Publicidade

Zona do Euro só sobreviverá com menos países, diz Pimco

Para o executivo-chefe do fundo, parte dos 15 países cujos ratings foram colocados em revisão pela agência S&P - entre eles Alemanha e França - deve ter sua nota rebaixada em 2012

Por Luciana Antonello Xavier e da Agência Estado
Atualização:

NOVA YORK - As perspectivas para 2012 não são nada animadoras na visão do chefe-executivo do maior fundo de bônus do mundo, a Pacific Investment Management Company (Pimco). Para Mohamed El-Erian, há muitas "inconsistências" entre os formadores de políticas da zona do euro. Se isso prevalecer, como ocorreu em 2011, os riscos serão maiores para a economia global no ano que vem. "É mais como rolar a bola de neve montanha abaixo - os problemas ficam maiores e a dinâmica torna-se mais difícil de controlar", afirmou o executivo egípcio-americano, em entrevista exclusiva, por e-mail, à correspondente da Agência Estado em Nova York, Luciana Antonello Xavier. Para ele, boa parte dos 15 países cujos ratings foram colocados em revisão para potencial rebaixamento pela S&P deve ter downgrade em 2012. Ele afirma que, para que o euro sobreviva, a zona do euro "acabará se tornando um grupo menor com países com condições iniciais mais semelhantes". Grécia e Portugal, segundo o executivo, são os primeiros da fila para serem excluídos. E o Brasil? El-Erian diz que nenhum país está totalmente seguro, mas que "felizmente, o Brasil tem importantes colchões de proteção que, se gerenciados apropriadamente, irão reduzir as interrupções vindas de fora do País". Leia a entrevista a seguir:Agência Estado - 2012 será pior do que 2011 para a economia global? Mohamed El-Erian - Muito irá depender dos formadores de políticas conseguirem finalmente atingir as realidades a fundo, particularmente a combinação de muita dívida, pouco crescimento e muita desigualdade de riqueza e salários. A Europa e, em menor extensão, a América, estão agarradas à crescente dinâmica viciosa de desalavancagem que mina o crescimento, limita a criação de empregos e piora as desigualdades. Quanto mais as inconsistências dos que elaboram as políticas prevalecerem, como ocorreu em 2011, maiores são os riscos para a economia global como um todo. O senhor espera recessão na Europa em 2012? Se sim, quão profunda ela será? El-Erian - Infelizmente sim. Esperamos contração econômica para a zona do euro como um todo de 0,5% a 1%, com alguma diferenciação. Países como a Grécia irão se contrair muito mais, enquanto a Alemanha poderá até evitar a recessão. O que ainda resta aos formadores de políticas europeus para resolverem a crise na zona do euro? El-Erian - Cinco passos específicos e eles precisam ser implementados simultaneamente e de modo coordenado. E a lista, que já é substancial, irá crescer mais se os formadores de políticas fracassarem em agir em conjunto. Esses Akers (Akers eram deuses do Antigo Egito, os dois leões guardiões) não têm apenas "chutado a lata rua abaixo". É mais como rolar a bola de neve montanha abaixo - os problemas ficam maiores e a dinâmica mais difícil de controlar. Primeiro, a Europa deve decidir como quer se parecer no médio prazo e quem irá pagar a conta devida. A escolha aqui está entre pagar pela zona do euro como existe, com 17 países membros, ou optar por um bloco menor e menos imperfeito. Segundo, a Europa precisa elaborar uma linha crível entre os casos de insolvência e aqueles que enfrentam problemas de liquidez. Terceiro, a Europa precisa considerar a crescente fragilidade do setor bancário complementando o recente suporte de liquidez do Banco Central Europeu (BCE) com medidas para aumentar os colchões de capital e melhorar a qualidade  dos ativos. Quarto, a Europa deve combinar reforma fiscal com medidas estruturais para melhorar o Produto Interno Bruto (PIB) atual e potencial. Quinto, o BCE deve estabelecer circuit breakers para os mercados que estão no meio de uma desalavancagem técnica. A zona do euro sobreviverá como está agora ou o senhor vê países tendo de deixar o bloco? El-Erian -  Suspeito que, se for para evitar a total fragmentação - e é interesse de todos evitar isso - a zona do euro acabará se tornando um grupo menor com países com condições iniciais mais semelhantes. Por enquanto, os países com mais risco de deixar a zona do euro são Grécia e Portugal. 15 países da zona do euro estão sob risco de terem seus ratings soberanos rebaixados em 2012. O senhor acredita que os 15 terão suas notas de crédito rebaixadas? El-Erian - Não todos. Acho que a Alemanha deve manter o seu (rating) AAA, junto com alguns outros países, como Holanda e Finlândia. E os EUA podem ter seu rating AAA rebaixado pela Moody's e Fitch no ano que vem? (A S&P rebaixou a nota do país em agosto, de AAA, para AA+, com perspectiva negativa.) El-Erian - Tanto a Moody's como a S&P têm o rating de crédito dos EUA com perspectiva negativa. Sendo assim, há o risco de mais downgrades, especialmente se a política econômica dos EUA permanecer refém de disputas políticas que beiram a anormalidade. Até que ponto pode-se dizer que os EUA seguirão em melhor posição que a zona do euro em 2012? El-Erian - Os EUA têm maior flexibilidade de políticas, grupos mais homogêneos de estados, é o maior provedor global de bens públicos, incluindo a moeda de reserva mundial. Como o senhor vê as perspectivas para o Brasil e outros demais Brics no próximo ano? Até onde ele estão seguros? El-Erian - Nenhum país está totalmente seguro de uma confusão na Europa e da incapacidade dos EUA de restaurar um crescimento econômico apropriado e criação de empregos no país. Se os formuladores de políticas ocidentais fracassarem em agir juntos, o resultado será crescimento global ainda menor, preços baixos de commodities e o risco material de deslocamentos financeiros. Felizmente, o Brasil tem importantes colchões de proteção que, se gerenciados apropriadamente, irão reduzir as interrupções (nos fluxos de recursos) vindas de fora do País.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.