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De passagem de ônibus a cursos, empresas minimizam impacto do desemprego em candidatos

Companhias criam experiência mais humanizada para recrutamento de profissionais, além de buscar tornar seleções mais rápidas e eficazes

Por Marcos Leandro
Atualização:

Para um profissional que está desempregado, ir até uma entrevista de emprego pode não ser uma tarefa tão fácil. No início de 2020, a CatMyPet, empresa especializada em produtos para felinos, começou a observar que muitos candidatos não iam até a etapa presencial mesmo sendo aprovados em todas as outras fases. Foi então que os sócios Agnes Cristina e Diogo Petri decidiram investigar o motivo disso.

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“Lembrando dos nossos tempos de busca de emprego e das dificuldades enfrentadas por mim e pelo meu sócio, que também teve uma origem humilde, levantamos a hipótese de que era possível que as pessoas não tivessem dinheiro para ir em todas as entrevistas que elas gostariam”, conta Agnes, que lembra que já precisou ir a pé para muitos processos seletivos.

Eles fizeram um cálculo básico: se uma pessoa gasta cerca de R$ 20 com transporte público para ir e voltar de uma entrevista, e pensando que ela pudesse e quisesse fazer uma entrevista por dia, esse valor poderia chegar a quase R$ 500 por mês. Então, é possível que quem está desempregado precisa escolher em quais entrevistas ir.

Os sócios Agnes Cristina e Diogo Petri, da CatMyPet, passaram a oferecer auxílio passagem de R$20 para candidatos que forem presencialmente à entrevista. Foto: Alessandro Mesquita

 “A nossa empresa, que não é uma gigante ainda, acabava sendo desprestigiada na escolha dos candidatos. Além de deixarmos de conhecer pessoas legais, tínhamos também um impacto no tempo perdido com o processo e agendamentos que não iam para a frente.”

Com isso, eles tiveram a ideia de criar um auxílio passagem. “São R$ 20 de ajuda de custo aos que viessem até a nossa sede. Nas primeiras experiências, ficamos com medo de que algum candidato se sentisse ofendido, por isso fizemos uma cartinha explicando a ação. Colocamos o dinheiro e a cartinha dentro de um envelope e entregamos no final da entrevista. Até que um rapaz, ao receber a cartinha, começou a chorar. Disse que tinha vindo a pé e que estava muito emocionado, pois não tinha como ir embora.”

Na época, o rapaz compartilhou essa história nas redes sociais e viralizou. Ao longo de 2020, foram mais de mil profissionais contemplados com essa ajuda e a iniciativa continua. Agnes conta que cerca de 27 empresas entraram em contato e começaram a implementar o auxílio também. Além disso, a CatMyPet criou um funil para filtrar melhor os candidatos e evitar que eles tenham que fazer muitas entrevistas desnecessárias.

O profissional que tem as habilidades necessárias para a vaga, além de fit cultural e vontade de fazer parte da equipe, é direcionado para a etapa presencial, que é chamada de “reunião”. 

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“Nomeamos a nossa conversa final como reunião pois acreditamos que é menos intimidador e reflete a proposta do encontro. Temos um roteiro a seguir que visa uma conversa colaborativa, e não unilateral. Fugimos da sabatina de perguntas e das dinâmicas prontas, buscamos um papo aberto com a pessoa que fará parte do nosso time”, conta. 

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Na área de tecnologia, a dificuldade para encontrar profissionais se tornou uma oportunidade de investir nos candidatos não aprovados. A Ambev Tech, hub de inovação da Ambev, realizou entre junho e agosto deste ano o Programa Start Tech, que, desta vez, foi destinado exclusivamente a mulheres e pessoas negras. 

Eram 40 vagas e foram recebidas 40 mil inscrições. Todos tiveram retornos durante o processo, sejam positivos ou negativos, mas uma parcela dos profissionais que ficaram de fora ainda ganhou um curso gratuito.

“Por meio de uma parceria com a Gama Academy, conseguimos 10 mil bolsas de estudos para pessoas participantes do processo e que foram reprovadas, visando a formação destas em tecnologia para que outras oportunidades em tech possam se abrir no futuro”, conta Marina Travassos De Araújo, gestora de programas de atração na Ambev Tech.

Para empresas que possuem grande quantidade de vagas a serem preenchidas todos os meses, a tecnologia ganha um papel central, uma vez que ajuda a realizar contratações de forma rápida e eficiente. 

Livia Kuga, líder de atração e seleção e sócia da Stone. Foto: Luke Garcia

Os robôs conseguem fazer triagem de dados e buscar os candidatos com melhor perfil para um cargo em pouco tempo, mas não se pode deixar de lado a empatia e o cuidado na hora de lidar com as pessoas que estão atrás do currículo. Por isso, o profissional de RH tem o papel de humanizar esse processo. 

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A Stone realiza centenas de contratações mensalmente e, por isso, utiliza a tecnologia para facilitar esse processo, mas sem deixar de olhar com cuidado para todos aqueles que se inscrevem. “Nós focamos em treinar nossos líderes e recrutadores para garantir que vamos tratar todos os candidatos com o maior carinho possível, principalmente aqueles que não passam no processo”, conta Livia Kuga, líder de atração e seleção e sócia da Stone. 

Além disso, a empresa também busca oferecer transparência durante a seleção. “Sob a perspectiva do candidato, nós temos uma comunicação bem próxima, deixando o mais transparente possível para ele todas as etapas do processo seletivo e disponibilizando um e-mail para tirar dúvidas”, completa.

E a Stone consegue usar a tecnologia para estreitar os laços com os profissionais que se candidatam às vagas ofertadas e, recentemente, realizou uma pesquisa de satisfação para ouvi-los.

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