas. Mesmo assim, nós tínhamos um público cativo, principalmente as famílias que gostavam de ver filmes juntas, em casa." 

Panelaço. Ela conta que, em 2003, chegou a participar de um "panelaço" em protesto contra a pirataria. Houve aumento na fiscalização, mas logo surgiram outros obstáculos. "As pessoas começaram a baixar os filmes pela internet", lembra.

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A empresária Cristina Shibukawa, que vai liquidar os estoques e fechar as portas de sua rede de locadoras no interior de SP Foto: Márcio Shibukawa

A popularização das TVs a cabo e a chegada dos serviços de streaming, como a Netflix, levaram ao fechamento de grande número de videolocadoras entre 2006 e 2009, mas o casal Shibukawa ia se aguentando com diferenciais de atendimento, como a entrega dos filmes nas casas. Em 2011, o faturamento das lojas chegou a registrar aumento.

Nos anos seguintes, a situação foi se complicando e a clientela se tornou escassa. Uma a uma, as lojas foram fechadas. No ano passado, o casal decidiu encerrar as atividades da loja pioneira, na Av. Nossa Senhora de Fátima. Por fim, veio a desistência do negócio. "Meu marido volta para o setor de propaganda e eu ainda não sei o que vou fazer", disse Cristina.

Liquidação. Neste sábado, o casal pretende liquidar o estoque remanescente de 8,5 mil títulos, muitos deles lançamentos. Em média, os DVDs serão vendidos entre R$ 8 e R$ 10, mas muitos vão sair por R$ 2 e caixas especiais de DVD, como um box da saga 'Senhor dos Anéis', devem custar até R$ 100. 

A esperança do casal é atrair colecionadores. Nesta sexta-feira, com o anúncio do fechamento, muitos clientes foram à loja para antecipar a compra de filmes.

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Interior. Em Sorocaba, que chegou a ter mais de duzentas videolocadoras, algumas ainda resistem, mas diversificaram a atuação. A Pirata Vídeo passou a atuar com mais força no segmento de games e em assistência técnica para celulares. 

"Ainda temos filmes, principalmente os gêneros que agradam cinéfilos, mas a atividade foi bastante diversificada, por isso não fechamos", disse a sócia-proprietária Lia Antunes.

O declínio do segmento de locação de filmes havia ficado evidente em 2015, com o fechamento da rede 100% Vídeo, com sede em Campinas, interior paulista, e que chegou a ser a maior rede do País. 

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A empresa anunciou o encerramento das atividades "devido à diminuição do mercado", que atribuiu "à falta de legislação específica antipirataria". A nota foi assinada pelo diretor de Franchising da empresa, Carlos Augusto, que era também presidente da Associação Brasileira de Videolocadoras (ABV). A reportagem não conseguiu contato com a entidade.

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