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Com juro baixo, previdência busca se inovar

Empresas investem em planos multifundos, com diversos tipos de aplicação; Fenaprevi diz discutir novos produtos

Por Yolanda Fordelone
Atualização:

A redução do juro básico para o patamar mais baixo da história, de 8,5% ao ano, impôs um novo desafio aos fundos de previdência privada: inovar seus produtos e gestão para conseguir entregar melhores resultados aos clientes. Os especialistas são céticos em dizer que dificilmente será possível um plano render juro real (juro descontada a inflação) de 6% ao ano, como o brasileiro estava acostumado. Enquanto isso, órgãos reguladores discutem criar novos produtos no mercado. A tendência do juro, segundo a opinião do mercado financeiro na pesquisa Focus do Banco Central, é só de queda. No relatório desta semana, o mercado já esperava a Selic a 7,5% no fim do ano.

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"A legislação da previdência é muito antiga, de 2005, época em que o cenário era outro, de juros maiores", diz o superintendente Financeiro da Mongeral Aegon, Cláudio Pires. Segundo ele, é uma legislação muito restrita para investimentos de maior risco. Por regra, os fundos de previdência privada podem aplicar até 49% em renda variável. "Temos oito fundos, dois que aplicam em ações. Em um deles colocamos o limite de até 20% em bolsa. Nos EUA, onde o juro já é baixo há muito tempo, é o contrário: 20% em renda fixa e 80% em bolsa", compara.

A Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), associação que representa empresas do setor, diz estar de olho nas reivindicações do mercado, já há algum tempo. "A Fenaprevi analisa, em conjunto com a Susep (Superintendência de Seguros Privados), a criação novos produtos de previdência com o objetivo de ampliar as alternativas de investimentos para os participantes do sistema. As conversas ainda são preliminares e não há ainda subsídios para maiores detalhamentos."

Maior risco

Com mudanças ou não, o fato é que a indústria de previdência terá de se inovar para a rentabilidade não sofrer drasticamente. "Simulações que eram feitas com 6% de juros real hoje já consideram uma taxa de 3,5% ao ano", compara a diretora de Previdência e Vida Resgatável da Mapfre, Maristela Gorayb.

O caminho por maiores retornos, dizem os especialistas, é buscar mais risco, em crédito privado e renda variável. "Será preciso pensar em termos de prazo e diversificação. Os gestores terão de fazer um equilíbrio melhor entre risco e retorno, compondo as carteiras com renda variável ou mesmo crédito privado. Os papeis privados trazem retornos um pouco maiores do que os do governo", afirma o diretor-financeiro da Brasilprev, Augusto Braúna Pinheiro. Apesar de o mercado estar em baixa atualmente, no longo prazo, especialistas ainda dizem que as ações batem a rentabilidade da renda fixa.

O mercado já está se inovando para se adaptar a nova realidade. Em maio, a Porto Seguro transformou todos os seus planos em multifundos. A Mongeral também oferece estes planos. "O investidor tem em um mesmo plano várias opções de fundos, com renda fixa, com parte em renda variável, várias composições. Isso te dá flexibilidade de destinar a quantia para fundos diferentes dependendo do mês da aplicação. Em um mês ele pode aplicar 100% em renda fixa, em outro destinar uma parte para um fundo com ações", diz o superintendente de Vida & Previdência da Porto Seguro, Silas Kasahaya.

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"É uma questão cultural. O brasileiro é mais conservador, prefere planos de renda fixa. As empresas terão de investir em gestão e educação financeira para agregar mais valor às carteiras", diz Kasahaya. Os planos de previdência renda fixa representam 93% do patrimônio total do setor, segundo dados da Anbima.

Na escolha do produto há algumas dicas. "Sugiro que o investidor que for para renda variável escolha planos em que o gestor não fique travado em somente um porcentual, como 20%, 30% ou 40%. Existem fundos que mudam o porcentual da carteira conforme o momento do mercado, aproveitando as melhores oportunidades", diz o consultor Sílvio Paixão.

Nunca ficou tão evidente que a taxa de juros real para quem aplica no longo prazo vai fazer a diferença em termos de acumulação, conforme Paixão. Para ter no resgate o mesmo valor que havia sido planejado no passado será preciso poupar mais. Ele calcula que, para o prazo de 10 anos, para cada perda de 1 ponto porcentual de juro real será preciso acrescentar 5% no valor aplicado todo mês. Se o investimento for para ser resgatado em 15 anos, para cada perda de 1 p.p., é necessário aumentar a quantia em 10%.

Apesar do desafio do setor, a previdência continua em ritmo de crescimento de captação. Como é vista como uma alternativa a poupança, cujas as regras foram alteradas em maio, houve mais investimentos no produto. Em maio, a previdência registrou a maior captação líquida da indústria de fundos, de R$ 3,9 bilhões. "Com inflação controlada e estabilidade da economia, o brasileiro vem mostrando que ele tem mais confiança para poupar para o longo prazo", afirma Maristela.

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