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1 em 3 trabalhadores com menos de 40 anos pensou em mudar de carreira

Crise fez profissionais repensarem atuação no mercado a partir da compreensão de que a vida é curta e é hora de realizar mudanças, mostra pesquisa nos EUA

Por Heather Long e Scott Clement
Atualização:

Quando Orlando Saenz foi demitido no final de janeiro, ficou devastado. Durante quase uma década ele trabalhou como assistente executivo num escritório de advocacia em Austin e foi difícil pensar no que faria no futuro. Mas então uma ideia lhe ocorreu: sua demissão era o empurrão que ele precisava para finalmente terminar seu curso e buscar uma carreira melhor.

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Alguns dias depois, Saenz, de 40 anos, matriculou-se numa faculdade comunitária. O plano era conseguir uma licença para atuar como paralegal. O auxílio desemprego deu a ele uma reserva para “tratar a escola como meu trabalho por alguns meses”, disse ele. “Se você sai da pandemia igual ao que era antes, então perdeu uma oportunidade de evoluir e crescer como pessoa. Eu entendi que precisava ser melhor”, disse ele.

Saenz não é o único. Um em cada três trabalhadores americanos com menos de 40 anos pensou em mudar de ocupação ou campo de trabalho desde o início da pandemia, de acordo com uma pesquisa feita pela Post-Schar School, nos Estados Unidos, entre 6 e 21 de julho. Um em cada cinco trabalhadores considerou mudar de profissão, sinal de que a pandemia foi um momento decisivo para muitos, mesmo no caso daqueles que não contraíram o coronavírus.

Muitas pessoas disseram ao The Post que a pandemia mudou seu modo de pensar quanto ao que é importante na sua vida e em sua carreira. Ela deu a eles uma compreensão maior de que a vida é curta e chegou a hora de realizar as mudanças que sempre sonharam fazer. O resultado é uma reavaliação da sua atividade profissional.

O que vem ocorrendo é um número recorde de americanos que deixaram seu emprego, um grande aumento de pedidos de aposentadoria e pessoas abrindo novas empresas.

Com a pandemia, profissionais repensaram jornadas e flexibilidade com horáriode trabalho, além daexigência do trabalho presencial. Foto: Christina@Wocintechchat/Unsplash

Alguns, como Saenz, procuram uma carreira mais relevante ou com salário mais alto, ao passo que outros querem mudar para algum lugar que lhes permita ter um estilo de vida diferente. Desde o início da pandemia, 28% dos adultos americanos disseram ter pensado seriamente em mudar para uma outra localidade, de acordo com a pesquisa feita, e 17% afirmam que já se mudaram, temporária ou permanentemente. Adultos com menos de 40 anos de idade são os mais propensos a pensar numa mudança ou já mudaram de cidade.

Em algumas regiões do país com acesso fácil a caminhadas e atividades ao ar livre, os preços dos imóveis estão disparando. Austin, Boise, Idaho, Spokane, Wash; um subúrbio de Phoenix chamado Sunrise viu o maior salto nos preços. Nessas cidades, o custo de vida é mais barato do que nas cidades da costa e são lugares onde é possível ter uma vida mais ativa fisicamente.

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Saenz disse que ele e sua mulher, que é professora, também pensaram em deixar o centro urbano de Austin e ir para o interior, para terem uma vida mais calma e a chance de pescar mais. Quase a metade dos adultos disse ser “extremamente” ou “muito” importante ter mais facilidade para fazer caminhadas, pescar e acampar, um aumento de 39% em comparação com a pesquisa feita em 2019 pela Chicago Harris School of Public Policy, a Associated Press e a Norc.

Mudança de ares

Viktoria Pavic, 25 anos, teve uma reação oposta durante a pandemia: ela desejava morar num grande centro urbano e viu uma chance de realizar esse sonho. Ela se mudou de Poughkeepsie, Nova York, para o Brooklyn, aproveitando a queda dos preços dos aluguéis quando muitos jovens deixaram temporariamente a cidade.

