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Educação executiva forma profissionais para cargos de liderança

Desenvolvimento de carreira com foco em vagas de direção e C-level são aposta de startups e escolas; para especialista, repertório deve incluir literatura e psicanálise

Por Bianca Zanatta
Atualização:

Especializada no recrutamento para posições de liderança, a Talenses quis mapear o que os profissionais que ocupam esses cargos têm em comum. Lançada em junho, a pesquisa “O repertório da liderança” contou com a participação de 530 líderes de empresas, de gerentes a CEOs, para entender que repertório eles seguiram na carreira, entre experiências, hábitos e capacitações. A ideia era encontrar possíveis tendências de comportamento e formação.

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De fato, há semelhanças. Entre os respondentes, todos leem livros e 92% consideram importante ler especificamente livros de história para entender de onde viemos. Enquanto 41% participam de think tanks (fábricas de ideias) para também entender para onde vamos, 58% afirmam que já viajaram para fazer algum curso no exterior. Os cursos, por sinal, são outra prática identificada pela Talenses: 53% deles fazem de 1 a 3 cursos por ano, 24% fazem de 5 a 10, e 5% fazem mais de 10. Apenas 8% disseram não fazer nenhum.

Quando questionados sobre quais fatores eles acreditam que mais colaboraram para galgar o cargo atual, 66% falaram em desenvolvimento pessoal, 34% citaram a formação universitária e 33% mencionaram cursos e treinamentos de liderança. Experiências como cursos técnicos e networking tiveram menos relevância, sendo destacados por apenas 23% dos líderes.

Cientes de que o conceito de lifelong learning (educação contínua) é crucial para avançar na carreira executiva, startups de educação profissional e escolas de negócios estão apostando em programas, imersões e treinamentos para a formação de executivos.

Tiago Schulz, vice-presidente de growth e sócio da IBTech It Solutions. Foto: Dennis Natan

“São pequenos pedaços daquilo que serve naquele momento”, define Tallis Gomes, cofundador da G4 Educação ao lado de Bruno Nardon e Alfredo Soares. A edtech conta com 20 programas de formação decupados por objetivo, que já impactaram mais de 20 mil profissionais de organizações como Bank of America, Facebook, Itaú, Natura, XP e Oracle.

O empreendedor, que é também fundador da Easy Taxi e da plataformad de beleza Singu, conta que os cursos são ministrados por executivos renomados em cada tema. “É um conceito mais prático e ferramental em que só lecionam fundadores ou C-levels”, explica. “A ideia é que, em dois ou três dias de treinamento, os participantes já saiam com a aplicabilidade imediata do que aprendem.” 

Além do conteúdo altamente aplicável, a metodologia de ensino entrega ferramentas práticas em que são abordadas técnicas, frameworks e mecanismos de gestão, vendas, operações, experiência do cliente e crescimento utilizados pelas empresas mais inovadoras do mercado.

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A edtech também aposta em mentores de alto impacto, como no caso da imersão em liderança que acontece neste fim de semana em Itu (SP). Voltada para donos de empresas, líderes e gestores com ênfase em técnicas de liderança de combate, a programação terá mentoria do campeão mundial de jiu-jítsu Fabio Gurgel (também dono de rede de academias da modalidade e líder da equipe que detém o recorde histórico vitórias) e de Maurilio Nunes, ex-comandante da Tropa de Elite do Rio de Janeiro, mestre em gestão empresarial e gestão de projetos pela FGV e atual comandante do Bope.

“Imagine lidar com uma guerra urbana diária, uma corporação que tem uma dinâmica extremamente complexa e ainda conseguir liderar pessoas em meio ao conflito”, reflete Gomes. “Isso desenvolve performance mental e corporal.”

Bruno Nardon, Tallis Gomes e Alfredo Soares, cofundadores e mentores do G4 Educação. 

Para Tiago Schulz, vice-presidente de growth e sócio da IBTech It Solutions, o programa Gestão 4.0 da edtech foi um divisor de águas. Ele começou a trajetória na empresa como desenvolvedor sênior e passou pelos cargos de analista de sistemas, gerente de projetos e head de operações antes de se tornar VP, em janeiro.

