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Comunicação não violenta ganha espaço como tema do mercado de trabalho

Saiba o que é a CNV e confira dicas sobre a abordagem que incentiva a expressão de necessidades e passa a integrar treinamentos em empresas como C6 Bank; especialistas indicam vídeos e livros

Por Marina Dayrell
Atualização:

Se você parar para pensar nos conflitos e mal-entendidos comuns no seu ambiente de trabalho, é bem provável que chegue à conclusão de que grande parte deles ocorre durante a comunicação. Uma grosseria, uma interpretação errada, uma troca atravessada de palavras ou mesmo a conhecida “falha de comunicação” podem ser evitadas. É o que pretende a comunicação não violenta (CNV), método criado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que se tornou queridinho do mundo corporativo. 

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“As pessoas acham que a comunicação não violenta tem a ver com a questão da violência física, com xingamentos, com falar mais alto. Violência não é só isso. Podemos ser violentos de outras formas. Quando ignoramos uma pessoa, quando a deixamos sem resposta, quando a gente faz silêncio, tudo isso pode ser uma forma de violência. Então, é preciso entender a violência em sua integralidade para compreender como ela afeta o ambiente de trabalho”, explica Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade.

Afinal, o que é Comunicação Não Violenta?

A CNV é uma abordagem que propõe uma forma pacífica e conciliadora de se relacionar e se comunicar. Ela não é um jeito de amansar as pessoas ou de ser passivo, mas sim uma estratégia para deixar de lado os modos de ataque e defesa e substituí-los pela expressão de desejos e necessidades. 

A CNV possui quatro componentes: 

1. Observação: o primeiro passo é entender o que está acontecendo naquele momento. É preciso se apegar aos fatos e não às interpretações pessoais, sem julgamentos;

2. Sentimento: depois é a vez de mapear os sentimentos que aquela ação provocou na gente e nomeá-los (é medo? insegurança? raiva?). Isso ajuda a entender que a responsabilidade pelos sentimentos é da própria pessoa, sem se colocar como vítima;

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3. Necessidade: é preciso entender quais necessidades os sentimentos provocaram;

4. Pedido: o que você gostaria que as pessoas fizessem para te ajudar a atender às suas necessidades? É preciso deixar claro, com um pedido prático e específico de ação, o que se precisa da outra pessoa. 

Um exemplo prático: você está em uma reunião de trabalho para reunir ideias para um novo projeto e um dos membros da equipe está distraído no celular. Em vez de chamar a atenção dele na frente de todo mundo e dizer apenas algo como: “Fulano, presta atenção! Você não vai desligar esse celular?”, você pode chamá-lo para uma conversa e dizer: “Fulano, quando você fica no celular durante a reunião (observação da ação), eu me sinto frustrado (o seu sentimento diante da ação) porque eu preciso me sentir respeitado quando estou expondo as minhas ideias. Além disso, quando você participa com as suas contribuições, a nossa reunião fica muito mais rica (a sua necessidade naquela ação). Quando for assim, você pode deixar o celular de lado? (o seu pedido final)”.

Sócia fundadora da Tree Diversidade, Letícia Rodrigues explica que a comunicação violenta tambémestá presente quando ignoramos ou deixamos uma pessoa sem resposta. Foto: Werther Santana/Estadão

“O dia a dia profissional costuma ser corrido, cheio de mensagens, pedidos e feedbacks, então mal entendidos e interpretações sobre o comportamento dos outros são inevitáveis, o que faz com que o ambiente de trabalho possa ser facilmente intoxicado por três sentimentos muito comuns: raiva, culpa e vergonha. Quando não temos maturidade emocional para lidar com eles, o conflito escala. Mas quando estamos num ambiente em que nos sentimos seguros e sabemos como conversar sobre as coisas que nos incomodam, por menor que seja o desentendimento, a qualidade das nossas conexões com as pessoas vai mudando, explica Carolina Nalon, mediadora de conflitos e especialista em comunicação não violenta. 

