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Gasto com educação básica eleva padrão de vida e remuneração

Estudo da FGV aponta que 1% a mais do PIB aumentaria padrão em até 26% em cinco décadas; diferença de rendimento médio entre quem não concluiu ensino fundamental e quem terminou graduação chega a R$ 4 mil

Por Douglas Gavras
Atualização:

Se o Brasil investir apenas 1% a mais, a cada ano, do seu Produto Interno Bruto (PIB) em educação básica, o padrão de vida médio da população poderá aumentar até 26% nos próximos 50 anos. Os dados são de um levantamento recente publicado por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

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“A educação é um investimento de longo prazo, cujos efeitos sociais e econômicos se tornam um patrimônio daquela sociedade. Basta olhar para os exemplos da Suécia ou da Coreia do Sul, países que evoluíram apostando no ensino”, diz um dos coautores da pesquisa, Samuel Pessôa, pesquisador sênior associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.

Os economistas observaram os efeitos dos recursos para a educação no País entre 1933 a 1985. “O investimento em capital humano por meio da oferta de educação primária não fazia parte da estratégia na época. Ao longo do século, por meio de sucessivos ciclos de democracia e autoritarismo, a negligência em relação à educação persistiu”, lembra o também coautor, Edmilson Varejão, diretor executivo da startup AI Consult.

Em valores correntes, o PIB de 2019 foi de R$ 7,3 trilhões. Para este ano, o Banco Mundial espera uma queda de 5,4%. Segundo Pessôa, considerando-se o patamar atual do Brasil, o aumento progressivo dos investimentos na educação básica poderia igualar, em três décadas, o padrão de vida brasileiro ao dos portugueses. 

“Isso é perfeitamente possível, com a universalização da educação básica. Exemplos locais, como o do Ceará, devem ser aplicados em todo o País. Dá para imaginar que, nos próximos anos, os cearenses vão ter um surto de desenvolvimento fruto da educação, que poderia estar acontecendo em outros Estados”, diz. 

Os economistas apontam, ainda, que investir na educação 2% do que o País produz por ano levaria a um aumento de quase 32% na produtividade do trabalhador. Para as empresas, a baixa qualificação média do brasileiro no mercado de trabalho e o contingente de desempregados resultante da crise causada pela covid-19 são motivos de preocupação.

Mauro Conceição e seu filho mais velho, Matheus, que se formou em Comunicação;Mauro foi o primeiro universitário da família e estimulou os três filhos nos estudos. Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão

No ano passado, o índice de bem-estar brasileiro, medido pelo PIB per capita, era de R$ 34,5 mil. Ao se considerar a produtividade, o País também vai mal. Entre 1995 e 2018, esse indicador aumentou apenas 1%, também segundo a FGV.

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Uma estimativa da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que para absorver o contingente de brasileiros desempregados e mais aqueles que devem entrar no mercado de trabalho nos próximos anos, a economia teria de crescer cerca de 3,5% ao ano até o final da próxima década. 

“Dado o atual nível de produtividade e o desempenho econômico esperado para os próximos anos, o Brasil não deve conseguir absorver todos os desempregados durante as últimas crises”, diz o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes. 

A entidade projeta que a taxa de desemprego, de 14,4% em outubro - segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE -só deve cair com a reativação da economia combinada com aumento da produtividade.

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Do ponto de vista do trabalhador, anos a mais de estudo melhoram a remuneração e as condições de trabalho. Dados da Pnad Contínua apontam que a diferença de rendimento médio com o trabalho entre quem não concluiu o ensino fundamental e quem terminou uma graduação chega a quase R$ 4 mil. 

Além disso, os trabalhadores menos instruídos foram os que mais perderam rendimentos por conta da pandemia do novo coronavírus: eles deixaram de receber de 25% a 18% entre maio e julho, segundo cálculos da consultoria IDados, a partir de dados da Pnad Covid, pesquisa que o IBGE tem feito durante os meses de pandemia.

No caso do analista de produção Mauro Conceição, de 57 anos, ter sido o primeiro da família a terminar um curso universitário fez toda a diferença. Trabalhando enquanto concluía administração de empresas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no início da década de 1990, ele viu seu padrão de vida mudar completamente. 

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“Era uma rotina pesada, tinha de conciliar o trabalho com a faculdade, mas isso rendeu muito para a nossa família. Na época, ter o ensino médio já não era um diferencial e nem impressionava os chefes. Eu tinha de me esforçar para estudar e trabalhar ao mesmo tempo ou me acostumar a ver só os colegas de trabalho conseguindo avançar na carreira”, lembra Conceição.

Foi a formação que permitiu que os filhos de Conceição pudessem concluir os estudos antes de entrar no mercado de trabalho. Seu filho mais velho, Matheus, de 24 anos, pôde estudar Comunicação em uma universidade pública e agora tenta uma vaga de trainee em grandes empresas, como o Magazine Luiza e a Ambev.

“A história da minha família é exceção, ainda mais quando se pensa em uma família negra. O meu pai ter concluído uma faculdade, há 30 anos, já foi o suficiente para mudar a minha vida e a dos meus dois irmãos. Se a gente pensar nas pessoas que conseguem entrar em uma faculdade agora, muitas por causa das cotas, dá para imaginar quantas famílias podem ser transformadas também”, diz Matheus.

 

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