“A gente precisava fazer uma reformulação grave no modelo de negócio porque a estrutura da empresa estava falha”, relata. “A G4 foi uma janela para mim. Eu trouxe todos os ensinamentos para a IBTech, fizemos a reorganização de todos os setores em um esquema muito detalhado e definido, inclusive com a criação do setor de growth, que hoje é a força motriz de crescimento da empresa.”

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Schulz, que afirma que foram sua indignação com a falta de visão de muitas empresas e o apelo da liberdade de atuação que o levaram a buscar cargos de liderança, fala que a guinada foi geral após a reorganização da casa, estimulada pelo programa: de 17 colaboradores em 2019, hoje são 47 e a empresa tem mais de 200 indústrias como clientes.

Impacto positivo na sociedade

Segundo José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios, os executivos que querem planejar uma carreira de liderança precisam fazer uma autocuradoria para determinar o que é importante aprender. “Hoje vivemos um mundo em que nada mais é previsível. Não adianta fazer um curso só para ser melhor ou melhorar a empresa. Isso é o mínimo. Tem que fazer pensando em como impactar a sociedade.”

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A escola aposta em programas para quem ocupa cargos de liderança intermediária e quer desenvolver uma visão estratégica de futuro mais apurada, além de ter cursos voltados a profissionais que já romperam essa barreira, como C-levels, presidentes e conselheiros. 

De acordo com Securato, essa é uma linha baseada em filosofia, psicanálise e neurociência que trabalha a esfera subjetiva e não cognitiva das decisões. “O processo decisório tem características irracionais e fica difícil liderar se a gente se basear só nas racionais.”

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Uma iniciativa da Saint Paul foi o lançamento, em parceria com a consultoria de recrutamento Michael Page, de uma plataforma para ampliar a qualificação profissional. “Os setores que estão puxando a economia para cima têm falta de gente capacitada. Ou seja, tem um monte de gente querendo contratar e um monte de gente com potencial enorme precisando de formação”, alerta Securato.

A jornada criada pelas duas empresas, 100% gratuita, tem o objetivo de impulsionar a qualificação dos profissionais e auxiliá-los na tomada de decisão sobre o futuro de suas carreiras diante do atual cenário de transformação do mercado de trabalho. Entre os conteúdos estão cursos de tecnologia, finanças, marketing, inovação e liderança, além de mais de 300 vagas de candidatura.

Liderança com IA

Formação para liderança é também core business da Fundação Dom Cabral, que trabalha o tema na maioria dos cursos da grade, mas há dois específicos, de curta duração: liderança transformadora, que propicia a base para executivos que lideram equipes de alto desempenho; e liderança de impacto, que promove o desenvolvimento de líderes de vanguarda, capazes de alinhar propósitos pessoais a propósitos organizacionais, explorar o potencial das equipes e sustentar resultados de excelência.

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O carro-chefe da escola, no entanto, é o Executive MBA de 18 meses, que conta com uma inteligência artificial desenvolvida pela Speck para medir a transformação dos alunos sob a ótica das características socioemocionais e capacidades de liderança, criando um score de desenvolvimento ao longo do programa. O projeto já está no ar desde 2018 e mais de 320 alunos já passaram pela plataforma.

Como se tornar um líder

Autor do livro Great Leader to Work (Primavera Editorial), Cauê Oliveira, diretor da Great Place To Work Brasil e sócio-diretor da Youleader Brasil, dá quatro dicas para executivos que pensam em se tornar líderes:

1. Querer ser

“Quando a gente fala em liderança, o ingrediente mais importante é a atitude: querer ser. A liderança vem por meio de boas práticas, sistematizar comportamentos e competências para poder se desenvolver.”

2. Repertório

“Repertório não se aprende na faculdade. Quando a gente chega cru a um cargo de liderança, a tendência é ter o líder anterior como referência - e ela pode ser negativa, o famoso ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’. As pessoas precisam ter referências positivas e para isso servem livros, cursos e treinamentos.”

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3. Pequenas atitudes

“Questões comportamentais de uma boa liderança não deixam uma herança para as pessoas, mas um legado ‘nas’ pessoas. E é mais simples do que imaginamos. Pequenas atitudes são capazes de criar excelência e memória.”

4. Maestro tem que reger a orquestra

“Se quero ser maestro, tenho que abandonar o violino. Muitos querem liderar continuando a fazer o que faziam antes, tecnicamente. Mas precisam entender que o trabalho deles agora é orquestrar a equipe.”

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