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Preconceito racial dificulta inserção no mercado para 75% dos profissionais

Na contramão, 65% dizem nunca ter sofrido racismo no processo seletivo; para InfoJobs, contraste de dados pode estar no preconceito velado e no melhor preparo do RH frente à empresa

Por Marina Dayrell
Atualização:

Uma pesquisa, realizada pela plataforma de vagas InfoJobs, mostra a relação entre o racismo, muitas vezes velado, no mercado de trabalho e as dificuldades de profissionais negros em se inserir nas empresas. De acordo com os dados obtidos, 65% dos respondentes que se autodeclaram negros afirmaram que nunca sofreram preconceito racial durante os processos seletivos. No entanto, um outro dado obtido pelo levantamento contrasta com a informação: quando perguntados se a questão racial dificulta a colocação no mercado de trabalho, 75% disseram que ‘sim’ ou ‘às vezes’.

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Outros dados revelados pela pesquisa reforçam os obstáculos que pessoas negras enfrentam no mercado de trabalho. Para 73% dos respondentes, pessoas negras não possuem as mesmas chances que outros profissionais. Para 85%, ainda que uma pessoa negra seja extremamente qualificada para uma posição, ela irá enfrentar dificuldades para conquistar uma vaga, quando comparada a um candidato branco. 

Segundo o InfoJobs, os dados revelam o preconceito racial que existe no mercado de trabalho, mas que, muitas vezes, é difícil de ser identificado. 

"Além da dificuldade em identificar de fato o que é uma forma de preconceito, já que muitas vezes o racismo pode ser velado - como por exemplo em um olhar ou uma forma de falar com diferentes candidatos - existe o fato de que talvez em algumas organizações o RH não expresse racismo durante o processo seletivo, mas ainda assim a questão racial seja um fator que dificulta a colocação profissional", explica Jefferson Silva, coordenador comercial do InfoJobs.

Para 75% dos profissionais consultados, o preconceitoracial dificulta a colocação no mercado de trabalho. Foto: Nappy

Entre essas dificuldades estão, por exemplo, as diferenças salariais, ainda que sejam proibidas por lei. Segundo um levantamento realizado pelo Insper, em 2020, um homem branco chegou a ganhar mais que o dobro do que as mulheres negras para executar o mesmo trabalho. 

Outro obstáculo é a inserção de profissionais negros apenas nos cargos de entrada das empresas, sem possibilidade real de ascenção à liderança. De acordo com a pesquisa, 86% dos entrevistados acreditam que exista dentro das empresas preconceitos velados ou não, que atuam como barreira que impede o crescimento profissional de pessoas negras. Entre não-negros, 67% acredita que exista preconceito velado nas empresas contra profissionais negros. 

Dificuldade para denunciar preconceito racial

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O levantamento também perguntou sobre as experiências vividas dentro das empresas. 39% dos respondentes afirmaram já ter sofrido preconceito racial no trabalho. Quando perguntados sobre o que fizeram após o episódio, 61% disse que omitiu a situação, por receio de denunciar, 18% confrontrou a pessoa que cometeu a discriminação, 11% reportou aos superiores e apenas 10% compartilhou com o RH. 

O medo de denunciar a discriminação racial sofrida no trabalho pode ser explicado pelos dados da pesquisa. Em 48% dos casos, quem cometeu a discriminação foi alguém que ocupa uma posição superior na empresa. Embora, quando se trata de atos de racismo, toda a hierarquia da organização pode estar envolvida: 28% dos casos foram cometidos por pares e 23% por subordinados. 

A pesquisa foi feita em janeiro, com 1.567 profissionais, sendo 71% deles negros, 27% brancos, 1% amarelo e 1% indígena. Entre os respondentes, 72% estão desempregados. Entre os que estão empregados, 56% possui cargos mais baixos, como auxiliar e assistente, seguidos por analistas, com 13%. Diretores e gerentes são apenas 1% e 3%, respectivamente. 

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