“Antes da pandemia eu já planejava mudar e viajar mais. Queria viver minha vida o mais plenamente possível. A pandemia reduziu muito o trabalho, mas pelo menos consegui me mudar para o Brooklyn. Você não pode deixar sua vida em suspenso para sempre”.

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Pavic trabalha como hostess num restaurante, mas diz que teve muito tempo para pensar sobre o seu futuro. Começou a investir durante a pandemia e pretende mudar de trabalho, para uma empresa ou uma instituição sem fins lucrativos. “Espero um dia fundar uma empresa sem fins lucrativos, algo onde consiga fazer mais pela minha comunidade”.

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Os pedidos de abertura de novas empresas explodiram em 2020 e 2021, mostram dados do censo, por pessoas que foram demitidas ou querem mudar de vida. Em maio, a proporção de empregados pedindo demissão chegou ao seu mais alto patamar de acordo com registros do Departamento do Trabalho, mais um sinal de que os trabalhadores americanos estão repensando o que desejam fazer em suas carreiras e estão confiantes de que conseguirão encontrar alguma coisa. Trabalhadores do setor de varejo têm se demitido bastante este ano; o número de pessoas saindo do setor varejista teve um aumento recorde em junho.

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Os recrutadores dizem que o que mais ouvem das pessoas é que desejam mais flexibilidade. Os trabalhadores também hesitam em retornar ao trabalho em alguns setores, como o varejista, restauração e de manufatura, que exigem horários fixos e trabalho presencial, com frequência em horários fora do habitual.

Ver mais os filhos

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“As pessoas querem equilibrar trabalho e vida”, disse Angela Muhwezi-Hall, cofundadora da QuickHire. “Uma mulher com quem conversei disse que trabalha num restaurante e que às vezes chega em casa às 3h da manhã e não quer mais fazer isso. Ela quer ter a oportunidade de ver os filhos, especialmente depois de um ano de pandemia. Ela quer um emprego com mais flexibilidade de horário”, disse Muhwezi-Hall.

Os Estados Unidos registraram um recorde de 10,1 milhões de novas vagas de emprego em junho. Os empregadores estão aumentando os salários, oferecendo novos benefícios como assistência psicológica e permitindo que os empregados continuem trabalhando remotamente, pelo menos uma parte do tempo, para atrair as pessoas.

De acordo com a pesquisa da Post-Schar School, uma maioria de trabalhadores - 59% - diz que quer retornar ao trabalho presencial, ou totalmente ou a maior parte do tempo, depois do fim da pandemia. Dois em cada dez preferem trabalhar remotamente na maior parte do tempo (10%), ou sempre (8%) e ir ao local de trabalho ocasionalmente. Homens brancos estão mais propensos a retornar ao trabalho presencial. O trabalho remoto é mais popular entre aqueles que fazem boa parte do seu trabalho usando computador ou aqueles que fizeram teletrabalho no mês passado. Os dois grupos preferem trabalhar remotamente total ou parcialmente com a maior parte do trabalho sendo feita fora de casa.

O trabalho e o estudo on-line foram difíceis para alguns. Tais Davis, de Richmond, vivia perto da faculdade quando irrompeu a pandemia. Ela planejava se formar médica, mas achou os cursos somente on-line muito mais difíceis do que o aprendizado presencial. Agora está fazendo um curso de enfermagem esperando ter no futuro um horário mais flexível e a oportunidade de trabalhar como enfermeira "por dia", atendendo diferentes clínicas médicas.

“A pandemia me ensinou que nada está garantido agora. Tudo pode mudar em questão de meses, talvez semanas”, disse Davis. “Só o fato de estabelecer meu próprio cronograma me ajudou a decidir como desejo, ou não, seguir o meu caminho”. / Tradução de Terezinha Martino

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