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A Comunicação Não Violenta nas empresas

Embora ainda não seja comum incluir a CNV como requisito de contratação nas empresas, o tema vem sendo bastante trabalhado em workshops e treinamentos internos no mundo corporativo. 

“Sabemos que existe um caminho a ser percorrido na aprendizagem da CNV. Ele começa na autorreflexão, no entendimento de como a forma com a qual eu me comunico impacta na qualidade das minhas relações interpessoais. Por isso, sabemos que o tema precisa ser trabalhado de forma ampla. Não é um único treinamento que vai inserir a comunicação não violenta no nosso dia a dia. O trabalho tem de ser contínuo”, destaca Rafael Brazão, head de Gente e Gestão do C6 Bank, empresa que passou a dar treinamentos sobre o tema para todos os níveis hierárquicos no ano passado. 

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Ao garantir uma comunicação eficaz, a CNV ajuda a melhorar as relações interpessoais, o que contribui para as relações de trabalho, acredita Brazão.

“Com a CNV, aprendemos a saber ouvir, a gerenciar conflitos e emoções, a se expressar de forma mais segura e a criar espaço para diálogos construtivos, claros e não agressivos. Um aprendizado que ela traz é o uso de estratégias de comunicação que envolvem frases como ‘me explique exatamente o que…’ (a fim de você se situar) e ‘deixa eu ver se entendi, você quer dizer que…’ (parafraseando a mensagem). Diálogos gerados dessa forma contribuem não só para reuniões mais fluidas, mas para a construção da confiança entre líderes e liderados”.

Para Carolina Nalon, será essencial que as organizações avancem para além das palestras e treinamentos sobre o tema. “Não adianta muito, e pode até parecer contraditório, oferecer uma palestra para que os colaboradores sejam mais humanos, quando as estruturas e os processos dentro da organização não incentivam a colaboração, a empatia e a autenticidade dos colaboradores. Em resumo: pega mal oferecer uma palestra sobre empatia para colaboradores que não têm tempo nem de ir ao banheiro durante o home office ou para aqueles que voltaram ao trabalho presencial no meio da pandemia, mas não foram recebidos com os devidos cuidados por parte da empresa”.

A Comunicação Não Violenta:

Não evita o conflito, mas ajuda a lidar com ele de uma forma construtiva; Enfatiza a ideia de que não há ganhadores e perdedores em um conflito. A visão é de ganha-ganha, todos crescem com a situação; Para praticá-la, não é preciso que as duas ou mais pessoas na conversa conheçam a CNV. Basta que você decida praticá-la; É uma ferramenta de ouvir o outro, sem julgamentos, mas também a si mesmo, com autoconhecimento. 

Para ampliar o seu conhecimento sobre a Comunicação Não Violenta, o Sua Carreira pediu às especialistas entrevistadas que listassem livros, vídeos, ebook e podcast sobre o tema. Confira:

LIVROS:

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"The Empathy Factor", de Marie Myashiro (sem versão em português). Confira vídeos dela no link.

"Comunicação Não Violenta no Trabalho", de Ike Lasater e Julie Stiles (ed. Colibri).

Comunicação Não Violenta no Trabalho, de Ike Lasater e Julie Stiles (ed. Colibri). Foto: Ed. Colibri

“Como se Relacionar bem Usando a Comunicação Não Violenta", de Thomas D'Ansembourg (ed. Sextante).

"Comunicação Não Violenta: Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais", de Marshall Rosenberg (ed. Ágora).

"O Poder da Empatia: A arte de se Colocar no Lugar do Outro para Transformar o Mundo", de Roman Krznaric (ed. Zahar).

EBOOK: 

Gratuito do Instituto Tiê, no link.

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VÍDEOS:

Sobre como a CNV pode ser praticada, no link.

Workshop do especialista Marshall Rosenberg falando de CNV:

TEDx de William Ury, sobre “O Poder de Escutar”, no link.

PODCAST:

Da equipe Mamilos com o pesquisador em CNV Dominic Barter e a coordenadora do Instituto Avon Mafoane Odara: 

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