Profissionais de diversidade têm formações variadas, de humanas a exatas

Identificação pessoal com o tema é característica comum a quem atua na área; capacidade de negociação e resiliência são valorizados em candidatos a vagas

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Por Marina Dayrell
Atualização:
4 min de leitura

A área de diversidade e inclusão ainda é muito recente no mercado brasileiro, então não há uma formação específica para esses profissionais. Ainda que não seja uma regra, geralmente quem atua no setor possui graduação e experiência em áreas como Comunicação, Recursos Humanos, Psicologia, Gestão de Pessoas e até Administração. 

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“Essa talvez seja uma das poucas posições em que não se olha só o currículo do candidato. Não estamos avaliando a escola que frequentou, se tem um MBA, uma formação acadêmica específica. É importante olhar na prática o que a pessoa já conseguiu alcançar por onde passou. O peso da formação acadêmica e das empresas anteriores é bem menor em relação aos projetos e à capacidade de implementar mudanças para virar chaves importantes dentro de uma organização que a pessoa liderou”, explica Francine Graci, diretora de career experience do Twitter para América Latina e Canadá, e que é graduada em Administração e Direito.

Mais do que uma formação técnica específica, quem já está no mercado trabalhando com diversidade e inclusão diz que o principal requisito para o profissional que deseja construir uma carreira na área é a identificação com o tema

“São profissionais engajados com as causas, com visão do todo, capacidade de influência e principalmente de escuta, de trabalho em time e em rede. Abertura, flexibilidade e aprendizagem contínua são também essenciais”, pontua Milena Buosi, gerente de diversidade e inclusão da Natura &Co na América Latina. 

Milena é formada em Comunicação Social e se especializou em Neurociência. Na equipe que chefia na Natura &CO, os profissionais vêm de áreas correlatas à dela ou da Psicologia e da Administração.

Isabella De Avila compõe o núcledo de diversidade e inclusão da startup Distrito, ao lado de outras três pessoas. Foto: Arquivo pessoal

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“É preciso ter uma conexão pessoal com o tema, de entender de fato o porquê dessa agenda e o papel da empresa na construção de uma sociedade mais equitativa. Talvez, o mais importante para o profissional que atua com D&I seja a vontade de transformar a sociedade”, opina Renato Amendola, gerente de diversidade, inclusão e equidade do Grupo Boticário.

Renato é formado em Jornalismo e, na sua equipe de D&I, há profissionais das áreas de Engenharia Mecânica, Publicidade, Engenharia Ambiental e Relações Públicas.

Autoidentificação

Um dos pontos levantados pelos especialistas em D&I é que pertencer a, pelo menos, algum dos vários grupos minorizados (como mulheres, negros, LGBTI+, pessoas com deficiência, 50+ e refugiados) ajuda na hora de trabalhar com o tema nas empresas.

“A minha vida inteira foi regada a diversidade e inclusão. Eu sou uma mulher transsexual, então a minha experiência de vida já uma capacitação. Uma pessoa que vive essa diversidade já tem mais facilidade e vai ser mais assertiva em lidar com o tema do que uma pessoa que não vive, porque não é apenas uma questão gerencial”, explica Isabella De Avila, que é graduada em Rádio e TV e, ao lado de outras três pessoas, é analista de comunicação interna com foco em D&I na Distrito, plataforma de transformação digital. 

Para Amanda Ferreira, gerente e embaixadora de diversidade e inclusão na Via Varejo, a autoidentificação com o tema foi ainda mais forte do que a sua formação técnica em Administração e Planejamento Financeiro.

Para Robert Sena, responsável pela área de D&I na startup Escale, a vontade de questionar o que está posto é característica principal do time de três pessoas. Foto: Arquivo Pessoal

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“Como mulher negra, eu sempre estive, em toda a minha formação, ligada aos movimentos sociais e de direitos humanos. A minha primeira formação acadêmica foi baseada no que eu tinha naquele momento. Eu me formei em Administração, trabalhei na área de finanças e fiz pós. Até que chegou um momento em que eu senti que eu precisava juntar o que eu acredito como valor, e que já faço na vida pessoal, com a minha vida profissional, já que eu passo a maior parte do meu tempo trabalhando.”

Amanda já era funcionária da Fundação Casas Bahia, com um cargo em finanças, quando fez a transição de carreira para a área de D&I. Hoje, trabalha ao lado de uma outra profissional, formada em Marketing.

Resiliência: a soft skill da vez

Assunto essencial nas discussões sobre mercado de trabalho, as soft skills também aparecem como grandes requisitos para os profissionais de diversidade e inclusão. Todos os especialistas entrevistados apontaram a resiliência como uma característica imprescindível para as contratações nessa área. 

“O meu conselho é ter resiliência, porque é um assunto que tem dia em que a gente vai receber um ‘sim’ e em outros ‘não’, porque ainda é necessário alcançar uma maturidade para o ‘sim’. O que muda é que, no dia seguinte, precisa ir novamente, não desistir, falar porque o assunto é importante, qual é o impacto dele tanto para a companhia quanto para sociedade”, aponta Amanda.

Renato concorda: “Pode ser piegas, mas é preciso saber lidar com frustração, porque o processo de mudança é lento, e celebrar as pequenas vitórias é uma característica importante. Ter essa persistência é fundamental, levantar a cabeça e tentar de novo.”

“Nossa equipe é muito inconformada. Tomamos a responsabilidade de ter uma mudança social, pelo menos na microrealidade que a gente vive. Essa é a nossa liga. Vontade de questionar o que está posto, a gente questiona, mas também é propositivo”, conta Robert Sena, responsável pela área de D&I na startup Escale.

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Ao seu lado, trabalham mais duas profissionais, uma possui doutorado em gênero e a outra é pré-vestibulanda. Todos os três fazem parte de grupos minorizados.

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