Investidor corre para o Tesouro para escapar da inflação e ganhar com juro

Com salto de 72% no número de participantes, o Tesouro Direto ultrapassou a Bolsa em 2015 e segue como uma das principais apostas de 2016

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Por Natália Cacioli
5 min de leitura

SÃO PAULO - Em tempos de inflação alta, os brasileiros têm buscado alternativas para proteger o patrimônio. Em 2015, o Tesouro Direto foi a menina dos olhos de muitos investidores, que aliaram a segurança da renda fixa à boa rentabilidade dos títulos públicos. Como a elevação dos preços não dá sinal de trégua, a taxa básica de juros (Selic) deve permanecer elevada em 2016 e os rendimentos dos títulos, consequentemente, vão continuar atrativos.

O número de investidores ativos no Tesouro Direto deu um salto de 72% entre outubro de 2015 e o mesmo mês do ano passado, enquanto o estoque total alcançou R$ 22,9 bilhões, um aumento de 57,7%. A quantidade de participantes ultrapassou, inclusive, o número de investidores da Bolsa, com 587,3 mil pessoas. Foi a primeira que isso aconteceu desde a criação do produto, em 2002.

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Planejamento. O advogado Guilherme Lippi perdeu dinheiro na primeira compra do Tesouro porque não escolheu o título adequado para os seus planos Foto: O advogado Guilherme Lippi perdeu dinheiro na primeira compra do Tesouro porque não escolheu o título adequado para os seus planos (Werther Santana/Estadão)

“Vai ser difícil encontrar outro investimento que bata o juro de 14%. Não é impossível, mas em outros ativos, como Bolsa e câmbio, há o fator risco”, diz o diretor da Easynvest Amerson Magalhães.  A rentabilidade chama a atenção principalmente se comparada à da caderneta de poupança, que vai perder para a inflação pela primeira vez em treze anos.

Segundo cálculos da consultoria Economatica, o ganho anual da poupança está em 7,95%, ante uma inflação de 10,48%. O cenário para 2016 também não é animador: economistas consultados pelo Banco Central estimam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 6,86%, acima do teto da meta do governo, de 6,5%. 

Mas apesar do crescimento exuberante nesse ano, a quantidade de investidores nos títulos públicos ainda perde com folga para a poupança, que tem 137 milhões de clientes. Desses, 70% investem até R$ 500. Por isso mesmo, o governo ainda vê potencial de expansão. “Há muito espaço a ser conquistado”, diz Débora Araújo, analista de Finanças e Controle do Tesouro, acrescentando que o investimento mínimo é de apenas R$ 30.

Para ajudar nessa popularização, o Tesouro simplificou o nome dos títulos e deu maior liquidez ao produto, que agora pode ser vendido a qualquer momento. Segundo Débora, o governo prepara novas ações para o início de 2016, como um simulador que compara os títulos com outros produtos financeiros. 

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Estratégias. Para escolher qual título comprar, não existe fórmula mágica. A resposta depende dos objetivos do investidor. Mas diante das incertezas política e econômica, especialistas indicam títulos com prazo mais curto. “Está muito difícil fazer prognóstico para 2016”, diz Alexandre Fernandes, diretor de crédito da Rio Bravo. 

O risco do Tesouro Direto é mínimo, porque é soberano, ou seja, o investidor só deixa de receber se o País der calote, o que é muito improvável. No entanto, há o chamado risco de mercado: se o cliente resgata o valor da aplicação antes do vencimento, o título será vendido de acordo com a taxa do dia, e isso pode levar a uma perda. Logo, o ideal é segurar até o final do prazo. 

A primeira experiência do advogado Guilherme Lippi, de 29 anos, não foi das melhores. Em 2013, ele comprou títulos indexados à inflação com vencimento em 2035. “Comprei por impulso, sem pesquisar nada. Precisei vender antes do prazo e perdi dinheiro”, conta.

Segundo dados do Tesouro, 59,7% dos títulos vendidos são indexados à inflação e 53,8% deles têm prazo entre um e cinco anos. Na corretora Rico, que viu o número de clientes do Tesouro Direto aumentar 84% em 2015, os títulos que protegem da alta dos preços também são os mais procurados. O analista Roberto Indech, no entanto, atenta para os objetivos do investidor: “Se é um investimento de curto prazo, de até dois anos, indicamos o Tesouro Selic. Para médio prazo, o Tesouro IPCA é interessante, pois paga a inflação no período mais uma taxa prefixada”, explica.

O Tesouro Selic é considerado o título mais conservador, pois é reajustado diariamente pela Selic. Por outro lado, os títulos prefixados e os indexados à inflação (Tesouro IPCA) costumam render mais, mas podem perder valor se a taxa de juros subir e o dinheiro for resgatado antes do vencimento. 

O analista de sistemas André Spinalli Schiavoni, de 27 anos, começou a comprar títulos no segundo semestre de 2015 por indicação de colegas do trabalho. Ele optou pelo mais conservador. “Pretendo comprar um carro logo, então escolhi o Tesouro Selic, que me paga a taxa de juros e não corro o risco de perder dinheiro se fizer o resgate antes do vencimento”.

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Indicação. O analista de sistemas André Spinalli Schiavoni investe no Tesouro há apenas 4 meses Foto: O analista de sistemas André Spinalli Schiavoni investe no Tesouro há apenas 4 meses (Sérgio Castro/Estadão)

Letras de crédito e CDB também atraentes. O Tesouro Direto tem a vantagem do baixo custo, uma vez que não é preciso pagar taxas de administração ou performance, comuns na indústria de fundos. Por outro lado, há incidência de Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos, o que não ocorre na poupança e em outros produtos da renda fixa. As alíquotas vão de 22,5%, para aplicações de até 180 dias, a 15%, para prazos superiores a 720 dias.

Outras opções interessantes são a LCI e a LCA – títulos privados lastreados por empréstimos imobiliários e agrícolas, respectivamente. Além da isenção de IR, as letras de crédito são garantidas em até R$ 250 mil pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), assim como a poupança. É preciso ficar atento, no entanto, à liquidez: diferentemente do Tesouro Direto, as letras geralmente só podem ser resgatadas na data do vencimento.

“Para investidor de curto prazo, até um ano, recomendamos LCI e LCA, que variam de acordo com a taxa de juros e são garantidos pelo FGC”, diz Roberto Indech, analista da corretora Rico.

Uma segunda alternativa dentro da renda fixa são os Certificados de Depósito Bancário (CDB), uma espécie de empréstimo que o investidor faz ao banco em troca de rentabilidade diária. O retorno no tipo mais comum de CDB, que é o pós-fixado, é atrelado ao CDI, uma taxa de referência muito próxima à Selic. Instituições de pequeno e médio portes pagam mais. Os investimentos também são protegidos pelo FGC e a liquidez varia de banco para banco, mas quanto mais tempo o dinheiro fica investido, maior é o retorno. Não há taxa de administração, mas os ganhos são tributados.

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