PUBLICIDADE

Publicidade

Ferramentas para promoção da saúde mental crescem no mercado de trabalho

Segurança psicológica ganha holofote da área de RH, mas empresas ainda oferecem escassos benefícios para saúde mental de funcionários; plataformas e cursos ajudam na psicoeducação

Foto do author Ludimila Honorato
Por Ludimila Honorato
Atualização:

Uma pesquisa feita pela Gupy, startup voltada para recrutamento e seleção online, em parceria com a consultoria Ideafix, mostrou que 54% dos 500 profissionais de RH ouvidos em todo o Brasil acreditam que a segurança psicológica será um dos principais indicadores de recursos humanos no futuro. Porém, um mapeamento mais recente constatou que, entre as 60 mil vagas publicadas mensalmente na plataforma, apenas 2% ofereciam benefícios para saúde mental no último semestre.

PUBLICIDADE

Os serviços mais oferecidos são de benefício ou auxílio de saúde mental (49%), horários flexíveis (26% ), benefício ou auxílio de saúde física (10%) e benefícios flexíveis para uso de acordo com preferência do colaborador (15%). Para aprimorar uma demanda crescente por soluções como essas, empresas têm investido em psicoeducação, uma técnica para ensinar de forma didática as questões da mente e os desafios emocionais vividos individualmente.

Nesse processo, é fundamental ter periodicidade e um profissional acompanhando e instruindo de perto, mesmo que virtualmente. Como aliado, plataformas online usam questionários validados cientificamente e linguagem acessível para instruir e orientar sobre alguns temas. A Health & Safe Place to Work (HSPW), por exemplo, oferece uma avaliação em quatro aspectos: mental, física, financeira e organizacional.

A ferramenta interativa permite acesso a um relatório acerca das perguntas respondidas diariamente, diagnósticos possíveis, dicas práticas e uma lista de serviços, desde psicólogo até crédito, que podem ser parceiros da empresa contratante. “Por meio desse instrumento, a gente coloca a informação na mão do ser humano”, diz Nestor Sequeiros, CEO da HSPW.

A psicoeducação não é mergulhar em livros de psicologia ou nas teorias de Freud, mas ensinar sobre as questões de saúde mental para autoidentificação de sintomas e emoções. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os empregados são questionados sobre como estão se sentindo, como percebem a realidade e a si mesmos, qualidade do sono e do trabalho. “A ideia é promover autogestão, autoconhecimento imediato, apresentar hipóteses e opções para lidar, como exercícios, vídeos e dicas.” O desafio, segundo ele, é gerar aderência do usuário da ferramenta, de modo que ele a interaja todos os dias. Até agora, porém, os resultados têm sido positivos. Ele cita que, em uma empresa, houve 60% de adesão no primeiro ciclo do programa.

Esse engajamento deve partir principalmente da liderança. Kátia Saraiva, psicóloga e consultora em gestão de pessoas, afirma que, para promover a psicoeducação, é preciso convencer gestores de que pessoas saudáveis e felizes produzem mais e melhor. “À medida que o empregador tem essa consciência, ele aceita que o processo seja implementado e todos ganham”, diz.

O psiquiatra Frederico Porto também percebe o receio de alguns gestores por não saberem lidar com a questão, principalmente se o tópico ‘suicídio’ aparecer. “Fala-se do tema, desde que abordem a saúde mental. Tem de ter humanização do trabalho, como programas de treinamento que ajude a pessoa a se conhecer melhor, do que ela gosta .”

Publicidade

Conversa e gamificação

Outra ferramenta, que será lançada no próximo dia 23, também busca instruir os colaboradores sobre saúde mental por meio de jornadas de conhecimento, com linguagem gamificada e estilo de conversa. É a Training Box, desenvolvida pela startup de aprendizagem Joco, que tem a jornalista Carol Barcellos como guia desse processo de ensinar questões como sentir medo, ter conversas difíceis e empatia. A cada jornada, ela aparece em vídeos curtos, de 30 segundos, explicando alguns conceitos e fazendo perguntas de múltipla escolha ou livre resposta.

“A gente não vai substituir o trabalho mais próximo, olho no olho.O que a gente propõe é aumentar a sensibilidade e consciência de aprender a identificar questões emocionais, criar uma onda de conhecimento”, explica Fernando Gouvea, CEO da Joco. Na sessão sobre lidar com o medo, por exemplo, é discutido que se trata de uma emoção comum a todos, que o mais adequado é observá-la e não negá-la e que diversos fatores influenciam seu surgimento e reação. Ao concluir, a pessoa pode se aprofundar no assunto por meio de materiais escritos ou audiovisuais.

“Na plataforma, tem uma área que apresenta o seu perfil, com uns insights sobre você, dicas e conteúdos complementares que tem a ver com as respostas que você deu”, ele completa. Gouvea diz que não é uma indicação para buscar ajuda psicológica, por exemplo, porque a ferramenta será usada nas empresas e, segundo ele, cabe à companhia definir a própria política sobre o assunto.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A psicóloga Kátia Saraiva reforça que esses recursos tecnológicos podem ser usados como um instrumento a mais, porém sem substituir a psicoeducação nem o serviço de apoio psicológico ao funcionário. “Um aplicativo não pode substituir o julgamento clínico, a avaliação personalizada que um profissional é capaz de fazer que se baseia não apenas nas respostas da pessoa, mas numa observação profissional, de linguagem verbal, não-verbal, histórico, contexto, que faz toda a diferença para um diagnóstico, tratamento e orientação efetivamente seguros”, afirma.

Curso forma socorristas em saúde mental

Em abril deste ano, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz lançou um curso de formação de socorristas em saúde mental para empresas. A proposta é capacitar profissionais para identificarem pessoas em situação de risco mental e emocional e uma nova turma está prevista para o começo de 2022. A primeira edição formou 140 alunos há menos de um mês.

Publicidade

“São quatro módulos. O primeiro traz uma base de conceitos em que se discute o que é saúde e saúde mental, quais são as principais doenças, sintomas de depressão e ansiedade, conceito de felicidade e bem-estar. O segundo foi sobre estratégias que podem impactar na saúde mental, como superalimentos, ambiente e estilo de vida. No terceiro, falamos de estratégias terapêuticas não medicamentosas, como mindfulness, musicoterapia e espiritualidade. O último bloco foi para empoderá-los do que fazer a partir dali, então é sobre gestão de conflitos, gestão de mudanças, estratégia antiburnout, liderança e comunicação não violenta. Por último, fizemos uma mesa de debate para discutir alguns casos clínicos”, explica Daniela Laranja, neurologista do hospital.

O time de professores inclui psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, neurologistas e profissionais ligados a temas de sustentabilidade. Com isso, é possível dar a dimensão dos diversos fatores que influenciam na saúde mental das pessoas. “Cada um recebe um selo específico no crachá que o identifica como socorrista dentro da instituição e eles são acompanhados por uma psicóloga para apoiá-los em alguma situação mais difícil ou quando se sentem abalados por algum problema emocional”, completa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.