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Dona da Casas Bahia separa R$ 2,5 bi para pagar processos trabalhistas e ações chegam a cair 18%

Após fazer reserva de R$ 1,2 bilhão para escândalo de fraudes contábeis descoberto em 2019, a varejista Via agora dobra valor de provisões diante de enxurrada de reclamações trabalhistas

Foto do author Talita Nascimento
Foto do author Fernanda Guimarães
Por Talita Nascimento e Fernanda Guimarães
Atualização:

Uma nova reserva no valor de R$ 1,2 bilhão no balanço financeiro da varejista Via, dona da Casas Bahia, para possíveis perdas de ações trabalhistas, revirou a confiança do mercado em relação à companhia. Como resultado, as ações da empresa chegaram a despencar 18% na manhã desta quinta-feira, 11, na Bolsa brasileira. 

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O episódio foi visto como uma espécie de “déjà vu”: ano passado, quando a companhia informou ao mercado sobre evidências de fraudes contábeis, descobertas por denúncias anônimas feitas no fim de 2019, no valor de R$ 1,2 bilhão - e que, com isso, o assunto estava encerrado. Mas não foi o que ocorreu. Com essas novas provisões, o total de reservas para problemas na Justiça mais do que dobrou: R$ 2,5 bilhões.

Um gestor aponta que o novo anúncio afeta a confiança do mercado, ainda mais por conta do aumento significativo. Fora isso, a fonte acredita que a economia brasileira, com alta inflação e a taxa de juros caminhando para os dois dígitos, não deixará fácil o ambiente de negócios para a varejista. Com o aumento das reservas, a Via reportou um prejuízo líquido de R$ 638 milhões no terceiro trimestre.

Loja da Casas Bahia; companhia diz que aumento dos processos trabalhistas tem relação com prática antiga de levar os casos até os tribunais superiores, o que gera correção mais alta dos valores. Foto: Werther Santana/Estadão - 8/6/2021

O Credit Suisse apontou que a empresa possui um "legado pesado imprevisível" e rebaixou suas expectativas em relação a ação da empresa, mesmo reconhecendo que a atual gestão tem feito um bom trabalho. 

O Bank of America também apontou o problema com a empresa. “Um aumento nas provisões para reclamações trabalhistas é problemático. Embora a Via tenha implementado mudanças em sistemas e controles, ela pode enfrentar outros impactos, particularmente relacionados a processos mais antigos”, segundo o documento do banco.

Contenção de danos

A companhia sabia do ruído que o novo provisionamento traria. Junto ao seu demonstrativo financeiro, divulgou um vídeo para explicar o efeito do aumento de suas provisões para processos trabalhistas. Reiterou que um aumento de 32% nos valores dessas ações se relaciona a uma prática antiga da companhia de levar os casos até os tribunais de justiça superiores, o que gera correção mais alta dos valores. Além disso, a companhia defende que “grande parte dos valores provisionados é de responsabilidade de antigos sócios”.

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As reclamações trabalhistas da Via aumentaram 82% no primeiro semestre de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. A gestão afirma que as ações se referem a demissões de cerca de cinco anos atrás e que as práticas da empresa mudaram. 

Redução drástica de quadros 

Desde 2011 para melhorar sua rentabilidade, a companhia reduziu em 39% do seu quadro de funcionários, o que impulsionou o número de processos. Agora, a gestão afirma que a rotatividade de funcionários voltou ao normal.

“Essa companhia carrega legados positivos e negativos. Os positivos são maiores e têm condições de pagar os negativos”, afirma o presidente da companhia, Roberto Fulcherberguer, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele diz que “ninguém está feliz” com o passivo, mas que se trata de algo que a gestão tem de “lidar e resolver”.

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Para mitigar os efeitos, a companhia afirma que deve recuperar valores de antigos sócios, responsáveis pelos processos, bem como usar seus cerca de R$ 9 bilhões em créditos fiscais para amortecer os impactos.

Não fica claro o conteúdo dos processos que a companhia tem pela frente, mas a gestão argumenta que tem de negociar com cerca de 300 sindicatos e que podem ter acontecido erros no passado. O vice-presidente financeiro da companhia, Orivaldo Padilha, diz que a empresa mudou sua forma de processar as folhas de pagamento e digitalizou seus documentos que, antes, corriam o risco de se perder nas lojas da rede.

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