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Poupança ‘antiga’ rende 6,17% e bate outros investimentos conservadores

Aplicações anteriores a 2012 na caderneta têm rentabilidade maior que CDIs; queda da Selic deve acentuar diferença

Por Renato Jakitas
Atualização:

Em um mundo com Tesouro Direto, CDB, LCA, LCI, CRA, CRI e toda essa sopa de letrinhas, a concorrência ficou dura para a “vovozinha” dos investimentos conservadores, a caderneta de poupança. Para quem tem dinheiro aplicado na poupança e ainda está sujeito às regras antigas do investimento – que mudaram há pouco mais de sete anos –, o produto está ficando cada vez mais atraente nesse momento de cortes na Selic, a taxa básica de juros.

A caderneta de poupança “velha” vale para quem mantém o dinheiro aplicado desde antes de 3 de maio de 2012, quando passaram a valer as novas regras de rentabilidade. A mudança entrou em vigor para proteger os demais títulos e fundos, como o Tesouro Direto, todos indexados à Selic. 

Em abril, os aportes na poupança somaram R$ 267,073 bilhões, enquanto os saques foram de R$ 263,233 bilhões Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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A poupança até então trilhava caminho próprio, com margem fixa de 0,5% ao mês, acrescida da Taxa Referencial (TR). Após as mudanças, todas as vezes que os juros básicos caíssem abaixo de 8,5% ao ano, o retorno ficaria em 70% da Selic, mais TR.  Para se ter uma ideia do que é ter uma poupança velha na cesta de investimentos, a variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) dos últimos 12 meses foi de 6,19%. Já essa caderneta 6,17% no mesmo período. 

Na comparação com as opções de renda fixa, ela paga o equivalente a um CDB com retorno líquido de 120% de CDI. A reportagem pesquisou os CDBs à venda na plataforma do Yubb, que busca e compara produtos, e não achou nenhuma opção parecida. No site do Tesouro Direto, quem se aproxima é o IPCA + 2045, que hoje rende 6,2% ao ano, mas é preciso descontar 15% de IR no saque (leia mais na coluna de Fábio Gallo).

“Não existe em lugar nenhum um produto melhor do que a poupança velha, nem no mercado nem aqui, no banco”, afirma o diretor de investimentos do Itaú Unibanco, Cláudio Sanches. “Quem tem essa poupança, não deve se desfazer desse dinheiro”, afirma.O Banco Central (BC) não informa quanto de dinheiro está hoje aplicado na poupança velha. Sanches, contudo, estima que a proporção gire em torno de 20%, ou cerca de R$ 165,4 bilhões. O saldo total da poupança hoje é de R$ 827 bilhões.

Para os especialistas, quem tem esse investimento sabe de seu potencial e não mexe nos recursos. “Aqui no Itaú, dos R$ 125 bilhões administrados da poupança, R$ 20 bilhões são de caderneta velha. São pessoas mais velhas, às vezes com valores altos. Eles não sacam esse dinheiro”, diz Sanches. 

O advogado Fábio Hastenteufe, de Venâncio Aires (RS), tem 33 anos e é dono de uma dessas cadernetas antigas. Ele começou a poupança aos 4 anos, como presente dos pais. Sabe que todo e qualquer dinheiro que tirar de lá não terá o mesmo ganho na renda fixa. “Não quero colocar minha mão nesse dinheiro. É uma grande vantagem hoje em dia”, diz.

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Caso Hastenteufe tivesse sacado o aplicação para realocar o valor em um CDB de 100% de CDI logo em 2012, hoje teria um retorno acumulado de 84,1% em juros compostos. Com a poupança, essa rentabilidade é de 65,04%. 

No entanto, o planejador financeiro José Raymundo de Faria Júnior, da Planejar, diz que isso não vem ao caso. “Daqui pra frente a Selic vai cair mais, pode chegar a 4%, e a diferença da poupança velha para os outros produtos crescerá ainda mais.”

Investimento ‘pop’

Atualmente, a poupança nova, que é a caderneta aberta a todos os investidores atualmente, rende 3,85% ao ano, ou pouco mais do que a inflação, que está na casa dos 3,42% ao ano, segundo o último Boletim Focus do BC. A tendência é de queda constante nesse índice, já que se espera um novo corte da Selic no dia 30 de outubro. 

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“Como produto, existem atualmente no mercado, opções mais sofisticadas, tão seguras quanto a caderneta, que exigem um investimento inicial pequeno, mas que buscam uma rentabilidade melhor, e possuem liquidez imediata”, afirma a professora de economia da ESPM Paula Sauer. 

A professora, no entanto, pondera para a importância da caderneta como porta de entrada para o universo dos investimentos. Segundo a Anbima, 8 entre 10 investidores são adeptos da poupança. “A caderneta, como ‘avó’ dos investimentos, criou em muitos brasileiros o bom hábito de poupar. Em outras palavras: deixar de consumir para guardar dinheiro.”

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